Equipe de limpeza do Base não troca EPIs ao atender cardiologia e Covid-19
Acompanhante de um idoso conta sobre a rotina no 4º andar há 7 dias. “Profissionais da limpeza entram e saem sem higienização”, denuncia
atualizado
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A internação de João* no Hospital de Base está cercada de riscos e apreensões. O idoso de 76 anos aguarda para fazer uma cirurgia no coração, há sete dias, no 4ª andar da unidade pública de saúde. Embora a área seja reservada a pacientes com cardiopatias, pessoas com coronavírus foram instaladas em leitos vizinhos ao do idoso. Segundo a acompanhante de João, não bastasse o temor com a proximidade de pacientes com Covid-19 a um de idade avançada e com comorbidade, há grande preocupação quanto ao desrespeito aos protocolos de limpeza dos leitos.
Para o andar da cardiologia, teriam sido levadas pessoas que aguardam confirmação do diagnóstico de coronavírus ou casos graves já confirmados, que esperam remoção para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Conforme relatou a acompanhante de João ao Metrópoles, funcionários responsáveis pela higienização do espaço transitam entre os leitos de pacientes com cardiopatias e os reservados a infectados pela Covid-19 sem trocar os equipamentos de proteção individual (EPIs) ou passarem por desinfecção.
O Instituto de Gestão Estratégica (Iges-DF), que administra o hospital, nega qualquer irregularidade e não confirmou que pacientes com e sem Covid-19 dividem o mesmo andar. A reportagem, contudo, confirmou a informação com enfermeiras e outros servidores do Hospital de Base. Todos alertaram para o risco de contaminação cruzada.
“Os profissionais da limpeza entram paramentados nos quartos dos infectados, recolhem o lixo e, depois, sem trocar de roupa ou se desinfectar, pegam nas paredes, em várias superfícies e entram nos quartos dos outros pacientes, sem coronavírus ou outras doenças infecciosas. Eles saem da área restrita e entram nos outros leitos”, denunciou a acompanhante.
A mulher detalhou conversa que teve com uma trabalhadora da limpeza, que saía de um quarto de paciente em área restrita e entrou no leito do idoso de 76 anos sem a devida desinfecção. Segundo ela, a profissional respondeu que a atitude seria protocolo da empresa terceirizada pela qual é contratada. Além disso, não haveria ninguém para substituí-la. “Assim, ela ia limpando os leitos desse jeito mesmo”, contou, indignada.
Confira imagens cedidas ao Metrópoles:
A cirurgia do idoso que está no leito do 4º andar foi marcada, mas ele e os familiares ainda têm um longo tempo de espera dentro do Hospital de Base. O medo é que o homem, grupo de risco da Covid-19, seja contaminado no ambiente hospitalar e sua condição de saúde, já delicada, acabe agravada.
Outro lado
Por meio de nota, o Iges-DF afirmou seguir todos os protocolos de limpeza e desinfecção para prevenção do novo coronavírus nas unidades que administra. “No Hospital de Base, houve um aditivo de 30% para intensificar a higienização de todas as áreas. Os profissionais de limpeza, ao entrar em locais onde há risco de infecção fazem a devida paramentação e desparamentação para evitar qualquer tipo de contaminação”, afirmou o instituto.
Segundo a nota, além de capotes, os profissionais do setor “usam luvas e outros acessórios específicos, bem como utilizam materiais identificados e separados para uso apenas nessas alas, evitando a transmissão de qualquer agente patológico para outros setores”, diz o documento.
O instituto nega ainda a abertura de leitos para Covid-19 no quarto andar, apesar das informações da acompanhante do idoso que está internado lá há sete dias e de servidores da unidade de saúde.
Seguindo o Iges, todos os leitos para Covid-19 ficam em áreas isoladas no prédio do pronto-socorro. “Durante a pandemia, pacientes que já estão internados por outros motivos e porventura apresentarem algum sintoma da Covid-19 são isolados nessas áreas e testados, como medida preventiva e visando à proteção de todos os pacientes e colaboradores”, concluiu na resposta à reportagem.