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Espera dolorosa: DF tem 2,2 mil pessoas na fila para tratamento de câncer na cabeça

Diagnosticadas com a doença e sem atendimento no tempo necessário, pessoas correm risco de vida e de perder partes do rosto e do pescoço

atualizado

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Paciente que perdeu a mandíbula
1 de 1 Paciente que perdeu a mandíbula - Foto: Material cedido ao Metrópoles

O servidor público aposentado Walter Gonçalves da Silva (foto em destaque), de 58 anos, conseguiu atravessar a longa fila para cirurgias de câncer na cabeça e pescoço na rede pública de saúde do Distrito Federal. Mas a lentidão no atendimento foi mutiladora. O tumor maligno agressivo avançou e a mandíbula do paciente precisou ser retirada.

A fila continua a castigar vidas, a exemplo de Antônia Arcanjo Oliveira Fernandes, de 70 anos. Mãe de 12 filhos, ela não consegue mais respirar sozinha. Foi diagnosticada com câncer na Tireoide. A doença atingiu o pulmão e está em franca metástase.

Veja o drama de Antônia:

Segundo a Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF), atualmente, a rede pública brasiliense enfrenta demanda reprimida de 1.083 consultas e 1.097 solicitações de cirurgia de cabeça e pescoço. Ou seja, a demora mutila e coloca em risco as vidas de 2,2 pessoas.

“É uma das situações mais graves do DF. Porque a demanda reprimida dobrou em dois anos e aumenta mês a mês”, alertou do coordenador do Núcleo de Saúde da DPDF, Ramiro Sant’ana. O tratamento público local é feito pelo Hospital de Base. No patamar federal, o Hospital Universitário de Brasília (HUB) trata os doentes.

De acordo com a Defensoria, os pacientes com classificação vermelha estão sendo atendidos dentro dos prazos adequados, em pouco mais de um mês. Os demais não conseguem tratamento no tempo certo. Pacientes amarelos aguardam dois anos; verdes, por 4 anos e azuis, por até seis anos, considerando as filas para consulta e cirurgia.

“Em algumas doenças a progressão da espera pode significar a perda de chance de cura ou mutilações maiores, na área da face, na boca, pescoço. Em casos benignos, a demora acarreta na perda da qualidade de vida, com caroços, dores, compressão dos canais respiratórios e digestivos, dificuldade para dormir”, resumiu Ramiro.

Mesmo nos casos de agendamento da cirurgia, pacientes não são atendidos. Conforme levantamento da Defensoria, em 2021, 76% dos procedimentos cirúrgicos marcados não foram executados. Por isso, para o órgão de defesa da população, a situação é “uma calamidade pública”.

Leia a ACP:

ACP – Cirurgia de Cabeça e Pescoço by Metropoles on Scribd

“A rede pública não consegue atender a demanda por falta de salas cirúrgicas e de profissionais. O DF precisa de outras unidades para atendimento da população”, afirmou o defensor. Em busca de solução para o drama dos pacientes, a DPDF ajuizou um ação civil pública (ACP).

A peça cobra providências da Secretaria de Saúde do DF e do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF), responsável pelo maior hospital público da capital do país. O juiz Henaldo Silva Moreira começou a analisar o processo. O magistrado intimou as partes a apresentarem as respectivas manifestações e determinou uma audiência.

Sofrimento

A servidora Joselita Avelino de Carvalho Gonçalves, de 53 anos, é casada com Walter Gonçalves. O casal vive em Sobradinho. O câncer foi diagnosticado em 2018, após dores de dente. Walter começou a ser atendido no Base, mas foi transferido para o HUB.

Após sessões de quimioterapia e radioterapia, a doença foi temporariamente contida. O tumor chegou a sumir, mas voltou depois de seis meses. De volta ao Base, desde 2020, Walter não conseguia acesso à cirurgia por falta de leitos e insumos.

Com apoio da DPDF, o funcionário público conseguiu fazer a cirurgia 5 de outubro de 2021. Nesta terça-feira (19/10), enfrentando uma infecção pós-operatória, Walter continuava internado no Base, sem previsão de alta.

