“Estou dilacerada”, diz mãe de jovem autista espancado em parque do DF
Jovem estava com o irmão de 10 anos jogando bola no Parque de Águas Claras quando foi espancado, na segunda-feira (2)
atualizado
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“Estou dilacerada”. É assim que a mãe do jovem autista espancado no Parque Ecológico de Águas Claras, na segunda (2/1) define os últimos dias. Em entrevista ao Metrópoles, Wêda Gonçalves falou sobre a angústia que carrega no peito, após o ataque ao filho. Ela também recordou as principais características do rapaz: como dançar. “Já chega nos lugares dançando. Ama pagode e TikTok”, recorda.
Diante do quadro de saúde do jovem, a mãe busca Justiça contra aqueles que o feriram. “Ele veio perguntar se ele vai usar um olho de vidro. E eu fiquei parada sem saber o que falar”, comenta Wêda.
“Estou muito mal. Hoje é o pior dia. Tive que olhar o olho dele e abrir. Não sei nem o que falar, só queria morrer. Não sei se consigo cuidar dele, dos meus filhos. Nunca mais vou ser a mesma pessoa, toda a minha alegria tiraram de dentro de mim. Ele era minha alegria. Eu estou dilacerada. Eu quero Justiça”, disse.
Na última segunda (2/1), o rapaz foi atacado durante uma partida de futebol, no parque de Águas Claras, quando ele e o irmão, de 10 anos, decidiram jogar com outros meninos. Após uma discussão na partida, os garotos seguraram os irmãos e passaram a lhes desferir socos e chutes. “Onde ele chega, encanta todo mundo. Não vê maldade em ninguém”, conta.
Um vigilante do parque, que preferiu não se identificar, contou ao Metrópoles que enquanto os meninos brigavam, um deles feriu o olho do jovem autista com um objeto perfurante.
“Os meninos que estavam na quadra começaram a provocar os irmãos. Os chamaram de ‘pretos’, ‘macacos’, ‘viados’ e ‘safados’. Também estavam fumando cigarro e ficavam assoprando na cara do autista. Violência sem tamanho. Eu separei a briga depois que um deles pegou um pedaço de pau jurando que ia matar o outro”, descreveu.
Alta adiada
A alta do jovem do Hospital de Base do Distrito Federal foi adiada duas vezes nos últimos dias após episódios de desmaios. Desde essa quarta (4/1), o caso é investigado pela Polícia Civil do DF (PCDF) como tentativa de homicídio.
De acordo com mãe do rapaz, a alta hospitalar estava prevista para essa quarta, um dia após o jovem passar por uma cirurgia bem sucedida para preservar parte do olho atingido por um canivete durante a sessão brutal de espancamento.
De acordo com Wêda, o filho possui também uma rachadura no crânio e ferimentos na parte nasal em virtude das agressões. Por conta do quadro de desmaios, ele passaria por novos exames neurológicos nesta quinta (5/1) a fim de diagnosticar o quadro de saúde atual. Não há uma nova previsão de alta.
Ato contra a violência
Autistas, amigos e familiares de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) planejam um ato em protesto à violência vivida pelo rapaz, para o próximo sábado (7/1).
O ato é organizado pelas entidades da sociedade civil que atua com Autistas e com pessoas com deficiência (PcD), incluindo a Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Autismo, da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF). O protesto ocorre às 10h, no Parque Ecológico de Águas Claras, perto das quadras de esporte.