Após morte de professor, pais, alunos e docentes protestam no Entorno
Ato ocorreu nesta segunda, em frente ao Centro Educacional Machado de Assis, em Águas Lindas (GO), onde estudante matou coordenador à facada
atualizado
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Professores, pais, alunos e moradores de Águas Lindas (GO) se reuniram, nesta segunda-feira (02/09/2019), em frente ao Centro Educacional Machado de Assis (Cema), para pedir mais segurança às escolas da cidade. O ato foi organizado três dias depois da morte do professor Bruno Pires de Oliveira, 41, assassinado com uma facada pelo aluno Anderson da Silva Leite Monteiro,18, no colégio.
A manifestação reuniu cerca de 300 pessoas e percorreu um quilômetro pelas ruas da cidade, no Entorno do Distrito Federal. Faixas foram espalhadas por todo o portão principal da escola, diante do qual foram feitos discursos em tom de revolta pela perda brutal do docente.
Uma das mais emocionadas era a coordenadora pedagógica Graciele Tavares, 38, que namorava o professor havia um ano e meio. “Não perdi só um colega de trabalho, mas meu companheiro, meu melhor amigo”, lamenta.
Graciele lembra que Bruno era apaixonado pela escola e tinha bom relacionamento com todos no Cema. “Era um paizão para todos os alunos aqui, de muito bom coração. Uma excelente pessoa.” Ainda segundo a coordenadora pedagógica, está sendo difícil superar o trauma. “A ficha ainda não caiu. Eu não durmo, não como. Quando ouço barulho de carro, acho que é ele chegando”, diz a professora.
Quem também lamenta a morte de Bruno é a faxineira Regina Barbosa, 33, mãe de Luis Carlos, 12, aluno do Cema. “Era gente boa. Todas as vezes que precisei falar com ele, fui bem tratada. É uma mistura de revolta e tristeza com a situação”, desabafou.
Para Regina, o caso é só uma representação da insegurança que a escola vive há bastante tempo. “Sempre foi assim. Meu filho, por exemplo, não vai ao banheiro da escola. A única vez em que foi, viu vários alunos fumando e ficou com muito medo”, relata.
Escola quer segurança
O presidente da regional do Sindicato dos Trabalhadores (Sintego), Paulo Teles, um dos organizadores da passeata, diz que casos como esse não podem acontecer mais. “Quatro meses atrás, foi o professor Julio. Agora é o Bruno. Nós precisamos de segurança. Os docentes estão acuados, com medo. Não é possível que as coisas continuem assim”, disse.
Teles se referia à morte do coordenador do Colégio Estadual Céu Azul, em Valparaíso (GO), Júlio Cesar Barroso de Souza. Ele foi executado a tiros, em 30 de abril, dentro da sala de professores da escola.
O adolescente de 17 anos apontado como autor dos disparos foi apreendido por policiais do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) do município goiano no Pedregal (GO), no terreno da casa de uma conhecida da família dele.
Troca de faca
Antes de assassinar Bruno Pires, Anderson da Silva teria trocado de faca. A revelação derruba a principal linha de defesa do suspeito até o momento: a de que queria dar apenas um susto no docente.
De acordo com a Polícia Civil de Goiás (PCGO), na sexta-feira (30/08/2019), o rapaz armou-se com a arma branca e seguiu para o Colégio Estadual Machado de Assis. Um colega o viu e o desarmou.
Anderson, irritado, foi à casa de outro amigo e pediu uma faca emprestada, com argumento de que precisava fazer um trabalho na roça. Com o instrumento, desferiu um único golpe no abdômen do educador.
Segundo o delegado Cléber Junior, da regional de Águas Lindas e titular do GIH, tais narrativas indicam premeditação.
O titular do inquérito ainda explicou que, a princípio, o homem que emprestou a faca a Anderson não será indiciado. “Entrará como partícipe do homicídio apenas se ficar evidenciado que sabia da intenção do autor do delito, mas, até o momento, não há qualquer indício de que ele tinha conhecimento e, portanto, não vai ser indiciado por nada”, explicou Cléber Junior.
A morte de Bruno Pires causou comoção e perplexidade no município goiano, situado a 50 quilômetros de Brasília. Em luto, a Secretaria de Educação de Águas Lindas suspendeu as aulas por cinco dias na rede estadual de ensino, formada por 19 escolas e nas quais estão matriculados cerca de 17 mil estudantes.
Pela execução, Anderson será indiciado por homicídio doloso qualificado por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Se condenado, pode pegar até 30 anos de prisão. Ao Metrópoles, o delegado relatou que o jovem declarou, em depoimento, “estar arrependido” pelo crime.
“Coisa do capeta”
Dois dias após o crime, ainda em choque, o pai do assassino tentava encontrar explicações para a barbárie cometida pelo filho. “O sentimento que eu tenho é que ele foi influenciado. Não sei por quem, mas foi coisa do capeta”, acredita Eduardo Monteiro, 60.
O acusado foi transferido nesse domingo (01/09/2019) para a cadeia pública da cidade, mas rapidamente realocado. Aos agentes, garantia estar “arrependido” de ter tirado a vida do educador com uma facada.
O estudante estava isolado em uma cela, e não está descartada nova transferência dele, uma vez que foi hostilizado pelos demais presos assim que chegou. Após as ameaças, Anderson foi levado novamente para Valparaíso (GO), outro município, onde ficará mais seguro. “Tivemos que realocá-lo em decorrência de o presídio estar instável. Os presos não aceitaram o crime praticado por ele. Por isso, mudamos ele de local, por questão de segurança.”
“Susto”
De acordo com o delegado Cléber Junior, Anderson confessou a autoria do crime e alegou que queria dar um susto no professor, cortando a barriga do docente. Porém, a faca acabou perfurando o abdômen da vítima de forma fatal.
Anderson teria dito, ainda, que foi conversar com Bruno Pires e pedir uma chance de ser reintegrado ao programa Mais Educação. Na versão do estudante, o professor teria dito que ele seria “um vacilão”, ocasião em que sacou a faca da cintura e desferiu o golpe contra o educador, na sexta-feira (30/08/2019). A conclusão do inquérito policial deve ocorrer nesta semana, sendo que ainda serão feitas outras oitivas pertinentes ao caso e juntada de laudos periciais.
Anderson não apresentou advogado, e o caso será comunicado à Assistência Jurídica da Comarca de Águas Lindas. A PCGO informou que ele não tem passagens pela polícia.
O jovem teve a prisão preventiva decretada pela Justiça de Goiás no sábado (31/08/2019) e, por isso, não será necessário passar por audiência de custódia. Após esfaquear Bruno, o aluno fugiu e foi detido um dia depois do crime, em Nova Roma, na região de Posse, ao norte de Goiás. A propriedade é de um tio de criação de Anderson. Uma denúncia anônima levou a Polícia Militar do estado à fazenda em que ele estava escondido.