“Ele está se recuperando. É um processo doloroso, de uma cirurgia mutiladora. Ele perdeu a mandíbula. Fizeram um enxerto muito grande, tirando parte do peitoral e do ombro dele”, contou Josi.

Covid

A empregada doméstica Valdirene Oliveira Fernandes, 48 anos, acompanha a batalha pela vida da mãe, dona Antônia Arcanjo, há aproximadamente um ano. A família reside no Jardim Ingá, em Luziânia (GO), no Entorno do DF. “Ela estava bem, andava e fazia tudo. Agora, está fazendo uso do oxigênio e não consegue ficar sem”, contou.

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Dona só consegue respirar com a ajuda de um tanque de oxigênio
Segundo a DPDF, 2.200 pacientes aguardam nas filas para consultas e cirurgias da cabeça e pescoço
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Com a demora no atendimento, a família teme pela morte de dona Antônia

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Dona só consegue respirar com a ajuda de um tanque de oxigênio

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Segundo a DPDF, 2.200 pacientes aguardam nas filas para consultas e cirurgias da cabeça e pescoço

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Mesmo sem resposta da rede pública, a família correu atrás e pagou pelos exames de Antônia em clínicas particulares. Desembolsaram mais R$ 5 mil.

Mas durante as idas ao Base, segundo a família, dona Antônia teria contraído Covid-19. Conseguiu superar a vírus, não precisou ser entubada, mas o tumor continua potente. “A gente vê nossa mãe piorando. Tive de sair do meu serviço para cuidar dela. A cada seis dias, a gente têm que trocar o oxigênio”, disparou.

Após buscar socorro na Defensoria, a família conseguiu uma decisão judicial determinando que a rede pública pague pelo procedimento na rede privada. Familiares buscam três orçamentos, mas a data para a cirurgia ainda está em aberto. Valdirene teme que a demora custe a vida de dona Antônia.

Outro lado

Segundo a Secretaria de Saúde, a pandemia de Covid-19 aumentou a demanda reprimida da rede pública, mas, atualmente, o cenário de atendimento estaria apresentando uma melhora. Por outro lado, está em análise uma ampliação do atendimento em parceria com o HUB.

Leia a nota completa:

“A Secretaria de Saúde esclarece que o Sistema de Regulação de Cirurgias Eletivas (SISREG) existe no âmbito da pasta como medida de controle das filas para procedimentos eletivos.

É importante ressaltar que a fila para cirurgia de cabeça e pescoço abrange pacientes de outros estados, além do Distrito Federal, e, atualmente, conta com cerca de 1.200 pacientes cadastrados para realização do procedimento cirúrgico.

Devido à pandemia, houve aumento da demanda reprimida, uma vez que leitos de UTI destinados aos pacientes cirúrgicos foram mobilizados para atendimento de pacientes com Covid19 tendo em vista a criticidade do momento.

A pasta destaca que os números da fila são dinâmicos e atualizados periodicamente. Alguns desses pacientes cadastrados já podem ter sido operados em seu estado de origem; encaminhados para outras modalidades terapêuticas ou mesmo perdido a possibilidade cirúrgica devido à progressão da doença oncológica.

A secretaria reconhece que a pandemia ocasionou alguns transtornos e limitações na rede pública do DF, incluindo o Instituto de Gestão Estratégica (Iges). No entanto, o referido instituto apresenta relativa melhora na oferta de salas cirúrgica e leitos de UTI para o pós-operatório, o que pode ser demonstrado com a solicitação crescente de mais horários de cirurgia por parte da Unidade de cirurgia e pescoço.

Por oportuno, a pasta ressalta que avalia a ampliação de atendimento da especialidade junto ao Hospital Universitário de Brasília (HUB), para ofertar mais vagas aos pacientes oncológicos do Distrito Federal”.

A reportagem também tentou contato com o Iges-DF, mas não recebeu respostas. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.

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