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Em meio a assassinatos e compra de votos, Entorno elege prefeitos

A disputa eleitoral nos 10 municípios limítrofes à capital da República reflete os problemas no restante do país, com perseguições a adversários, impugnações da Justiça Eleitoral e cooptação de eleitores. Neste domingo (2/10), 571.894 pessoas votarão nessas localidades. A Polícia Federal reforçará a segurança

atualizado

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Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
Divisa DF-Entorno
1 de 1 Divisa DF-Entorno - Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

Eleitores de todo o Brasil vão escolher prefeitos, vice-prefeitos e vereadores neste domingo (2/10). Brasília não terá eleições, mas o clima nas 10 cidades limítrofes ao Distrito Federal, que compõem parte do Entorno da capital da República, está agitado. E não é apenas por causa da disputa por votos. Nas últimas semanas, multiplicaram-se os casos de violência, com atentados, assassinatos e compra de votos.

Diante do cenário conturbado, a Polícia Federal mobilizou cerca de 90 agentes para atuar em Goiás neste fim de semana de votações. Os agentes escalados atuarão em 33 municípios goianos que são de responsabilidade da Superintendência da PF no Distrito Federal. As localidades mais perto de Brasília contarão com esse reforço.

No total, 571.894 pessoas estão aptas a votar em Águas Lindas de Goiás, Cidade Ocidental, Cristalina, Formosa, Luziânia, Novo Gama, Padre Bernardo, Planaltina de Goiás, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso de Goiás. Nesses municípios, há 2.722 candidatos registrados nas urnas (veja infográfico interativo).

A disputa eleitoral no Entorno em 2016 é um reflexo do que ocorre no restante do país. Há mudanças de rumos, crimes e impugnações motivadas por ausência de requisito legais, improbidade administrativa, impedimentos pela Lei da Ficha Limpa, indeferimento de coligações ou de partido e gasto ilícito de recursos públicos.

Assassinatos e agressões
As denúncias de crimes políticos não são raras na região do Entorno. Apesar de os inquéritos não estarem concluídos pela Polícia Civil de Goiás, em agosto, o Pastor Paulino, presidente da coligação (PR/PRP/SD), que apoia a candidata a prefeita Estela Souza (PR) em Santo Antônio do Descoberto (GO), foi morto com quatro tiros no peito.

Em julho, o jornalista João Miranda do Carmo, 54 anos, foi assassinado na cidade, na porta de casa. Os criminosos pararam o carro na frente da residência do jornalista, chamaram-no pelo nome e, ao serem atendidos, dispararam contra ele. João era proprietário de um site de notícias que denunciava problemas do município.

Águas Lindas de Goiás também entrou na lista violenta, com o desaparecimento de Vanderlúcio da Costa Souza, 41 anos, conhecido como Baiano do Camping Club, no período eleitoral. O líder comunitário foi encontrado três dias após o sumiço e havia sido agredido. Ele é conhecido na cidade por fazer oposição e denúncias contra o prefeito candidato à reeleição, Hildo do Candango (PSDB).

O caso mais chocante, no entanto, não ocorreu no Entorno, mas em Itumbiara (GO), que fica a 426km de Brasília. Na última quarta-feira (28/9), o vice-governador e secretário de Segurança Pública de Goiás, José Eliton (PSDB), e o ex-prefeito Zé Gomes (PTB) foram vítimas de um atentado. Gomes e um segurança, que era Policial Militar, morreram na ação. O deputado estadual José Antônio (PTB) e o advogado da prefeitura da cidade, Célio Rezende, também foram baleados. O atirador foi morto pela polícia.

Reeleição judicializada
Outros problemas causam insegurança quanto ao destino dos votos dos eleitores. É o caso das impugnações às candidaturas que ainda aguardam manifestação definitiva da Justiça Eleitoral. Em Luziânia, por exemplo, o pedido de registro do prefeito Cristóvão Vaz Tormin (PSD), candidato à reeleição, foi indeferido pela Justiça e ele aguarda julgamento de recurso. A decisão se estende aos vereadores do PSD no município e à candidata a vice-prefeita Edna Aparecida Alves dos Santos (PROS).

