Esposa de médico morto: “Queremos que seja tudo esclarecido”
Viviane Santos Rodrigues cobrou respostas para a morte do marido, baleado durante abordagem da PM na Asa Sul
atualizado
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O corpo do médico endocrinologista Luiz Augusto Rodrigues, 45 anos, será enterrado em Ceres, Goiás, na terra natal dele. No Instituto de Medicina Legal (IML), a esposa da vítima, que morreu após levar um tiro na cabeça durante abordagem da PM na Asa Sul, disse que ele era “uma pessoa muito especial”. Ressaltou que o marido tinha porte, mas não estava armado no momento do crime. E cobrou esclarecimento para o caso, revelado pelo Metrópoles.
“Ele era um médico renomado aqui no DF. Nos nós reencontramos 20 anos depois. Somos da mesma cidade e eu encontrei o Luiz quando ele estava separado e entrei na vida dele para somar. Eu administrava a clínica dele no shopping”, afirmou Viviane Santos Rodrigues, 44.
De acordo com ela, por volta das 14h40 dessa quarta-feira (27/11/2019), ela o levou ao Aeroporto de Brasília. Confirmou, conforme revelou o Metrópoles, que ele iria para o Rio de Janeiro ver o jogo do Flamengo e Ceará e, consequentemente, a entrega da taça de campeão brasileiro ao time rubro-negro, no Maracanã. “Mas não deu certo. O voo foi cancelado. Retornei para buscá-lo, ele me deixou em casa e saiu para assistir ao jogo à noite”, destacou.
Viviane disse que foi dormir e, quando acordou nesta quinta-feira (28/11/2019), o filho lhe deu a notícia da tragédia. Ela cobrou “investigação profunda” sobre o crime. “O Luiz tem porte de arma, mas não andava armado. Queremos saber o que o amigo policial fez. Não é novidade para ninguém. Eu não aprovava essa amizade”, disse.
Segundo ela, havia uma marca de bala na porta do carro da vítima. “Não sabemos o que aconteceu. Queremos que seja tudo esclarecido. O meu marido não atirou. O policial amigo dele que tirou a arma”, afirmou.
Luiz Augusto deixa dois filhos, de cinco e 11 anos. O soldado que fez o disparo se apresentou na 1ª Delegacia de Policia (Asa Sul) e foi liberado. Ele está afastado das ruas e recebendo apoio psicológico, segundo apurou o Metrópoles.
A morte será investigada pela PCDF e pela Corregedoria da PM. Segundo testemunhas, antes de levar o tiro, Luiz Augusto Rodrigues assistia ao jogo do Flamengo no Bar e Restaurante Cabana, na Entrequadra 314/315 Sul, ao lado de um amigo policial reformado.
O proprietário do estabelecimento disse que o médico era cliente do local há cerca de dois anos. O neto do empresário, de 15, inclusive, era paciente de Luiz. “Hoje é um dia triste. Eu não estava aqui ontem (quarta) e não presenciei nada. Só hoje quando acordei recebi informações sobre tudo. Lamento. Perdi um freguês e amigo. Profissional de primeira. Uma pessoa totalmente do bem.”
Valcir Rodrigues de Souza, 46, trabalha com serviços gerais em um bloco residencial da 314 Sul. Ele conta que estava em uma pizzaria na quadra quando ouviu dois disparos de arma de fogo e, ao se assustar com o barulho, subiu para ver o que havia ocorrido. “Tinha uma aglomeração de gente. Em poucos minutos, cerca de 15 viaturas da PMDF já estavam no local”, destacou.
Os tiros teriam sido disparados após militares verem dois homens em atitude suspeita. Eles estavam em frente ao Teatro dos Bancários, perto de uma caminhonete.
Os policiais deram voz de abordagem e, segundo os relatos da corporação, um dos homens sacou uma arma e apontou para os PMs. O soldado reagiu e fez um disparo que acertou o médico. A vítima estava desarmada. O homem que estava com o endocrinologista é um PM reformado e portava uma arma calibre .38.
O tiro que atingiu Luiz Augusto saiu de uma carabina, da Imbel, calibre 5.56. O Corpo de Bombeiros foi acionado e constatou a morte no local.
Nota da PM
Por meio de nota, a Polícia Militar afirmou que o tiro foi dado “diante do risco iminente”. Afirmou ainda que “os policiais não tiveram alternativa e efetuaram dois disparos, que atingiram um dos homens”.
O Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF) lamentou a morte do endocrinologista. Disse que se solidariza com a esposa e os familiares do especialista e esperar que o fato seja investigado pelas autoridades policiais com “celeridade e rigor”.