Execução de advogados: 1º dia de júri é marcado por bate-boca entre acusação e defesa
Três pessoas respondem por homicídio praticado em 28 de outubro de 2020, em Goiânia, enquanto vítimas trabalhavam
atualizado
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A Justiça do Goiás julga, nesta terça-feira (30/4), Hélica Ribeiro Gomes, Cosme Lompa Tavares e Nei Castelli. Eles são acusados pelo homicídio dos advogados Marcus Aprígio Chaves e Frank Alessandro (foto em destaque), em 28 de outubro de 2020, dentro do próprio escritório das vítimas, em Goiânia.
Segundo as investigações, o fazendeiro Nei Castelli teria ordenado o assassinato depois de perder uma ação – envolvendo terras, na divisa de Goiás e Bahia, avaliadas em R$ 46 milhões – que o obrigava a pagar às vítimas, a título de honorários sucumbenciais, o valor de R$ 4,6 milhões.
Inconformado, de acordo com o Ministério Público, Castelli entrou em contato com Cosme Lompa na tentativa de encontrar alguém para o homicídio. Lompa, então, teria escolhido Pedro Henrique, conhecido pela prática de diversos crimes no Tocantins, e teria combinado com ele a execução.
Pedro Henrique, responsável por efetuar os disparos contra os advogados, foi preso em 30 de outubro de 2020. Dois anos depois, condenado a 45 anos, 6 meses e 10 dias de prisão. Pedro atuou ao lado de outro assassino, identificado como Jaberson Gomes – que não chegou a ser julgado, pois foi morto, também em 30 de outubro, durante uma perseguição policial.
A namorada de Pedro Henrique, Hélida, teria negociado a recompensa pelo crime e, mais tarde, Pedro teria acertado com Jaberson Gomes para lhe ajudar no assassinato. Segundo a Polícia Civil de Goiás (PCGO), Castelli teria oferecido R$ 100 mil aos dois, caso saíssem impunes, e R$ 500 mil, se fossem presos em decorrência da empreitada.
De todos os acusados, apenas Hélica responde em liberdade.
O primeiro dia
O primeiro dia do júri foi marcado por bate-boca entre acusação, defesa e testemunhas. O julgamento ocorre no Fórum Cível de Goiânia.
A previsão é de que 12 testemunhas sejam ouvidas para auxiliar na tomada de decisão por parte de sete jurados. O julgamento tem previsão de durar três dias.
Nas primeiras horas do dia, a defesa de Nei Castelli trouxe à tona prints de conversas extraídas durante a fase de inquérito do processo. Rapidamente, representantes do Ministério Público questionaram as provas e informaram que não foram juntadas ao processo. Devido a confusão, o júri chegou a ser interrompido.
Tempos depois, porém, retornou com o esclarecimento do juiz Eduardo Pio Mascarenhas da Silva. Segundo o magistrado, as provas não foram anexadas devido ao tamanho do arquivo, mas foi disponibilizada às partes, que, inclusive, assinaram certidão de recebimento.
Na ocasião, o delegado Rhaniel Almeida deu detalhes da investigação e aproveitou para dizer que, apesar de acreditar que Hélica sabia que o namorado teria ido para a Goiânia “cometer um crime”, ela não tinha conhecimento do homicídio e não participou dele.
Segundo o Ministério Público, o ponto central de toda a história é Cosme Lompa. Isso porque o homem teria apresentado o atirador a Castelli, teria intermediado os pagamentos do crime e dado carona aos assassinos até Goiânia. Inclusive, teria sido Lompa quem entregou o nome do mandante às autoridades.
No fim do dia, dois dos três envolvidos foram interrogados durante o tribunal do Júri. Hélica Ribeiro Gomes, namorada de Pedro Henrique (já condenado), foi a primeira a ser interrogada pelo juiz Eduardo Pio, seguida por Cosme Lompa Tavares. Ambos declararam inocência e afirmaram não ter participação no crime.
Relembre o caso
Pedro e Jaberson, usando o nome de Fernando Morais, ligaram para o escritório de advocacia perguntando por Marcus Aprígio e chegaram a deixar um número de telefone para retorno, que, mais tarde, foi usado pela secretária das vítimas para agendar a reunião para o dia 28 de outubro de 2020.
Conforme mencionado no processo, a dupla criminosa teria se passado por clientes e marcado uma reunião para cometer os assassinatos. Eles teriam exigido dinheiro dos advogados e atirado contra os dois logo após terem roubado R$ 2 mil.
Durante as investigações, a polícia desconfiou que o crime teria sido encomendado e passou a ouvir pessoas envolvidas nas vidas dos advogados. Apesar de no início ter sido levantada a hipótese de que um agiota poderia estar por trás do homicídio, o fazendeiro Nei Castelli foi detido como o mandante.