Na decisão da Justiça Eleitoral, consta que Tormin, que também é presidente do PSD no município goiano, teria forjado a assinatura da secretária do partido na ata da convenção da Coligação Luziânia no Caminho Certo. A juíza responsável pelo caso concluiu que o documento é inválido “por conter fraude”. Além disso, Tormin é acusado de redigir o texto minutos antes do prazo final para protocolá-lo no Cartório Eleitoral do município.

Renúncias e impugnações
O Cartório Eleitoral de Valparaíso contabilizou sete renúncias durante o período de candidatura. Quatro candidatos — Afrânio Pimentel (PR), Roberto Martins (PT), Iraquitan (PCdoB) e Pabio Mossoró (PSDB) — tiveram o registro validado e continuam na disputa.

Em Santo Antônio do Descoberto, três candidaturas para a prefeitura, foram impugnadas. O candidato Padre Getúlio (PSB) renunciou, e o registro de Estela Souza (PR) está, de acordo com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO), indeferido, mas com recurso em andamento. O prefeito da cidade, Itamar Lemes do Prado (PDT), que concorre à reeleição, também teve a inscrição impedida por improbidade administrativa.

“Indeferido com recurso” é o status dado ao candidato que teve seu requerimento de registro de candidatura indeferido pelo juiz eleitoral, mas que recorreu ao TRE. Após o trânsito em julgado, quando não cabe mais recurso do processo que trata do seu registro de candidatura, os votos atribuídos a esses candidatos serão computados para eles, caso revertam a decisão em segunda instância ou junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Caso o indeferimento da candidatira seja mantido, os votos são descartados.

 

Campanha indevida
No Novo Gama, a Polícia Federal investiga um esquema peculiar de compra de votos. De acordo com a denúncia apurada pela Delegacia de Defesa Institucional (Delinst), da Superintendência da PF no Distrito Federal, um grupo ligado a candidatos à prefeitura da região estava trabalhando no desenvolvimento de um software para computar as transações financeiras. O esquema, conforme apurou o Metrópoles, funcionava no formato de pirâmide.

O modelo dependia basicamente do recrutamento de pessoas. Cada integrante que aceitasse atuar angariando eleitores para os políticos ganhava uma remuneração. Quatro mandados foram expedidos na 4ª Vara Eleitoral do Novo Gama pela juíza Polliana Passos Carvalho. Foram três de busca e apreensão e um de condução coercitiva.

Na quinta-feira (29), a PF também cumpriu mandados de busca e apreensão em Planaltina de Goiás. A ação atende a um pedido da Vara de Justiça da cidade e os mandados foram cumpridos por agentes da Delegacia de Defesa Institucional da PF. A ação foi para recolher material irregular de campanha. Entre os alvos, estava o comitê do candidato à prefeitura Dr. Davi (PROS) e a gráfica responsável por produzir panfletos e banners para a sigla. A ação teve o apoio do TRE-GO.

Abandono
Historicamente, a região do Entorno vive uma espécie de limbo por parte do poder público. Embora esses municípios integrem Goiás, o governo estadual costuma priorizar investimentos em outras regiões, pois acredita que o DF — além do governo federal — tem responsabilidade sobre as localidades que orbitam a capital da República. Prova disso é que boa parte da mão de obra dessas cidades trabalha em Brasília e utiliza da infraestrutura pública candanga, como escolas e hospitais.

Dessa forma, os municípios mais próximos do DF ficam desassistidos pelo Estado, e o resultado do descaso é sentido pela população. Em comum, essas cidades têm índices alarmantes de violência, de desemprego e caos na saúde e no transporte público.

A doméstica Isabel Marcela Santos de 57 anos, moradora de Valparaíso que trabalha na Asa Sul, resume o sentimento que a população desses municípios tem.

Nós temos que recorrer aos serviços do DF. O pior é que, na época das eleições, tanto na capital quanto no Entorno, o que mais se tem é promessa de políticos que dizem se preocupar com a nossa região. Mas na hora da verdade, não sobra um para assumir as responsabilidades com o povo

Isabel Marcela Santos, doméstica

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