Estelionatário que enganou dezenas de vítimas foi até capa de revista
Jovem, sedutor, convincente, Láecio Figueiredo se passava por empresário de sucesso, mas coleciona extensa ficha criminal e acabou preso
atualizado
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O homem que enganou dezenas de vítimas com golpes que ultrapassam R$ 3 milhões já saiu até em capa de revista. Jovem, corte de cabelo seguindo as últimas tendências, papo convincente, Laécio da Costa Figueiredo se passava por um empresário de sucesso na área de importação e exportação antes de ir parar atrás das grades, na última segunda-feira (6/3).
Em seu perfil no Instagram, ele se define da seguinte forma: “empresário, trilheiro, aprendiz, religioso, bacharel, sujeito homem e pai”. E também filosofa: “Que Deus te dê em dobro tudo o que me desejas”. O jovem de apenas 33 anos só omite algumas informações importantes, como, por exemplo, o fato de colecionar uma vasta ficha criminal relacionada a golpes.
De 2011 para cá, Laécio passou a responder por 10 inquéritos policiais e seis ações penais. No total, são 23 ocorrências registradas em 10 delegacias diferentes do Distrito Federal contra o golpista. Destas, 15 são por estelionato.
Entre as suas artimanhas para enganar as vítimas, segundo a polícia, está a criação de falsas empresas de contabilidade, construção e importação e exportação de diversos tipos de mercadorias, como produtos náuticos e itens eletrônicos.
Uma delas, chamada American Import, lhe rendeu a capa da Revista Foco, especializada em sociedade (veja galeria abaixo) e quatro páginas de reportagem.
Na entrevista publicada em setembro de 2013, Laécio se apresenta como sócio-diretor da American Import que, segundo contou, nasceu em 2006 e tinha filiais e consultores nas principais cidades do país. “Além de grandes nomes do ramo de importação e exportação”, como destacado na reportagem.
“Garantimos o menor custo da cadeia logística e tributária internacional, além de total segurança com a carga, licenças de importação, trâmite dos documentos, desembaraço, fechamento de câmbio e de custos para a sua empresa”, disse Laécio à publicação.
Segundo a Polícia Civil, o golpista abriu não só a American Import, mas também a África Consultoria em Negócios Internacionais para ludibriar as vítimas dizendo que conseguiria adquirir produtos estrangeiros por bons preços. Ainda de acordo com os investigadores, ele recebia o valor, sempre alto, e nunca entregava as mercadorias.
O último crime de Laécio que se tem registro foi praticado na Fercal entre 24 de janeiro e 3 de fevereiro deste ano. Segundo informações da Divisão de Comunicação da Polícia Civil, ele alugou quatro contêineres com pagamento falso, descaracterizou os compartimentos, tirou as placas e os revendeu.
Mas Laécio também é acusado de aplicar golpes vendendo imóveis que nunca foram de sua propriedade. “Ele é convincente, passa aquela postura de pessoa bem vivida e de sucesso. Está nas redes sociais, esbanja vida luxuosa”, diz uma das últimas vítimas do golpista, uma servidora pública de 33 anos.
Em junho de 2016, a mulher pagou R$ 600 mil a Laécio como entrada de um apartamento na 304 Sul. O valor representava todas as economias de sua mãe, que também é funcionária pública, só que aposentada. A idosa de 70 anos, segundo a filha, está muito abalada por ter caído na lábia do golpista.
Ele desapareceu com o dinheiro de uma vida. A sensação é de revolta e impotência, pois ele já era conhecido em todas as delegacias. É um baque muito grande, já que ela (a mãe) não consegue entender como se envolveu nessa história
Servidora pública, vítima de Laécio
Outra vítima que conversou com o Metrópoles nesta terça-feira (7) é um servidor público de 54 anos. O homem, que também pediu para não ser identificado, teve um prejuízo de quase R$ 1 milhão ao comprar uma casa no Cruzeiro Velho do golpista. Ele luta há um ano na Justiça para tentar recuperar a quantia.
Com tantos crimes, fica difícil também compreender como Laécio continuou agindo impunemente. Segundo o especialista em direito penal Carlos Frederico Pereira, a punição para o crime de estelionato sem uso de violência varia de um a cinco anos. Quem recebe até quatro anos de pena, consegue substituí-la por prestação de serviços comunitários, por exemplo. “O sistema punitivo é extremamente falho e condescendente com estelionatários”, avalia.