Estado das tesourinhas em obras é pior do que se imaginava
Empresa responsável por reparos diz que situação é “crítica”: estruturas têm corrosões e infiltrações novas, descobertas durante as reformas
atualizado
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Um dos principais símbolos do projeto urbanístico de Brasília, as tesourinhas que dividem as superquadras do Plano Piloto apresentam estado de manutenção pior do que o esperado.
Relatório obtido pelo Metrópoles revela que os pequenos viadutos, tradicionais das asas Sul e Norte, estão com a estrutura comprometida por corrosões e infiltrações – até então não percebidas pela equipe de engenharia responsável pelas obras de revitalização, iniciadas em novembro de 2019.
No documento, Weyden Augusto Moraes Pereira, diretor técnico da empresa Impermear, contratada pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) para as obras, relata que a estrutura desses complexos viários “apresenta grau de risco crítico”.
O engenheiro afirma que “o dano pode causar comprometimento sensível da vida útil da estrutura, com riscos à saúde e à segurança dos usuários e custos altos de manutenção”.
A dimensão do problema só foi constatada após a retirada dos revestimentos dos viadutos sob os eixos W e L, que ligam a 103/104 Sul à 203/204 Sul.
As falhas encontradas no local se repetiram nas outras tesourinhas que também estão em reforma: as das entrequadras de final 15/16 (Sul e Norte) e 7/8, na Asa Norte. Essas estão na primeira leva de reparos. Até o fim do ano, o GDF quer reformar todas as existentes.
Veja o documento:
A situação foi confirmada à coluna pela Novacap, que, após tomar conhecimento do risco verificado nas estruturas que passam por reformas, analisa aditivo de R$ 1 milhão no contrato.
“Essas tesourinhas as quais inciamos de imediato foram priorizadas por serem justamente as mais danificadas, e que constam em relatório do Tribunal de Contas do DF [TCDF]. Quando a estrutura está com movimento, ninguém percebe os problemas que estavam escondidos e não vê a necessidade da intervenção, mas as patologias estão lá”, explicou Francisco Ramos, diretor de Edificações da Nocavap.
O novo quadro fez, inclusive, com que a companhia ampliasse a área de recuperação. Até então, o planejamento era de 50m² de intervenções, mas, agora, o governo decidiu atuar em 400 m², o que abrange o terreno total dos viadutos. “Era uma situação que não colocava em risco iminente, mas estava passando do tempo, pois há pelo menos 60 anos nenhuma delas recebia qualquer tipo de manutenção”, frisou Ramos.
Corrosões
O maior problema encontrado foi justamente as corrosões nas bases estruturantes. O fator ocorre depois de anos de infiltrações, que vão causando desgaste gradual do material após reações químicas do ambiente. “Algumas delas afetam a armadura [estrutura de ferro], a sustentação que vai no concreto. Com o tempo, elas acabam sofrendo reações e comprometendo a segurança”, explicou o diretor de Edificações da Nocavap.
Embora o novo cenário exija mais intervenções por parte das equipes que atuam nas revitalizações, o cronograma deve ser cumprido conforme o programado.
As quatro primeiras tesourinhas em reforma devem ser entregues até o fim de março, segundo afirmou Francisco Ramos. “A gente endente que é um transtorno grande para a comunidade e para o comércio com essas interdições, mas temos que saber que todos serão beneficiados. E também só iremos avançar nas próximas reformas à medida que formos terminando as já iniciadas”, enfatizou.
A Novacap trabalha com a programação de terminar em novembro as intervenções de todas as tesourinhas existentes nas entrequadras nos quase 15 quilômetros de Eixão (Norte e Sul). O valor total para a reforma está orçado em R$ 7,3 milhões, sem levar em conta eventuais aditivos.
A primeira etapa das obras foi iniciada em novembro de 2019, após riscos apontados por um relatório do TCDF. No total, será feita a recuperação estrutural e estética das 96 passagens sob o Eixo Rodoviário (Eixão) e os eixinhos das asas Norte e Sul.
Drenagem pluvial
Segundo o diretor da Novacap, além das questões estruturantes e estéticas, o governo também decidiu melhorar o sistema de drenagem pluvial, fator que constantemente reflete a falta de manutenção dos complexos. “Vamos aumentar a capacidade das bocas de lobo, além da recuperação asfáltica de todas as tesourinhas. A ideia é integrar uma obra completa e pintura nova antipichação”, adiantou.
Procurada, a assessoria de imprensa da Novacap também explicou que “o prazo para execução de cada conjunto é de 90 dias, mas, devido às primeiras tesourinhas serem as que apresentam maiores patologias (danos), situação agravada pelas chuvas intensas no Distrito Federal, esse cronograma é flexível, dependendo das condições de execução”.
Sobre o aditivo reivindicado pela empresa, a companhia esclarece que o valor foi para antecipar uma demanda que se apresentou nas primeiras tesourinhas em reforma. “Porém, isso não prejudica em nada a situação das obras em execução. O aditivo solicitado pela empresa está em análise, e todos os argumentos serão verificados sob os aspectos técnicos e financeiros”, finalizou a empresa.