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Entregadores de app fazem buzinaço após sócio de restaurante destratar motoboy

Manifestação pede respeito à categoria. Organizador do evento disse que o caso de Elton não é uma ocorrência isolada

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Gustavo Moreno/Especial Metrópoles
Protesto de motoboys em frente ao Parkshopping
1 de 1 Protesto de motoboys em frente ao Parkshopping - Foto: Gustavo Moreno/Especial Metrópoles

Entregadores por aplicativo fazem uma manifestação, nesta terça-feira (20/7), em frente ao ParkShopping, após um sócio do restaurante Abbraccio destratar um motoboy, no último sábado (17/7). O protesto começou às 11h.

O motoboy que foi destratado por um sócio do restaurante Abbraccio, do ParkShopping, Elton dos Santos Silva, de 31 anos, diz que se sentiu humilhado durante o episódio ocorrido na tarde de sábado (17/7).  Um vídeo registrou o momento da discussão e viralizou nas redes sociais.

Assista ao vídeo do buzinaço:

Inicialmente, o entregador havia se identificado com o Everton, irmão dele, mas diante da repercussão do caso, voltou atrás e corrigiu o nome.

O organizador do ato desta terça, Abel Santos, 29 anos, é morador do Recanto das Emas e trabalha como motoboy. Ele diz que a manifestação de hoje pede respeito a toda a categoria. “Ele [motociclista destratado por sócio da Abbraccio] não foi o primeiro e não será o último a passar por situações assim”, afirmou.

“A categoria inteira se revoltou com o caso dele, porque nós temos uma lei regulamentada, desde novembro do ano passado, pedindo os pontos de apoio. Ele nada mais estava fazendo do que carregando o celular. E é por isso que estamos lutando. Para ter um espaço não só de carregar o celular; mas de comer, porque muitos de nós temos que comer no estacionamento; pelo banheiro, porque quando a gente entra com a bag dentro do shopping, qual é a primeira coisa que o segurança faz? O entregador é barrado”, disse Abel.

Na ocasião, ele também pediu uma posição mais firme de aplicativos em relação a casos como o de Elton. “Nós queremos respeito.”

“Quando teve lockdown quem foi que sustentou os restaurantes? Os motoboys. Se não fossem os motoboys, estavam todos eles sem receber”, enfatizou o motociclista.

“Quando começou a vacina, quem nunca parou? Os motoboys. E quem está sendo vacinado? Não deram prioridade para o motoboy. É isso que a gente pede, é só um pouco de respeito, porque dinheiro a gente nunca recebeu”, completou.

Veja imagens da manifestação:

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Autor da lei que garante os pontos de apoio para entregadores de aplicativo, o deputado distrital Fábio Felix (PSol) esteve na manifestação. “Vim prestar a minha solidariedade. Nós agora vamos apresentar um novo projeto de lei proibindo a discriminação contra entregadores de aplicativo e profissionais em qualquer estabelecimento no Distrito Federal. É desumano, é absurdo aquele vídeo”, comentou.

“E não é só aquele vídeo. A gente tem vários áudios, muitas pessoas que têm enviado denúncias para nós, que não conseguem usar o banheiro, que não conseguem usar um carregador, que não conseguem fazer nada porque os estabelecimentos não deixam que eles utilizem. Então essa é uma preocupação que nós temos”, acrescentou o parlamentar.

Elton é casado e pai de três filhos. Ele está morando temporariamente na casa da cunhada, na Estrutural, enquanto espera receber a chave do apartamento que comprou em Valparaíso (GO). É com o dinheiro que ganha com as entregas que sustenta a família.

O entregador de aplicativo afirma que trabalha na categoria há quase dois anos e que precisa do emprego. “Eu dependo disso para sobreviver. Trabalho para o iFood, não tenho como escolher. O iFood vai mandar a rota para mim e eu vou ter que ir lá e fazer, cumprir o meu papel”, pontua.

