De volta à casa episcopal, bispo de Formosa diz ser vítima de armação
Em entrevista ao Estadão, dom José Ronaldo afirma que grupo o persegue desde Janaúba, por causa dos chamados “filhos do bispo”
atualizado
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Após ficar quase um mês preso, o bispo de Formosa (GO), dom José Ronaldo, disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ter sido vítima de uma armação de padres que discordam do seu estilo de trabalho. Em sua avaliação, as denúncias foram feitas para se livrarem dele.
“É um grupo articulado que armou esse esquema há anos, desde minha passagem pela Diocese de Janaúba (MG), de onde fui transferido para Formosa, em 2014”, garantiu. Segundo o bispo, a armação começou quando ele levou para o município ex-dependentes de drogas. Disse que, para ajudá-los, sua conta ficou negativa.
Chamados de “filhos do bispo”, esses ex-usuários de drogas ficaram, primeiramente, hospedados na casa episcopal de Janaúba. Depois, tiveram um local alugado só para eles. Eram sustentados pelo bispo e foram acusados de crimes graves na cidade, como furtos e roubos.
Conforme o Metrópoles mostrou, os católicos do município fizeram um abaixo-assinado com 19 mil firmas para tirar o religioso da diocese, mas isso só ocorreu sete anos depois, em 2014. “O povo cansou de presenciar as barbaridades cometidas por esse bispo. Ele nunca prestou contas para o clero e age com atitudes de coronelismo diante dos sacerdotes”, diz trecho de um documento encaminhado à Igreja por católicos leigos.Em Formosa, ele também foi alvo de denúncias de fiéis. Dom José Ronaldo acabou preso preventivamente, no dia 19 de março, acusado de desviar R$ 2 milhões de recursos das 33 paróquias da diocese do município localizado no Entorno do Distrito Federal. Mas o religioso se diz inocente. “Fomos massacrados, acusados sem provas, com um método absurdo de condenar, prender e apurar”, disse em entrevista ao Estadão, a primeira concedida desde a detenção.
Em vez de se hospedar na Casa do Clero, exclusiva para padres doentes e idosos, conforme lhe aconselharam, dom José Ronaldo está na casa episcopal. “Vim para cá, porque esta é minha morada. Ainda sou o bispo de Formosa, embora afastado”, afirmou.
Mas quem decidirá onde ele deve ficar é o administrador apostólico, dom Paulo Mendes Peixoto, arcebispo de Uberaba (MG), designado pelo papa Francisco para dirigir a diocese na ausência do titular. Ele deixou a Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Aparecida (SP), para passar o fim de semana em Formosa. Viajou a conselho do núncio apostólico dom Giovanni D’Aniello, para confortar dom José Ronaldo.
O bispo de Formosa permanecerá fora do cargo até definição da Justiça. Se for absolvido e o papa permitir, pretende retomar suas funções, embora admita reavaliar a intenção. Depende da aceitação dos fiéis, até agora aparentemente sem fissuras. Mesmo com as prisões, as missas de domingo continuaram cheias.
O administrador apostólico, dom Paulo Peixoto, responsável por investigar as denúncias, diz que, até o momento, parece não ter havido irregularidades. Os bispos do Regional Centro-Oeste, o qual compreende as dioceses de Goiás e Distrito Federal, viajarão a Formosa, nas próximas semanas, para levar conforto e solidariedade a dom Ronaldo e aos demais acusados.
Como a Justiça impôs medidas cautelares, dom José Ronaldo está proibido de sair de Formosa e foi obrigado a entregar o passaporte. “Disseram que eu pretendia fugir do país porque preparava viagem a Roma para participar de uma reunião do Movimento Neocatecumenal”, diz. A possibilidade de o religioso escapar foi um dos argumentos que embasou a denúncia do MP à Justiça.
Acolhido ao sair da prisão pela mãe, dona Nilda, de 90 anos, e por alguns de seus irmãos, dom José Ronaldo tem tido a assistência de parentes e amigos, que lhe fazem companhia e se oferecem para cozinhar.
Réu na Justiça
O MP acusa o bispo de comandar uma organização criminosa suspeita de desvios de taxas, dízimos e doações dos fiéis de paróquias do Entorno. De todo o recurso angariado, os padres repassavam para a conta da cúria, em Formosa, o percentual de 10%. Eles entregavam ainda 15% da arrecadação de festas promovidas pelas casas religiosas. Em 2017, o montante total arrecadado pela igreja do município goiano foi de R$ 3,5 milhões, conforme declarado por um dos investigados.
Na denúncia encaminhada à Justiça contra os alvos da Operação Caifás, o MP diz que o bispo dom José Ronaldo e demais acusados de envolvimento no suposto esquema criminoso exerciam uma “hegemonia maléfica e criminosa” no Entorno do Distrito Federal. Segundo os promotores, entre outras coisas, eles ameaçavam, constrangiam e intimidavam os clérigos que se recusavam a compactuar com as irregularidades.
Conforme o Metrópoles mostrou, além do gosto peculiar por carros de luxo, relógios de grife e joias, dom José Ronaldo Ribeiro aparentava ter apreço por bebidas, e não era vinho. Investigação conduzida pela Polícia Civil de Goiás apura denúncia de que o líder religioso teria usado uma espécie de cartão corporativo da Igreja para comprar cerveja e uísque. O bispo foi denunciado pelos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica e apropriação indébita e já virou réu na Justiça. (Com informações de O Estado de São Paulo)