Ex-presidentes da Terracap e Novacap teriam recebido R$ 500 mil cada
Maruska Lima e Nilson Martonelli são citados em delação da Andrade Gutierrez e suspeitos de receber propina nas obras do Mané Garrincha
atualizado
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O esquema delatado pelos ex-executivos e funcionários da Andrade Gutierrez envolvendo superfaturamento e pagamento de propina nas obras do Estádio Nacional Mané Garrincha não envolve apenas políticos. Os ex-presidentes da Terracap, Maruska Lima, e da Novacap, Nilson Martorelli, teriam recebido, segundo investigações da Polícia Federal e do Ministério Público, R$ 500 mil cada um. os dois foram presos nesta terça-feira (23/5) na Operação Panatenaico.
Maruska é apontada em delação como única signatária da pré-qualificação do Consórcio Brasília, formado pela empreiteira e a Via Engenharia. Segundo relatos de Rodrigo Leite Vieira, na qualidade de diretora da Novacap e depois presidente da Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap), ela teria recebido valores ilícitos tanto da Via Engenharia quanto da construtora Andrade Gutierrez, incorrendo nos delitos de corrupção, fraude à licitação, associação ou organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Martorelli, segundo relatório da Polícia Federal, Maruska também foi alvo das confissões de Rodrigo Leite Vieira e teria recebido propina durante aditamentos contratuais da reforma do estádio, recebendo dinheiro de Alberto Noli, da Via Engenharia, e da Andrade Gutierrez.O caso começou a ser investigado em setembro de 2016, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) encaminhou os depoimentos de três executivos da empresa para a 1ª instância da Justiça Federal. As informações foram confirmadas no âmbito do inquérito com o surgimento de novos indícios, como o de que, contrariando a legislação, a construtora participou desde o início da elaboração do edital para o processo licitatório.
Além disso, o chamado conluio foi confirmado por diretores da Odebrecht – também em colaboração premiada. Segundo eles, em decorrência dessa combinação prévia, a empresa participou da licitação apresentando um valor superior ao oferecido pela Andrade Gutierrez, que depois retribuiu o “favor” na licitação para as obras da Arena Pernambuco.
Sobrepreço
Investigações preliminares revelaram um sobrepreço de R$ 900 milhões nas obras. Orçada inicialmente em R$ 690 milhões, a reforma acabou custando R$ 1,6 bilhão, o que fez com que o estádio se tornasse o mais caro entre os 12 que receberam os jogos da Copa do Mundo de 2014.
O dinheiro saiu dos cofres da Terracap, empresa pública do Governo do Distrito Federal, cujo capital é formado da seguinte forma: 51% do GDF e 49% da União. A obra gerou um rombo de R$ 1,3 bilhão nos cofres da estatal.
Nas petições enviadas à Justiça, MPF e PF relatam que o acordo para o pagamento de propina – estipulado inicialmente em 1% do valor total da obra – foi articulado em 2008, durante a gestão do então governador José Roberto Arruda (PR). Os representantes das empreiteiras nas conversas eram Fernando Rodrigues (pela Via Engenharia) e Carlos José de Souza (pela Andrade Gutierrez).
Em relação aos pagamentos realizados, MPF e PF indicam que as operações foram intermediadas por operadores dos agentes políticos. O “representante” de José Roberto Arruda era Sérgio Lúcio da Silva Andrade. No caso de Agnelo Queiroz, o operador era Jorge Luiz Salomão e o de Tadeu Filipelli, Afrânio Roberto de Souza Filho.