metropoles.com

Esquema de corrupção no BRB contava com rede de doleiros da Lava Jato

Pelo menos três operadores financeiros da maior investida contra a corrupção no país tinham conexões com ex-diretores do Banco de Brasília

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
HUGO BARRETO/METRÓPOLES
Brasília (DF), 29/01/2019  Operação Circus Maximus Local:   Banco de Brasília (BRB) setor bancario sul Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 29/01/2019 Operação Circus Maximus Local: Banco de Brasília (BRB) setor bancario sul Foto: Hugo Barreto/Metrópoles - Foto: HUGO BARRETO/METRÓPOLES

O esquema de corrupção investigado no Banco de Brasília (BRB) contava com uma sofisticada rede de doleiros alvo da Operação Lava Jato. Ao descortinar transações clandestinas executadas pela cúpula do BRB na gestão de Rodrigo Rollemberg (PSB), o Ministério Público Federal (MPF) revelou que a distribuição de propina contava com o auxílio de homens acostumados a “esquentar” dinheiro de origem ilícita no país e no exterior.

Na peça elaborada pelo MPF que resultou na Operação Circus Maximus, os procuradores descrevem que “elementos colhidos pela Lava Jato no Rio de Janeiro trouxeram aos presentes autos o conhecimento da parcela financeira, que tratava do branqueamento de valores, detalhando o sistema de doleiros utilizados pelos funcionários do BRB, comum a tantos outros esquemas criminosos de colarinho branco”.

Veja:

 

Pelo menos três doleiros que mantinham relações com ex-diretores do BRB presos na deflagração da Circus Maximus têm histórico de colaboração em outros esquemas escusos. Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, foi detido por supostamente entregar dinheiro vivo a pedido do então senador Aécio Neves (PSDB-MG), eleito deputado federal no último pleito.

Juca Bala e outro doleiro, Cláudio Fernando Barbosa, também acabaram atrás das grades em 2017, no Uruguai, no âmbito da Operação Calicute, braço da Lava Jato. De acordo com os investigadores, os dois eram os operadores financeiros no exterior do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (MDB), preso em Bangu 8 desde 2016.

Reprodução
Vinícius Claret, o Juca Bala, é apontado como um dos doleiros operadores do esquema implementado no BRB

 

Francisco Araújo Junior, o Jubra, também circulava com desenvoltura no Distrito Federal, dando vazão ao dinheiro desviado dos cofres do BRB. Assim como Juca Bala e Cláudio Fernando, Jubra é réu na Lava Jato. No último dia 27, ele fechou acordo de delação premiada com o MPF-DF no âmbito da Operação Greenfield, que investiga desvios de fundos de pensão, bancos públicos e estatais.

Morador do Park Way, Jubra se apresentava como consultor para economia e finanças, e tinha como vizinhos e clientes políticos, empresários e advogados.

Segundo o Ministério Público Federal, apenas entre os anos de 2011 e 2017, o doleiro movimentou pelo menos US$ 2,9 milhões (cerca de R$ 10,2 milhões). Ele também transportava dinheiro vivo, em automóveis, Brasil afora. A suspeita é que Jubra tenha levado à Bahia os R$ 51 milhões encontrados no “bunker” do ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB).

Ao explanar a função de cada um no esquema criminoso instalado dentro do banco candango, o MPF detalhou como funcionava a máquina de propina no BRB. “Entre os doleiros que trabalhavam com Juca, está Francisco Araújo Júnior, indivíduo chave na narrativa a respeito dos pagamentos feitos em relação a outro empreendimento, o LSH Lifestyle Hotel, em um contexto de prestação de serviços ilícitos para uma organização criminosa instalada no banco BRB”, escreveram os procuradores na peça.

Para construir o hotel, a LSH foi ao mercado e lançou debêntures (títulos de dívida) junto a instituições financeiras para a captação de recursos. A operação totalizou R$ 80 milhões, em valores corrigidos. Desse total, 42% são do BRB, ou seja, R$ 33,6 milhões. O banco entrou de cabeça no negócio, adquirindo, administrando e custodiando o fundo por quase quatro anos, entre 2013 e 2017.

