“Espancaram os meninos e mataram o cachorro”, diz mãe sobre a PMDF
Mãe dos três jovens detidos após operação alega truculência e abuso de autoridade por parte da Polícia Militar. Corporação nega
atualizado
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Mãe de três dos rapazes considerados suspeitos pela Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) durante abordagem na madrugada desta sexta-feira (30/10), no Gama, Cristina Ferreira, 48 anos, conversou com o Metrópoles. A mulher nega que os filhos sejam criminosos. “Eles coagiram os meninos, que são jovens. Com medo, todos correram para dentro de casa”, diz.
O caso teve início por volta das 3 horas desta sexta-feira, no Gama Leste. Segundo a PM, os três suspeitos foram abordados e, em seguida, fugiram. Após checarem as placas das motos em que os rapazes estavam, os militares constataram que uma das motocicletas tinha o chassi adulterado. Imediatamente, os policiais iniciaram a perseguição, que terminou quando os homens entraram em uma casa, na Quadra 5 da região administrativa.
Segundo o major Michello Bueno, porta-voz da PMDF, houve tentativa persistente de rendição do grupo, que não obedeceu ao comando dos militares. “Os policiais buscaram uma negociação primária para que os jovens saíssem da residência, mas eles não quiseram. O apoio do Batalhão de Operações Especiais da corporação (Bope) foi acionado e iniciou-se a Operação Gerente. Fizemos o cerco, e os suspeitos acabaram se rendendo nesta manhã”, disse o oficial.
A mãe dos jovens detidos alega truculência por parte da PMDF. Cristina diz que a moto foi adquirida em um leilão e o documento precisa de regularização. “A polícia abordou meu filho e meu sobrinho por causa de uma moto irregular. Eles chegaram já batendo nos meninos. Temos testemunha”, afirma a mulher.
Outra queixa de Cristina é sobre o cachorro da família, morto durante a ação da PMDF. A corporação alega autodefesa. Diz que o cão ia atacar os militares. Cristina nega: “Ele é manso. Nunca avançou em ninguém, e o policial deu quatro tiros nele. Matou o animal”, reclamou.
Foram seis horas de tensão. Os rapazes cederam ao apelo dos homens do Bope por volta das 9h30. “Tinha possibilidade de arma dentro da casa, e há locais aqui na região, que sabemos, são pontos de tráfico. A regra, a doutrina, por questões de segurança dos policiais, é não adentrar a casa”, frisou o major.
De acordo com a PM, durante a negociação de rendição, os jovens jogaram pedras, telhas e feriram dois policiais, um deles no olho. Uma viatura foi danificada.
Vizinhança
Toda a movimentação madrugada adentro deixou os moradores da Quadra 5 do Gama Leste em polvorosa. Após ouvir disparos de arma de fogo, os vizinhos da casa de Cristina ligaram para a polícia. Depois chegou ao conhecimento deles que os tiros tinham partido da própria PM, momento em que o cão da família foi morto.
Sob a condição de anonimato, uma moradora disse que mora no local há 50 anos e afirma conhecer os rapazes. “Esses meninos cresceram na rua. Conhecemos eles. São trabalhadores, nunca deram indícios de confusão. Isso nunca ocorreu na nossa rua”, assinalou a senhora.
Segundo a testemunha, os três jovens são filhos de um policial militar. “O PM, pais de três deles, é amigo de todos aqui. Estamos sem entender de fato o que aconteceu. Eles não são bandidos”, defendeu.
Todos os envolvidos foram encaminhados para a 20ª Delegacia de Política (Gama). Delegado plantonista da unidade, Felipe Augusto disse que os jovens conduzidos pela PMDF serão ouvidos ao longo do dia. “O menor foi encaminhado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), e os demais vão prestar depoimentos após os policiais. Estamos analisando a questão da viatura da PM danificada e a lesão corporal do militar. Também a corrupção de um menor”, salientou o investigador.