Espancada por tatuador, vítima deixará DF por medo do ex-namorado
Jovem de 22 anos foi mantida em cárcere privado por 11 dias e chegou a ficar sem comer. Com marcas pelo corpo, ela viaja nesta segunda-feira
atualizado
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O sonho de ter uma vida diferente, conseguir um emprego e crescer profissionalmente acabou para Viviane* (foto em destaque), 22 anos. Há sete meses, ela saiu do Nordeste e veio para o DF em busca do sonho de crescer. Pouco após chegar, conheceu o tatuador José Messias Alves, 37 anos. Dependente químico, ele é acusado de agressões e de manter a ex-namorada em cárcere privado por 11 dias. O tormento só acabou em 10 de janeiro, quando ela foi resgatada. Nesta segunda-feira (12/01/2020), Viviane deixará o DF com a irmã e voltará para a terra natal.
O Metrópoles esteve na casa de Viviane na tarde deste domingo (1e/01/2020) e ela relatou o drama vivido nos últimos dias. Balconista de padaria, ela contou que as agressões começaram na véspera de Natal. Em sua própria residência, localizada em Ceilândia, ela foi amordaçada, agredida com uma barra de ferro e outros objetos, além de submetida à pressão psicológica. Ainda ficou dois dias sem comer ou beber nada.
Hoje, está com manchas roxas por todo o corpo: rosto, barriga, pernas e braços. Depois de tudo que viveu e com traumas, a vítima contou que agora quer se recuperar. “Vai ser difícil voltar a confiar em outra pessoa, mas eu vou tentar”, disse.
Viviane contou que conheceu José Messias há seis meses e que ele foi morar com ela em 6 de dezembro, quando o tatuador saiu de uma clínica de reabilitação para dependentes químicos.
Assim que começaram a se relacionar, José colocou uma faca no pescoço dela. Na época, Viviane achou que fosse só uma cena de ciúmes e não levou a sério. A segunda agressão de que a vítima se recorda foi em 24 de dezembro, quando apanhou do tatuador.
As cenas de violência aumentaram até ela ser mantida em cárcere privado. A jovem conta que tinha conhecimento sobre uma acusação de homicídio contra o ex-namorado e do histórico de agressões, porém, não acreditou. “Não vi no olhar dele que poderia fazer algo de mal contra mim”, relatou.
Sobre a internação na clínica de reabilitação, a vítima contou que José Messias não foi liberado: ele teria fugido após tentar matar uma pessoa no local. “Ele disse que não podia voltar para a clínica nem para a casa de nenhum parente”, completou.
Prisão
Mesmo com a prisão em flagrante do tatuador, Viviane não se sente segura para permanecer na capital nem no emprego que tinha como balconista em uma padaria. Ela tem medo de morrer.
Segundo a irmã dela, o retorno para o Nordeste será um alívio para a família. “Estou feliz por levá-la de volta”, disse ao Metrópoles. Porém, as duas ainda estão temerosas, pois o agressor teria ameaçado o primo de ambas. “O José sabe onde ele mora. Se for solto, é capaz de matá-lo”, disse a irmã da vítima.
“Pó e pedra”
Segundo Viviane, nos dias em que foi mantida presa e torturada, o namorado se drogava, “usava pó e pedra”. Segundo a vítima, quando estava sob o efeito dos entorpecentes, ele ficava calmo. “Quando passava, ficava enfurecido e voltava a me bater”, relatou à reportagem.
Em uma das 11 noites de cárcere, José Messias precisou comprar droga e permitiu que Viviane saísse de casa com ele. Isso foi na última quinta-feira (09/01/2020). Ela vestiu calça e blusas de mangas compridas e soltou o cabelo para ir com o tatuador até o ponto de venda de entorpecentes. “Eu precisava respirar, então ele me deixou sair. Porém, me ameaçou durante todo o caminho, de ida e de volta, com uma faca. Eu não consegui fugir”, disse Viviane.
Ameaças
Na quinta-feira em que saíram de casa, Viviane relatou que teve medo de morrer. A mulher e o então namorado estavam voltando para a residência com um carro de aplicativo de transporte quando viram a polícia na porta da casa dela. Um colega de trabalho havia denunciado o sumiço da jovem. “José começou a me enforcar no carro e ameaçou o motorista com uma faca”, segundo relata a vítima.
De lá, partiram para a casa da irmã do tatuador. Após ser espancada, dessa vez na frente dos sobrinhos, a irmã teria dito ao agressor: “Não bate mais nela hoje, deixa para amanhã. Hoje, ela não aguenta mais, se continuar ela vai morrer. Amanhã você bate mais”, relatou a vítima.
Um dia depois, José e Viviane voltaram para casa. O tatuador chamou uma ex-namorada para o local. Claudia* havia recebido vídeos de Viviane sendo espancada e um pedido de ajuda do tatuador. Ciente de que a polícia o procurava, ele combinou com as duas para que mentissem em depoimento. A ex falaria que os machucados teriam sido fruto de uma briga entre elas.
Claudia se recusou. Ele ordenou, então, que ambas falassem que as agressões ocorreram em uma festa. As duas concordaram, mas, ao chegar na delegacia, contaram a versão real do cárcere privado deste o dia 31 de dezembro. Naquele momento, ela foi resgatada e inserida no programa de proteção às vítimas.
De acordo com o delgado responsável pelo caso, Gutemberg Morais, a vítima estava em choque quando chegou à delegacia. “Ela parecia não estar ciente da situação. Estava em choque”, afirmou o delegado da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia).
Às vítimas de violência, Viviane deixou um recado: “Espero que as mulheres não tenham medo de falar, como eu tive. Uma noite a mais e eu não estaria aqui para contar a minha história.”
*Nome fictício para preservar a identidade da vítima