Outro empreendimento suspeito citado pelos investigadores é o edifício Praça Capital. Segundo o MPF, na captação de recursos junto ao BRB feita pela sociedade formada entre as empreiteiras Odebrecht e Brasal, “a estrutura criminosa se repete”. O Ministério Público Federal detalha que integrantes do banco cobravam vantagens indevidas para a aquisição de cotas em fundos de participação do complexo construído às margens da EPTG.

Conheça os doleiros investigados pela Circus Maximus e já detidos na Lava Jato:

3 imagens
Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, foi alvo da Operação Calicute, outro braço da Lava Jato. Foi preso em 2017 por determinação do juiz da 7ª Vara Federal no Rio Marcelo Bretas. A detenção ocorreu no Uruguai. A força-tarefa que o localizou contou com a participação da Procuradoria-Geral da República, da Polícia Federal, da Interpol e do Ministério Público do Uruguai. No âmbito da Calicute, Juca Bala foi delatado pelos irmãos e também operadores Renato e Marcelo Chebar. Os Chebar revelaram que, em 2007, com “o aumento do ingresso do volume de recursos no esquema do ex-governador Sérgio Cabral, tiveram de adquirir dólares no mercado paralelo”. “As operações com os clientes do IDB/NY [Israel Discount Bank of New York] já não eram mais suficientes”, disseram. Acionaram, então, “um doleiro de apelido ‘Juca'”, referência a Juca Bala. Os delatores afirmaram que só falavam com Juca Bala por meio do programa de mensagens Messenger, usando um sistema de criptografia. Segundo os irmãos Chebar, o ex-governador do Rio escondeu US$ 100 milhões no exterior, e Juca Bala seria um dos seus principais operadores
Cláudio Fernando Barbosa, outro doleiro, foi detido no aeroporto internacional de Montevidéu em 2017, quando voltava de viagem ao Chile. Ele havia deixado o Uruguai antes do Carnaval e pretendia refugiar-se em outro país. Segundo a investigação da Lava Jato, o doleiro atendia pelas alcunhas de Tony e Peter. Preso no mesmo dia que Juca Bala, ele também foi delatado pelos irmãos e doleiros Renato e Marcelo Chebar. Ao MPF, os Chebar contaram que Barbosa e Juca Bala eram os principais braços no gigantesco esquema de corrupção comandado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, preso em Bangu 8 desde 2016. Em julho daquele ano, Cláudio Fernando Barbosa foi condenado, pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, a 18 anos de prisão. A sentença foi aplicada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, e também se estendeu a Juca Bala
1 de 3

Um dos alvos da Operação Câmbio, Desligo, no âmbito da Lava Jato, é o doleiro Francisco Araújo Junior, mais conhecido como Jubra. Morador do Park Way, ele se apresentava como consultor para economia e finanças, e tinha como vizinhos e clientes políticos, empresários e advogados. Segundo o MPF, apenas entre os anos de 2011 e 2017, Francisco movimentou pelo menos US$ 2,9 milhões (cerca de R$ 10,2 milhões). Ele também levava dinheiro vivo, em automóveis, Brasil afora. A suspeita é que Junior tenha levado à Bahia os R$ 51 milhões encontrados no “bunker” do ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), em 2018. De acordo com as investigações, ele era responsável pelo transporte de valores em espécie entre diversos estados da Federação, como São Paulo, Alagoas, Bahia e Rio de Janeiro. Para administrar o negócio, mantinha um escritório em endereço nobre do Setor de Autarquias Sul, próximo à sede da Polícia Federal e da Receita Federal. Jubra, junção de Junior com Brasília, ganhou projeção no cenário nacional da lavagem de dinheiro ao herdar boa parte da carteira de clientes de doleiros famosos do DF, entre eles Fayed Traboulsi e Carlos Habib Chater. O operador brasiliense foi citado nas delações dos doleiros Vinícius Vieira Barreto Claret, o Juca Bala, e Cláudio Fernando Barbosa, o Tony, também apontados como operadores do esquema no BRB. Cláudio Barbosa afirmou ter sido apresentado a Junior pelo operador Lúcio Funaro. E passou a usá-lo como fornecedor em 2008, para serviços de transporte e logística de recursos. O delator revelou que já comprou US$ 1,2 milhão de Junior no exterior e vendeu US$ 850 mil para ele. Citou, ainda, pagamentos, em 2013, para manutenção de aeronave no exterior para a empresa Bravan Aviation Inc, no Bank of America

