Estelionatário alvo da PCDF é acusado de agredir ex-namorada
TJDFT proibiu Marlon Gonzalez de se aproximar da vítima, de familiares dela e de testemunhas das agressões que a jovem teria sofrido
atualizado
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Alvo de cinco inquéritos instaurados pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), Marlon Gonzalez, 23 anos, entrou novamente no radar das autoridades da capital. Desta vez, o estelionatário foi proibido pela Justiça de se aproximar da ex-namorada, após ameaçá-la de morte.
Nova investigação foi aberta na 4ª Delegacia de Polícia (Guará) para apurar um suposto caso de violência doméstica. Os policiais ouviram relatos de que Marlon teria mantido a vítima em cárcere privado e colocado uma arma na cabeça da jovem.
A decisão foi expedida pelo Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT) em 31 de dezembro do ano passado. À Justiça, a vítima, que terá a identidade preservada, afirmou ter namorado Marlon por quatro meses.
Durante o relacionamento, o acusado teria se mostrado “ciumento, possessivo, agressivo e violento quando não atendido nas solicitações”. As fraudes cometidas por Marlon foram reveladas em duas reportagens publicadas pelo Metrópoles, nos dias 25 e 26 de agosto de 2019.
Fingindo ser megainvestidor, o falsário usa a lábia para convencer operadores financeiros a pagarem fortunas em transações envolvendo moedas virtuais, como bitcoins. As vítimas que Marlon fez no DF sofreram desfalques entre R$ 50 mil e R$ 100 mil.
Agora, as acusações são de violência. Conforme relato da ex-namorada, Marlon a controlava. Pontuou ainda que ele já a ofendeu verbalmente. Após uma agressão ocorrida em 19 de dezembro, a denunciante decidiu registrar boletim de ocorrência na PCDF contra o ex-parceiro.
Arma na cabeça
De acordo com o depoimento, após uma confraternização de trabalho, Marlon Gonzales teria dito que ia “mandar gente ir lá matar todo mundo” se a jovem não fosse ao apartamento da família dele, em Águas Claras. A mulher, então, se dirigiu ao local e acabou sendo obrigada pelo ex-namorado a sair do carro e entrar no imóvel. Segundo declarou aos investigadores, o rapaz a “abordou com uma arma enrolada no pano”.
Ainda conforme consta em decisão do TJDFT, a denunciante garante que os dois já haviam terminado o relacionamento, mas ela teria sido persuadida a continuar por mais alguns dias na residência de Marlon. Em uma das ocasiões na casa do agressor, a vítima afirmou que ele “engatilhou uma arma na cabeça dela”.
No apartamento do estelionatário, a mulher relata ter passado por momentos de terror. Frisa que ficou trancada por horas, sob pressão psicológica e ameaça. As agressões não cessaram nem quando a vítima conseguiu deixar o local. Segundo a denunciante, Marlon deixou claro que iria “matá-la”, bem como “toda a família dela”, caso a jovem revelasse o ocorrido para alguém.
“Marlon contava sempre outras histórias de crime que ele praticou. E mostrava ter dinheiro e poder para mandar fazer o que quisesse contra quem quisesse”, disse a ex-namorada do acusado em depoimento.
Ainda à Justiça, a mulher relatou que Marlon não está mais em Brasília. E afirmou que, mesmo assim, ele “utiliza números diversos e estranhos para fazer contato telefônico e por aplicativos”.
Diante da denúncia, o juiz substituto do Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher do Guará, Lucas Lima da Rocha, proibiu o estelionatário de tentar diálogo com a vítima, por qualquer meio de comunicação, e de se aproximar da ex-namorada, de familiares da moça e de testemunhas.
Alvo da PCDF
Atualmente, o suspeito é investigado em cinco inquéritos instaurados pela PCDF para apurar denúncias de estelionato. O caso de Marlon, que aplicou uma série de golpes, com fraudes que ultrapassam a casa dos R$ 3 milhões, foi revelado pelo Metrópoles.
Os brasilienses que caíram na armadilha do rapaz passaram a monitorá-lo e descobriram que, em agosto do ano passado, investidores paulistas também foram enganados pelo estelionatário. Eles esperavam comprar grandes quantidades de bitcoins, mas amargaram prejuízos que chegariam a R$ 880 mil.
Marlon teria adotado o mesmo modus operandi utilizado para lesar investidores chineses e brasileiros, que perderam R$ 600 mil em uma transação feita em Hong Kong. O fraudador simulava a transferência das moedas digitais após a fortuna entrar em contas de laranjas.
Em agosto de 2019, o estelionatário foi sequestrado por dois empresários quando deixava uma festa realizada na Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados (Ascade), no Setor de Clubes Sul.
Investigadores da Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) da Polícia Civil indiciaram a dupla que rendeu Marlon Gonzalez com pistolas, o levou para um cativeiro e o obrigou a transferir R$ 152 mil em bitcoins para carteiras criptografadas. Os autores do rapto são credores do golpista e haviam sido enganados por ele em uma transação envolvendo moedas virtuais.
Cativeiro na Asa Norte
Quando foi rendido, Marlon estava na companhia de três seguranças armados. De acordo com a apuração da DRS, os suspeitos abordaram o estelionatário e os vigilantes quando eles estavam dentro do carro. Em seguida, o investigado foi levado para um cativeiro, no subsolo de uma empresa na Asa Norte.
Durante o percurso, Marlon recebeu coronhadas na cabeça. Ameaçado e sob a mira de duas pistolas, foi obrigado a fazer uma transferência de bitcoins para duas contas ainda não identificadas. O valor de R$ 152 mil teria sido a quantia que os sequestradores haviam perdido em um golpe praticado pelo jovem. Depois que confirmaram o sucesso da transação, a dupla obrigou Marlon a trocar de roupa, pois a vestimenta do fraudador estava suja de sangue, em razão do espancamento sofrido.
Em seguida, os empresários chamaram um motorista de aplicativo, levaram Marlon até a Asa Sul e o abandonaram próximo a uma unidade de saúde particular no Setor Hospitalar Sul. Assim que foram libertados, os seguranças de Marlon registraram ocorrência na 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul), que repassou o caso para a DRS.
Na manhã seguinte ao sequestro, os investigadores identificaram e prenderam os suspeitos de cometer o crime. Quando entraram no local onde Marlon foi mantido refém, os policiais flagraram um dos supostos sequestradores limpando as manchas de sangue no chão.
O Metrópoles procurou Marlon Gonzalez para comentar o ocorrido, mas não conseguiu localizá-lo. Também entrou em contato com a advogada que representa o estelionatário em pelo menos uma ação. A defensora Mauren Porto Alegre foi acionada oficialmente, mas não respondeu ao e-mail enviado pela reportagem.