“Falava muito que me amava”, diz mãe de menino picado por escorpião
Christian Souza de Jesus, de 4 anos, morreu após ser atacado pelo animal enquanto dormia em sua casa, no Distrito Federal
atualizado
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A família de Christian Souza de Jesus, de 4 anos, morto após ser picado por um escorpião enquanto dormia, na QNF 20 de Taguatinga, pretende se mudar do local. Pai do garoto, o serralheiro Juliano da Silva Alecrim da Silva, 32 anos, disse que a antiga ideia ganhou força após o incidente. “O sentimento pelo meu filho é de tristeza e a preocupação pelos outros é grande. A gente dorme achando que vai ser picado também”, contou ao Metrópoles, nesta segunda-feira (01/07/2019).
Juliano e Lorraine Silva de Jesus, 32, são pais de mais quatro crianças, uma de 10 meses de idade e as outras com 3, 6, e 11 anos. A mãe se revolta com a situação da região onde mora, que sofre com a infestação. “O governo só vem quando alguém morre. Estamos fazendo denúncia já faz tempo e não arrumaram nada”, reclamou.
Eles contaram que as aparições são recorrentes na região. Quando morava na rua ao lado, o próprio pai foi picado. “Só nos últimos seis meses, achei aqui uns 20 escorpiões”, revelou Juliano, enquanto segurava um pote com vários deles. “Todo mundo na vizinhança já teve caso. A gente quer sair para um lugar que não tenha esse problema”, completou.
Segundo os pais, Christian foi dormir na última sexta-feira (28/06/2019), a noite do incidente, com a irmã de 11 anos. “É um quarto em que meus filhos dormiam em beliche, sempre mudando de lugar. Na hora, a mais velha estava junto dele. Foi sorte de não pegar os dois”, contou Juliano.
De acordo com a mãe de Lorraine, Luciene Maria, 46, a picada ocorreu logo depois de todos da casa irem dormir. “Foi por volta de 12h50 que deitamos. Não deu nem 10 minutos e o menino acordou chorando”, relatou a avó. Apesar de ter sido levado rapidamente ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT) e prontamente medicado, o menino faleceu no mesmo dia, por volta das 17h40.
Luciene destacou que, a princípio, a família achou que a dor da criança era em decorrência de uma vacina que havia sido aplicada no início da semana. “Ele apontava para a perna onde tomou a injeção, mas falava ‘escopião!’. Aí, que meu genro virou o cobertor e a gente achou o bicho.”
No hospital, Lorraine disse que o estado de saúde de Christian foi piorando aos poucos. “A quantidade de veneno que ele recebeu foi muito grande. Inchou as mãos e as pernas, teve hipotermia. Às vezes ele ficava se debatendo e delirando. Era horrível”, relembrou a mãe. A criança começou a piorar muito a partir do meio-dia de sexta (28/06/2019). Ao todo, segundo Luciene, foram 15 paradas cardíacas. Ele morreu às 16h50 do mesmo dia.
O que resta agora são as lembranças do filho que, de acordo com Lorraine, não cansava de ser amoroso.”Me beijava e falava muito que me amava. Era uma coisa que eu também dizia sempre a ele”, desabafou. “O Christian ajudava em tudo. Até na creche ele guardava os brinquedos. Eu falava que ele nunca iria me dar trabalho na vida.”
Inspeção
A Vigilância Ambiental fez, nesta segunda-feira (01/07/2019), uma busca ativa por escorpiões em um raio de 300 metros da casa da família. Os agentes bateram de casa em casa e procuraram possível locais em que mais animais estivessem escondidos. Segundo os fiscais, em abril, eles fizeram o chamado “manejo ambiental” na quadra. Isso significa que pediram aos moradores que colocassem todos os entulhos do lado de fora das casas para que o Serviço de Limpeza Urbana (SLU) recolhesse tudo.
Escorpião
De janeiro a março deste ano, 344 pessoas foram picadas por escorpião no DF. No mesmo período do ano passado, o número de registros ficou em 261 casos. A Secretaria de Saúde atualiza esses dados a cada três meses.
A Secretaria de Saúde do DF informa que vítima de animal peçonhento deve procurar hospitais de emergência ou Unidade de Pronto Atendimento (UPA). O Centro de Informações Toxicológicas está disponível para dar as primeiras orientações (Telefone: 0800 644-6774).
Saiba o que fazer
A picada de escorpião causa sintomas como vermelhidão, inchaço e dor no local. Algumas situações, no entanto, podem ser mais graves, provocando enjoos, vômitos, dor de cabeça, espasmos musculares e queda da pressão, havendo até risco de morte.
Os primeiros socorros são: lavar a área com água e sabão, manter o local da picada voltado para cima, não furar ou apertar a ferida e beber bastante água. Os profissionais de saúde recomendam que a pessoa procure o pronto-socorro mais próximo, principalmente em relação a mordidas dos tipos mais perigosos, como o escorpião amarelo, o marrom e o preto. A gravidade dos casos depende de quanto veneno foi injetado e como está a imunidade da pessoa.
As picadas desses animais são responsáveis por mais mortes no Brasil do que as mordidas de cobra. Encontrados em áreas urbanas, os escorpiões se reproduzem com facilidade e costumam se abrigar em pedras, entulhos, lenhas, materiais de construção, encanamentos, dentro de calçados e roupas, no interior das casas e em seus arredores.
Para aliviar a dor e a inflamação no local da picada, recomenda-se a aplicação de compressas com água morna e o uso de analgésicos ou de anti-inflamatórios, como dipirona ou ibuprofeno, receitados pelo médico. Em pacientes com sintomas mais graves, é necessário o uso do soro antiescorpiônico. Nesses casos, também é feita a hidratação com soro fisiológico na veia e observação por algumas horas.
Prevenção
Na área externa do domicílio:
- Manter limpos quintais e jardins, não acumular folhas secas e lixo domiciliar;
- Acondicionar lixo domiciliar em sacos plásticos ou outros recipientes apropriados e fechados e entregá-los para o serviço de coleta;
- Eliminar baratas, aranhas, grilos e outros pequenos animais invertebrados, fontes de alimento;
- Evitar entulhos de obras de construção civil e terraplanagens, superfícies sem revestimento, umidade, etc;
- Preservar os inimigos naturais, aves, pequenos macacos, quatis, lagartos, sapos e gansos (as galinhas não são agentes controladores eficazes dos escorpiões, pois possuem hábitos diurnos enquanto os escorpiões são noturnos);
- Evitar queimadas em terrenos baldios, para impossibilitar o desalojamento;
- Remover folhagens, arbustos e trepadeiras junto a paredes externas e muros;
- Manter fossas sépticas bem vedadas, para evitar a passagem de baratas e escorpiões;
- Rebocar todas as paredes e muros, eliminando vãos ou frestas.
Na área interna do domicílio:
- Vedar soleiras de portas com rolos de areia ou rodos de borracha;
- Reparar rodapés soltos e colocar telas nas janelas;
- Telar as aberturas de ralos, pias e tanques;
- Telar aberturas de ventilação de porões e manter assoalhos calafetados;
- Manter berços e camas afastados, no mínimo, 10 cm das paredes e evitar que mosquiteiros e roupas de cama permaneçam em contato com o chão;
- Manter todos os pontos de energia e telefone devidamente vedados;
- Em local muito arborizado, fechar portas e janelas da residência ao entardecer;
- Manter fechados armários e gavetas;
- Examinar roupas e calçados antes de usá-los, principalmente quando tenham ficado expostos ou espalhados pelo chão.