Reprodução
2 de 3

Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala, foi alvo da Operação Calicute, outro braço da Lava Jato. Foi preso em 2017 por determinação do juiz da 7ª Vara Federal no Rio Marcelo Bretas. A detenção ocorreu no Uruguai. A força-tarefa que o localizou contou com a participação da Procuradoria-Geral da República, da Polícia Federal, da Interpol e do Ministério Público do Uruguai. No âmbito da Calicute, Juca Bala foi delatado pelos irmãos e também operadores Renato e Marcelo Chebar. Os Chebar revelaram que, em 2007, com “o aumento do ingresso do volume de recursos no esquema do ex-governador Sérgio Cabral, tiveram de adquirir dólares no mercado paralelo”. “As operações com os clientes do IDB/NY [Israel Discount Bank of New York] já não eram mais suficientes”, disseram. Acionaram, então, “um doleiro de apelido ‘Juca'”, referência a Juca Bala. Os delatores afirmaram que só falavam com Juca Bala por meio do programa de mensagens Messenger, usando um sistema de criptografia. Segundo os irmãos Chebar, o ex-governador do Rio escondeu US$ 100 milhões no exterior, e Juca Bala seria um dos seus principais operadores

Reprodução
3 de 3

Cláudio Fernando Barbosa, outro doleiro, foi detido no aeroporto internacional de Montevidéu em 2017, quando voltava de viagem ao Chile. Ele havia deixado o Uruguai antes do Carnaval e pretendia refugiar-se em outro país. Segundo a investigação da Lava Jato, o doleiro atendia pelas alcunhas de Tony e Peter. Preso no mesmo dia que Juca Bala, ele também foi delatado pelos irmãos e doleiros Renato e Marcelo Chebar. Ao MPF, os Chebar contaram que Barbosa e Juca Bala eram os principais braços no gigantesco esquema de corrupção comandado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, preso em Bangu 8 desde 2016. Em julho daquele ano, Cláudio Fernando Barbosa foi condenado, pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, a 18 anos de prisão. A sentença foi aplicada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, e também se estendeu a Juca Bala

Arte/Metrópoles

 

Doleiros e lavagem de dinheiro
Planilhas apreendidas pela força-tarefa da Circus Maximus indicam a participação dos doleiros na lavagem do dinheiro retirado clandestinamente do BRB. No controle financeiro da suposta organização criminosa, há dois repasses, os quais totalizam R$ 205 mil, entregues em espécie no escritório sede do Praça Capital, que funciona em um shopping na Asa Sul.

O documento apreendido mostra, inclusive, que a quadrilha criava senhas para facilitar o repasse do dinheiro lavado por meio do empreendimento. Num dos lançamentos, cujo responsável pela operação é identificado como Jubradhdf, aparecem dois valores: R$ 155 mil e R$ 50 mil, assinalados respectivamente com as senhas “Madeira” e “Algodão”.

“Jubra é o codinome de Júnior no sistema dos doleiros, resultado da aglutinação das palavras Júnior e Brasília, cidade base do doleiro em questão. DH, que se segue ao apelido, significa dinheiro. DF, logo após, refere-se ao local da retirada dos valores, que é o Distrito Federal. Isso significa que Júnior retira o valor em referência em dinheiro vivo”, destaca a peça do MPF.

Veja:

 

Prisões de ex-gestores
Na decisão que embasou uma série de autorizações judiciais para cumprimento de prisões e diligências de busca e apreensão, o juiz federal da 10ª Vara do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), Vallisney de Souza Oliveira, descreveu “um cenário de possíveis crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção e tráfico de influência supostamente praticados por empresários, funcionários públicos e agentes financeiros autônomos em dois empreendimentos e, potencialmente, um terceiro”.

