Eurípedes Júnior não depõe e pede suspeição de delegado
Presidente afastado do Pros foi acusado pela própria filha de agressões e desvios de recursos do Fundo Partidário
atualizado
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O presidente afastado do Partido Republicano da Ordem Social (Pros), Eurípedes Júnior, não compareceu à delegacia de Planaltina de Goiás, onde era esperado para depor nesta segunda-feira (13/01/2020). Ele foi intimado pela Polícia Civil goiana para esclarecer a acusação de agressão, feita pela própria filha, durante um desentendimento.
Por meio de seu advogado, Bruno Pena, o ex-presidente da sigla alegou que não iria depor pois tinha outro compromisso, em Brasília, nesta segunda.
Eurípedes também alegou que fará uso do direito de permanecer em silêncio e pediu que seja reconhecida a suspeição do delegado Cristiomário Medeiros, responsável pelas investigações. Em nota, a defesa do político diz que o policial é “inimigo capital do peticionante, tendo inclusive já ameaçado processar e até insinuar a prisão” de Eurípedes.
A confusão entre Eurípedes e a filha ocorreu em 8 de janeiro e teria sido motivada por uma discussão envolvendo um veículo. A jovem disse, em depoimento, ter uma relação “conturbada com o pai” e que a convivência piorou desde que ele se separou da mãe dela. Conforme o relato da filha, Eurípedes “parou de pagar sua faculdade e a demitiu do serviço”.
Em decorrência do episódio, os dois não se falaram por um ano, mas voltaram a ter contato em 2018. Na última quarta-feira, o presidente do Pros teria procurado a jovem pedindo que ela fosse à sede do partido, pois “precisava do carro dela e iria lhe pagar R$ 15 mil pelo veículo”.
A vítima narra que não aceitou a proposta do pai e, “para não brigar, se levantou e saiu”. Eurípedes, então, conforme consta no depoimento, teria tomado a chave da mão da filha e “passou a lhe dar tapas e pontapés”.
As agressões não teriam cessado nem quando ela conseguiu entrar no carro. Nesse momento, Eurípedes a teria puxado do veículo e a jogado no chão.
A violência foi atestada em relatório médico solicitado pela Polícia Civil goiana. No documento, o médico legista afirma que a vítima apresentava “marcas de dente [duas] e edema em quadril direito”.
Em nota, a defesa de Eurípedes Júnior creditou a denúncia a adversários políticos. Os advogados classificaram o episódio como “um lamentável incidente familiar”.
“Eurípedes financiou um carro para a filha, que se comprometeu a ir pagando as prestações restantes. No entanto, em razão da filha não ter pagado nenhuma das prestações, o pai a chamou para conversar e decidiu retomar o carro”, disse a defesa na época em que o caso veio à tona.
Ainda de acordo com os advogados, “depois de perder o carro, a filha procurou a delegacia para registrar o fato em desfavor do próprio pai. É lamentável que um pai, ao buscar corrigir a filha, tenha um conflito familiar exposto na imprensa”.
Destituição da presidência e polêmicas
Eurípedes Júnior foi destituído do cargo de presidente após reunião do diretório nacional da sigla realizada nesse sábado (11/01/2020), em Brasília.
Por unanimidade, os integrantes da legenda aprovaram as medidas disciplinares previstas no estatuto. Para eles, a permanência de Eurípedes Júnior ficou “insustentável” após inquérito da Polícia Civil de Goiás, que foi remetido à Justiça Federal, acusando o agora ex-presidente de desvio dos recursos do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral, além de lavagem de dinheiro.
Eurípedes Júnior já foi alvo de outro mandado de prisão, em 2018, e chegou a se entregar à Polícia Federal, mas se beneficiou da lei eleitoral, que impede prisões às vésperas ou no dia das eleições. Ele era investigado por desvio de dinheiro da Prefeitura de Marabá (PA).
Também há indícios de que o presidente da legenda tenha agido para destruir provas da compra de um avião com recursos da Saúde destinados pela União ao município de Marabá, no interior do Pará.
A diligência tinha como alvo um suposto esquema de desvio de montante superior a R$ 2 milhões em contratos da prefeitura para compra de gases medicinais em Marabá. Parte dos valores teria sido destinada à aquisição de uma aeronave por João Salame Neto, ex-prefeito da cidade.
A polícia constatou, conforme o pedido de prisão dos investigados, que João Salame seria o elo entre todos os alvos. E que a tentativa de pagamento de R$ 400 mil por Eurípedes Júnior, através das contas do Pros, teve como finalidade simular que a legenda tivesse comprado legitimamente a aeronave.
Essa não é a única polêmica envolvendo Eurípedes e aeronaves. Em 2015, o partido usou R$ 2,4 milhões do Fundo Partidário, dinheiro público, para adquirir um Robinson R66 Turbine, prefixo PP-CHF. O helicóptero foi comprado à vista.
Na época em que a aquisição veio à tona, deputados do próprio partido criticaram o comando da sigla. “Isso é um absurdo. Como pode usar dinheiro público para comprar helicóptero só para vir de Planaltina de Goiás para Brasília?”, queixou-se o então líder da bancada do Pros na Câmara, Domingos Neto (CE), atualmente no PSD.