Para ele, a classe de entregadores de aplicativo “é mal vista pela sociedade”. “Tem certos condomínios mesmo em que a gente é tratado como se fosse ladrão. Você só vai entrar se tem contatos. Tem que falar que é pai de família e está trabalhando. É constrangedor. A gente é muito mal visto, a verdade é essa.”

O Metrópoles procurou o iFood, que se pronunciou por meio de nota:

“O iFood não compactua com esse tipo de conduta e repudia qualquer ato de violência – física, moral, psicológica ou verbal -, de acordo com os valores presentes no Código de Ética e Conduta, que também se aplica aos parceiros. Assim que o iFood tomou conhecimento do caso, fez contato com seus parceiros, tanto para esclarecimentos e orientações do estabelecimento, como para apoio ao entregador.”

Entenda o caso

Um sócio do restaurante Abbraccio foi gravado discutindo com o motoboy que estava sentado na entrada do ParkShopping, carregando o celular.

Em vídeo, o empresário aparece no telefone e, quando desliga, diz ao entregador: “Na minha loja, você não pisa mais. Se eu pedir para alguém te ver aqui… Já vou te excluir do Ifood, beleza? Só isso que eu tenho para te falar”. O sócio do restaurante italiano prossegue: “E tu não folga, não. Você não está na sua casa. Eu estou neste shopping tem 15 anos, não vai chegar um motoboy aqui e achar que manda, não, beleza?”

O homem, então, vira-se para um funcionário do shopping e reclama: “Vocês não deviam deixar o cara com isso aqui para carregar. Isso aqui é do shopping. Vou ligar para o Carlos Alberto, porque isso aqui não pode acontecer. Não tem condições. Pago R$ 140 mil de aluguel para o motoboy sentar aqui e colocar o celular dele para carregar? Não vou nem a pau”.

Veja o vídeo:

O outro lado

Em nota enviada à reportagem, o Bloomin’ Brands, grupo detentor da marca Abbraccio, informou que “respeitamos todo e qualquer tipo de manifestação responsável”.

“Estamos no Brasil há 23 anos, e temos um relacionamento genuíno com as nossas pessoas e os fornecedores que trabalham conosco. Informamos também que já conversamos com o sócio do restaurante em relação à condução do trabalho com os entregadores locais e já estamos apurando toda a situação e tomando as providências necessárias”, acrescentou a empresa.

Confira a nota na íntegra:

“Primeiramente, registramos aqui que respeitamos todo e qualquer tipo de manifestação responsável. Pedimos desculpas mais uma vez e afirmamos que o que é retratado no vídeo não condiz com a nossa relação com os profissionais de entrega. Tentamos contato com o Éverton [Elton] para nos desculpar pessoalmente, ainda sem sucesso, mas reforçamos publicamente esse pedido de desculpas. O sócio do restaurante foi afastado para que possamos apurar todos os pontos e refazer o processo de orientação do trabalho com os entregadores locais. Estamos no Brasil há 23 anos e temos um relacionamento genuíno com as nossas pessoas e os fornecedores que trabalham conosco.

Nada justifica o desalinhamento com nossos procedimentos e já iniciamos a reorientação de todo o time do restaurante em relação à nossa filosofia para que situações como esta não voltem a acontecer.

Para nós, é muito importante reforçar que temos uma relação de respeito e profissionalismo com todos os motoboys responsáveis pela logística do nosso delivery e isso se reflete no dia a dia com o atendimento de milhares de pedidos todos os meses em todas as cidades onde estamos presentes.”

Para o Metrópoles, o ParkShopping Multiplan lamentou profundamente o ocorrido e esclareceu que o vídeo foi gravado em local de suporte para trabalhadores das operações de entrega.

“Respeitamos todos os públicos que frequentam o ParkShopping e prezamos pela boa convivência e relacionamento cordial entre lojistas, colaboradores, prestadores de serviço, clientes e todos que circulam e trabalham no shopping”, informou o texto.

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