Dinheiro de fiéis ia para a conta do bispo de Formosa, diz contador
Darcivan da Conceição Serracena afirmou que os desvios saíam diretamente da conta da Cúria para a de dom José Ronaldo
atualizado
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Acusado de associação criminosa e falsidade ideológica no âmbito da Operação Caifás, o técnico contábil da Diocese de Formosa (GO), Darcivan da Conceição Serracena, afirmou que o dinheiro dos fiéis era transferido diretamente da conta da Cúria de Formosa (GO) para a do bispo dom José Ronaldo Ribeiro, afirmou, em entrevista ao Fantástico exibido na noite desse domingo (25/3). Darcivan explicou como funcionava o sumiço de verba no balanço das igrejas: “Eu mandava eles declararem que lá não tinha dinheiro e baixava isso na contabilidade”, disse.
A polícia fez busca e apreensão na casa do contador, mas ele é mantido em liberdade por estar colaborando com as investigações. “As transferências bancárias eram feitas direto da conta da Cúria para a conta pessoal do bispo. Era R$ 2 mil ou R$ 3 mil. Como não tinha nota, lançava como ajuda de custo”, revelou.
Questionado sobre o porquê de não ter procurado as autoridades, o contador afirmou: “Não tinha forças para denunciar”. Os desvios foram revelados após 30 fiéis acionarem o Ministério Público de Goiás. “A quantidade de dinheiro envolvido e o luxo do bispo nos fizeram desconfiar”, afirmou um dos denunciantes ouvidos pela reportagem do Fantástico.
O bispo de Formosa é apontado em investigação do Ministério Público de Goiás (MPGO) como líder de um esquema de associação criminosa atuante em desvio de recursos de igrejas católicas do Entorno do DF, incluindo Formosa e Planaltina de Goiás. O prejuízo estimado é de mais de R$ 2 milhões. A fraude foi desbaratada em 19 de março, durante a Operação Caifás.
Na ocasião, o bispo, quatro padres e um monsenhor foram presos. Os recursos eram provenientes de dízimos, doações, taxas oriundas de batismo e casamento, além de arrecadações vindas dos fiéis para a realização de festas religiosas. Segundo as investigações, as 33 paróquias que compõem a Diocese de Formosa arrecadam, por ano, entre R$ 15 milhões e R$ 16 milhões.A afirmação do contador sobre as contas bancárias também está na denúncia do MPGO sobre o caso. De acordo com os promotores que assinam o documento, as apropriações de dinheiro da Cúria pelo denunciado José Ronaldo Ribeiro ocorriam de três formas: “Por meio de transferências bancárias entre a conta da Cúria e a pessoal do bispo, de forma constante e em valores variados; por meio de descontos de cheques emitidos pela Cúria; e por meio de dinheiro em espécie”, diz o documento.
Além disso, parte dos recursos vinham de desvios praticados pelos párocos associados a José Ronaldo. Em algumas ocasiões, eles deixavam de calcular emolumentos e doações arrecadadas. Em outras, assinavam declarações de “desaparecimento” do dinheiro a fim de justificar os rombos na contabilidade das paróquias e da Diocese de Formosa. Foram justificados apenas como sumidos R$ 1 milhão, sem o questionamento de nenhum integrante da igreja, nem mesmo do bispo responsável.
Na última sexta-feira (23), a Justiça decretou a prisão preventiva de oito dos nove presos na Operação Caifás. Entre os que ficaram encarcerados no presídio de Formosa, está dom José Ronaldo. Eles também passaram a ser réus perante a 2ª Vara Criminal do município goiano. Responderão por associação criminosa, falsidade ideológica, apropriação indébita e lavagem de dinheiro.
Confira os crimes que os acusados vão responder na Justiça:
Bispo José Ronaldo Ribeiro: associação criminosa, falsidade ideológica e apropriação indébita
Monsenhor Epitácio Cardozo Pereira: apropriação indébita e associação criminosa
Darcivan da Conceição: associação criminosa e falsidade ideologia
Guilherme Frederico Magalhães: associação criminosa e apropriação indébita
Mário Vieira de Brito (padre): associação criminosa, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica
Thiago Wenceslau de Barros (juiz eclesiástico): associação criminosa e falsidade ideológica
Waldson José de Melo: apropriação indébita e associação criminosa
Antônio Rubens Ferreira e Pedro Henrique Costa (empresários apontados como laranjas no esquema): lavagem de dinheiro