Exército ordenou que policiais “não tocassem em barracas” no QG, diz coronel da PM a CPI
Declaração de subsecretária da Secretaria de Segurança Pública do DF detalha ordens do Exército protegendo manifestantes no QG
atualizado
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Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa, a coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Cíntia Queiroz detalhou que o Exército protegeu os bolsonaristas que estavam acampados em frente ao Quartel-General de Brasília. “Não era permitido tocar nas barracas”, afirmou Cíntia.
A CPI investiga os atos antidemocráticos de 12 de dezembro e 8 de janeiro. Cíntia Queiroz é subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) e participou de ações no QG, que, segundo ela, não acabaram com a desmobilização do ato golpista devido às ordens do Exército.
“Por três vezes o Comando Militar do Planalto solicitou apoio para retirada do comércio ambulante. A gente tinha expectativa, quando chegava nas reuniões, que era para retirar o acampamento, mas eles diziam que era para retirar o comércio ilegal. Não era permitido tocar nas barracas, na cozinha coletiva, na tenda religiosa. A orientação que a gente tinha era essa”, detalhou.
Cíntia ressaltou que era desejo do governador Ibaneis Rocha (MDB) e do então secretário de Segurança Pública, Júlio Danilo, a retirada do acampamento, mas houve dificuldade por parte da PM, por se tratar de uma área do Exército.
“Foram feitas três tentativas de retirada. O movimento crescia, havia preocupação do governador e do secretário, todo mundo queria retirar o acampamento, mas era área do Exército, a gente precisava de autorização do Comando Militar do Planalto.”
Em nota à reportagem, o Exército afirmou que “os fatos estão sendo apurados por parte das autoridades competentes”. “A Instituição segue à disposição dos Órgãos que esclarecem os acontecimentos, a fim de contribuir com as investigações em curso, sendo que quaisquer informações solicitadas serão prestados exclusivamente aos mesmos”.
A coronel Cíntia foi responsável por elaborar o Protocolo de Ações Integradas (PAI) da SSP sobre atos contra o resultado das urnas, marcados para os dias 7, 8 e 9 de janeiro. Em março, ela foi indiciada pela Corregedoria da PMDF em um dos cinco inquéritos que apuram a conduta de militares no dia 8.
O Metrópoles mostrou que protocolos de ações elaborados pela SSP antes de manifestações em Brasília apontavam um planejamento mais firme contra atos LGBTs, passeata estudantil e Marcha da Maconha do que na contenção de protestos antidemocráticos. Orientações sobre a dimensão das ameaças e a condução de possíveis presos, por exemplo, não aparecem no PAI anterior à tentativa de golpe de janeiro.
Em depoimento à Polícia Federal, que também investiga possíveis omissões ou conivência de autoridades diante dos atos antidemocráticos, Cíntia disse que a PMDF agiu de forma atípica ao não elaborar planejamento próprio para a manifestação que culminou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, além do PAI da SSP, avaliando isso como algo “raro”.
A subsecretária contou à PF que cabia à Polícia Militar do DF, por meio de planejamento próprio, reforçar o policiamento ostensivo e empregar tropas especializadas. O Departamento de Operações seria o responsável por esse serviço.
Veja um resumo dos primeiros depoimentos da CPI: