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Playboys de batina. MPGO investiga frota de luxo da Diocese de Formosa

Com 33 paróquias, cúria tem 160 veículos registrados. A maioria dos modelos custa acima de R$ 100 mil no mercado

atualizado

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Carros do Bispo
1 de 1 Carros do Bispo - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Em agosto de 2014, na Coreia do Sul, o papa Francisco fez um duro discurso contra autoridades da Igreja Católica que esbanjam dinheiro. Na ocasião, o pontífice criticou a “hipocrisia dos homens consagrados que professam o voto de pobreza, mas vivem como ricos e danificam a alma dos fiéis”.

Apesar de o discurso ter vindo da maior liderança da religião com mais adeptos no planeta, parece não ter chegado aos ouvidos dos padres e bispos ligados à Diocese de Formosa, município goiano a 100km de Brasília. Além de ostentar relógios de marca e ser acusado de deter um patrimônio milionário, o grupo preso no âmbito da Operação Caifás montou praticamente uma concessionária na cúria.

O Ministério Público de Goiás (MPGO) instaurou um novo procedimento para apurar por que uma diocese composta por 33 paróquias possui tantos carros. Um documento, ao qual o Metrópoles teve acesso, aponta a existência de 160 veículos registrados em nome da Diocese de Formosa. Responsável pelas investigações, o promotor da cidade Douglas Chegury levantou a situação de todos os automóveis para saber se a frota foi adquirida de maneira legal.

Sabe-se, até o momento, que alguns padres costumavam vender carros das paróquias, mas não faziam a transferência dos documentos. Depois, compravam um modelo mais novo e o dinheiro do primeiro negócio não era registrado no balancete da igreja.

Um pároco – que não está entre os detidos da Caifás – dirigia uma caminhonete L200 Triton, modelo avaliado em cerca de R$ 115 mil. Ele teria vendido o possante e adquirido um modelo mais novo. Meses depois, sofreu um acidente, resgatou o dinheiro do seguro e comprou uma terceira caminhonete. Em todas as transações, nenhum centavo foi parar na conta da cúria.

O bispo dom José Ronaldo, preso e apontado como líder da organização criminosa suspeita de desviar mais de R$ 2 milhões da igreja, é conhecido em Formosa por seu gosto peculiar por modelos de luxo. Além de desfilar com uma L200 Triton, ele era visto com frequência a bordo de um New Tucson, SUV avaliado em mais de R$ 100 mil.

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Nossa Senhora da Conceição, igreja onde houve celebração da Semana Santa, em 24 de março
Onze pessoas foram alvo da Operação Caifás
Celebração da Semana Santa: padres e bispos passaram a Páscoa encarcerados
Grupo é suspeito de desviar cerca de R$ 2 milhões da Diocese de Formosa
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O promotor Douglas Chegury investiga o caso

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Nossa Senhora da Conceição, igreja onde houve celebração da Semana Santa, em 24 de março

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Onze pessoas foram alvo da Operação Caifás

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Grupo é suspeito de desviar cerca de R$ 2 milhões da Diocese de Formosa

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Nessa terça-feira (27/3), enquanto o bispo auxiliar de Brasilia dom José Aparecido celebrava a missa crismal na calçada da Catedral Nossa Senhora da Conceição, havia um Honda Hr-V, também estimado na casa dos seis dígitos. O veículo está na relação do MPGO. Dom José Aparecido foi designado para presidir as celebrações da Semana Santa na Diocese de Formosa após o escândalo que colocou na cadeia a cúpula da Igreja Católica do Entorno.

Na lista do MPGO, aparecem ainda, em nome da Diocese de Formosa, carros como Fiat Toro, Ford Ranger cabine dupla, Toytota Hillux, Nissan Frontier, Chevrolet S10, Renault Duster, entre outros. Além de optarem por veículos de luxo, as lideranças religiosas faziam questão de dirigir modelos novos, pois a maioria tem data de fabricação entre 2016 e 2018.

Páscoa presos
Acostumadas a comandar missas lotadas durante a Semana Santa, as autoridades religiosas detidas na Operação Caifás permanecerão encarceradas durante a Páscoa. Na terça (27), o Superior Tribunal de Justiça (STJ) indeferiu, liminarmente, habeas corpus a dom José Ronaldo e ao juiz eclesiástico Thiago Wenceslau.

No mesmo dia, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) negou a liberdade para os padres Mário Vieira de Brito, Moacyr Santana, Valdison José de Melo e Epitácio Cardoso Pereira, além dos empresários Antônio Rubens Ferreira e Pedro Henrique Costa – apontados como laranjas do esquema.

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Escândalo chocou fiéis das 33 paróquias da Diocese de Formosa

 

Instauramos um novo procedimento investigativo, a partir do procedimento mãe, para apurar exclusivamente os fatos que dizem respeito aos veículos da diocese

Douglas Chegury, promotor do MPGO

“Cambalacho”
Nas escutas feitas pelo Ministério Público de Goiás, com autorização da Justiça, os acusados falam sobre a frota usada pelos religiosos. Em um trechos, dois padres presos, Moacyr Santana e Mário Vieira Brito, dizem que estavam tendo dificuldades para transferir os carros no Detran. “Bloqueado”, afirma Moacyr para, em seguida, suspeitar que “está tendo cambalacho”. Ele cita 150 veículos que poderiam ficar no nome do bispo José Ronaldo.

Reprodução

 

 

Ao todo, 11 acusados passaram a ser réus perante a 2ª Vara Criminal do município goiano. Eles responderão por delitos como associação criminosa, falsidade ideológica, apropriação indébita e lavagem de dinheiro. Um dos motivos que embasaram o pedido de prisão preventiva foi o fato de que, durante as escutas, os promotores identificaram risco de fuga de dom José Ronaldo para a Itália.

Para a defesa dos acusados, eles não cometeram irregularidades. Ainda de acordo com os defensores, todos os recursos são fruto do “trabalho árduo” dos religiosos nas 33 igrejas que fazem parte da Diocese de Formosa. Em um ano, elas movimentam entre R$ 15 milhões e R$ 16 milhões.

Após o escândalo de desvio de dízimos e doações envolvendo a sede episcopal de Formosa, o papa Francisco nomeou, no dia 21 de março, dom Paulo Mendes Peixoto, arcebispo de Uberaba (MG), como novo administrador apostólico da Diocese da cidade de Goiás, no Entorno do DF.

O Vaticano já havia escolhido dom Paulo Mendes Peixoto para fazer uma “visita técnica” a Formosa, no início deste mês, antes mesmo da prisão do bispo, após receber denúncias de irregularidades na gestão da cúria.

Dom José Ronaldo está no centro das denúncias. Ele teria, inclusive, convocado o juiz eclesiástico de São Paulo para ameaçar e intimidar os clérigos que se recusavam a fazer parte do esquema.

Segundo os investigadores, em 21 de dezembro de 2017, Thiago Venceslau – que teria forjado uma auditoria fiscal – e o bispo promoveram uma reunião. No encontro, os membros da Igreja Católica foram intimidados e constrangidos a declarar apoio ao líder religioso.

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