metropoles.com

Risco de fuga de bispo para Itália embasou pedido de prisão preventiva

Em diálogos interceptados com autorização da Justiça, um dos envolvidos no suposto esquema de desvios de dízimos fala dessa possibilidade

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Matheus Oliveira/Divulgação
Dom José Ronaldo (3)
1 de 1 Dom José Ronaldo (3) - Foto: Matheus Oliveira/Divulgação

Um dos motivos que levaram o Ministério Público de Goiás a pedir a prisão preventiva dos suspeitos de participação no suposto esquema de desvio de dinheiro de Igreja Católica no Entorno do DF é o risco de fuga dos envolvidos. Isso porque, nas intercepções telefônicas feitas pelos investigadores com autorização da Justiça, os interlocutores falam nessa possibilidade.

Em um dos diálogos, o contador da Cúria Diocesana, Darcivan da Conceição, revela o temor em relação às investigações do MP a um padre identificado como Romilson. “Eles estão chamando pouco a pouco”, diz ele. Do outro lado da linha, Romilson indaga: “Será que vão me chamar?”.

A conversa, do dia 7 de março deste ano, continua e, em determinado momento, Darcivan, um dos presos na Operação Caifás, afirma que “o pessoal está com medo de o bispo [José Ronaldo, de Formosa] fugir”. “O pessoal tava falando o seguinte: que está com medo de ele fugir para não ser preso”, revela um dos trechos. E completa: “Estão de olho nele porque se ele falar em sair, o pessoal vai acionar a Justiça.”

Reprodução

Conforme pontuou um dos promotores que conduzem as investigações, esse trecho da conversa é revelador e ajudou a embasar o pedido da preventiva. “Identificamos nas transições telefônicas a possibilidade de fuga do bispo para a Itália. Foi um dos motivos para o pedido de prisão preventiva dele”, afirmou Douglas Chegury, em entrevista ao Metrópoles.

Segundo o promotor, durante os depoimentos, os presos tiveram “amnésia seletiva”. Ouvido na quinta-feira (22), o bispo José Ronaldo foi o único a ficar completamente calado durante a oitiva. “Todos os outros falaram, mas quando eram confrontados usavam respostas evasivas, tipo: ‘Não sei’ ou ‘não lembro'”, ressaltou.

Nesta sexta (23/3), a Justiça decretou a prisão preventiva de oito presos na Operação Caifás. Entre os que ficaram encarcerados no presídio de Formosa, está dom José Ronaldo. Ao todo, 11 pessoas passaram a ser réus perante a 2ª Vara Criminal do município goiano. Elas responderão por delitos como associação criminosa, falsidade ideológica, apropriação indébita e lavagem de dinheiro.

8 imagens
Juiz eclesiástico Tiago Wenceslau depôs no mesmo dia
Monsenhor Epitácio Cardozo Pereira chegando para prestar depoimento
Fiéis esperaram, do lado de fora do MP de Formosa, os padres que foram prestar depoimento na quarta-feira (21)
1 de 8

O bispo dom José Ronaldo prestou depoimento nessa quinta (22/3). Ficou calado o tempo todo

Simonny Santos/Especial para o Metrópoles
2 de 8

Juiz eclesiástico Tiago Wenceslau depôs no mesmo dia

Simonny Santos/Especial para o Metrópoles
3 de 8

Simonny Santos/Especial para o Metrópoles
4 de 8

Simonny Santos/Especial para o Metrópoles
5 de 8

Monsenhor Epitácio Cardozo Pereira chegando para prestar depoimento

Simonny Santos/Especial para o Metrópoles
6 de 8

Fiéis esperaram, do lado de fora do MP de Formosa, os padres que foram prestar depoimento na quarta-feira (21)

Simonny Santos/Especial para o Metrópoles
7 de 8

Interior do templo religioso

Vinicius Santa Rosa/Especial para o Metrópoles
8 de 8

Igreja Nossa Senhora Imaculada Conceição de Sobradinho, onde o bispo atuou por 22 anos

Vinicius Santa Rosa/Especial para o Metrópoles

Para o juiz Fernando Oliveira Samuel, da 2ª Vara Criminal da Comarca de Formosa, há motivos suficientes para manter os acusados presos de forma preventiva. Entre eles, o fato de as interceptações telefônicas mostrarem que os denunciados intimidam e coagem os padres não envolvidos nas atividades ilícitas. “Uma vez soltos, poderão efetivamente intimidar testemunhas nessa apuração”, disse, em sua decisão.

Chegou-se ao ponto de os representantes maiores da Cúria Diocesana convocarem o agora réu e padre Thiago Wenceslau, morador de distante localidade, a se dirigir nesta diocese, sob o título de juiz eclesiástico, com o único e sombrio propósito de julgar os padres que estavam a criticar ou questionar a forma de administração por parte da administração da Cúria, composta essencialmente pelo bispo José Ronaldo, pelo vigário-geral Epitácio e pelo ecônomo Mário Vieira

Fernando Oliveira Samuel, juiz da 2ª Vara Criminal da Comarca de Formosa

Entre as provas materiais apontadas pelo juiz para embasar o acolhimento da denúncia do MP, estão R$ 75 mil achados na residência paroquial de Epitácio, pelo menos 12 recibos que podem demonstrar a forma de atuação do grupo e declarações diversas apreendidas nos autos. “Ainda constam o Comunicado à Sociedade e ao Povo de Deus da Diocese de Formosa e o Relatório Contábil, que aparentemente constam informações falsas sobre a contabilidade da Mitra Diocesana de Formosa”, destacou o magistrado da 2ª Vara Criminal de Formosa.

Os suspeitos foram encarcerados durante a operação deflagrada na segunda-feira (19), com o apoio da Polícia Civil de Goiás. A Justiça decretou a prisão temporária dos acusados, que vencia nesta sexta (23). Eles são acusados de desviar ao menos R$ 2 milhões de recursos da Igreja Católica.

 

Confira os crimes que os acusados vão responder na Justiça:

Bispo José Ronaldo Ribeiro: associação criminosa, falsidade ideológica e apropriação indébita

Monsenhor Epitácio Cardozo Pereira: apropriação indébita e associação criminosa

Moacyr Santana (pároco da Catedral Nossa Senhora Imaculada Conceição, Formosa): associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação indébita

Edimundo da Silva Borges Júnior (advogado da Cúria): associação criminosa e falsidade ideológica

Darcivan da Conceição (contador da Cúria): associação criminosa e falsidade ideológica

Guilherme Frederico Magalhães: associação criminosa e apropriação indébita

Mário Vieira de Brito (pároco da Paróquia São José Operário, Formosa): associação criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica

Thiago Wenceslau de Barros (juiz eclesiástico): associação criminosa e falsidade ideológica

Waldson José de Melo (pároco da Paróquia Sagrada Família, Posse): apropriação indébita e associação criminosa

Antônio Rubens Ferreira e Pedro Henrique Costa (empresários apontados como laranjas no esquema): lavagem de dinheiro

 

 

 

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?