No último dia 29, a Polícia Federal cumpriu 14 mandados de prisão e 34 de busca e apreensão em 34 endereços no Distrito Federal, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Um dos detidos é Vasco Cunha, ex-presidente do BRB e que havia sido recentemente nomeado para presidir o Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes), mas renunciou ao cargo após o escândalo na capital vir à tona.

No último sábado (2/2), o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, determinou a soltura de seis detidos da Circus Maximus.

Segundo o MPF, os suspeitos “organizaram uma indústria de propinas e favorecimentos para investimentos em detrimento do procedimento técnico e da boa gestão que se espera das instituições financeiras”.

Dinheiro levado em jatinho
Em um dos trechos da denúncia formulada pelo MPF consta que o empresário Ricardo Siqueira Rodrigues – apontado como o maior operador de fundos de pensão no país e um dos delatores do esquema – utilizava seu avião particular para entregar propina a Henrique Domingues Neto, indicado como o elo estrutural entre o BRB e os investidores.

A denúncia ainda destaca outra forma de lavar o dinheiro oriundo de movimentações escusas: “Um esquema de carregamento de dinheiro também foi montado para abastecer o grupo. Ricardo Rodrigues usava pessoas jurídicas que se dispunham a auxiliá-lo na geração de dinheiro vivo por meio de notas fiscais falsas que esquentavam dinheiro de origem criminosa”.

Veja o trecho: 

 

Recuperação financeira do Correio Braziliense
Outra operação envolvendo a emissão e negociação de debêntures pelo BRB é alvo da apuração do MPF e objeto da decisão da Justiça que determinou os mandados de busca e apreensão.

No centro da investigação está, desta vez, o processo de recuperação judicial do Correio Braziliense – jornal que há anos passa por dificuldades financeiras. Em trecho da decisão do juiz Vallisney Oliveira, o magistrado cita a recorrência das condutas fraudulentas do grupo investigado, com indícios fortes de que continuam ocorrendo em outras operações, “inclusive administrando ou participando de outros investimentos com as mesmas características de fraude, a exemplo do apontado pelos colaboradores, a emissão de debêntures do Correio Braziliense”.

“Aliás, segundo colaboradores, há fortes indícios de irregularidades e pagamento de propina auferida pela atuação da organização criminosa liderada por Ricardo Leal, mesmo porque investimentos apontados como irregularidades no ICLA Trust/Fundo Turmalina estão presentes em ambos os investimentos: LSH e Correio Braziliense. Outrossim, se faz imprescindível a prisão de Henrique Neto para a conveniência da instrução criminal”, diz Vallisney Oliveira na peça.

Ricardo Leal foi o principal arrecadador de campanha do então candidato ao Governo do Distrito Federal (GDF) Rodrigo Rollemberg (PSB).

Outro lado
Todos os citados foram procurados, mas a reportagem não conseguiu localizar a defesa dos três doleiros citados. O BRB não havia respondido sobre a relação do banco com os operadores financeiros.

Em resposta enviada à época da deflagração da Circus Maximus, o BRB afirmou, em nota, apoiar e cooperar “integralmente com todos os órgãos competentes que conduzem a operação”. Pontuou, também, que a ação corre em segredo de Justiça e todas as informações serão repassadas exclusivamente às autoridades policiais. “O BRB adotará todas as medidas judiciais cabíveis visando preservar o banco e suas empresas controladas”, completou.

Segundo o LSH Hotel, os fatos investigados referem-se a um período anterior à atual administração da companhia. Frisou, ainda, que a empresa colabora com a PF e o MPF. “O LSH Hotel se mantém operando normalmente e sem impacto para os hóspedes”, concluiu.

O advogado Marcelo Bessa, do Grupo Brasal, uma das empreiteiras responsáveis pelo Praça Capital, afirmou que “a empresa não cometeu nenhum ato ilícito, nem seus executivos. A companhia tem certeza de que as investigações demonstrarão a lisura de seus atos e empreendimentos”.

O Correio Braziliense argumentou que a emissão de debêntures citada pela decisão judicial “foi uma operação estruturada, que seguiu todas as regras do mercado financeiro”. O veículo informou que irá procurar as autoridades para se colocar à disposição e esclarecer qualquer dúvida.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?