Afastado pelo papa, bispo sai da prisão e volta para casa episcopal
Após ficar 30 dias detido, dom José Ronaldo almoçou com a mãe e recebeu amigos na residência oficial da Diocese de Formosa (GO)
atualizado
Compartilhar notícia
Mesmo afastado pelo papa Francisco de qualquer função na Igreja Católica, dom José Ronaldo de Oliveira, bispo de Formosa (GO), voltou a ocupar a casa episcopal ao sair da prisão, na noite de terça-feira (17/4). O amplo imóvel, situado no centro do município goiano, é uma espécie de residência oficial da Diocese da cidade.
No primeiro dia de liberdade após um mês no cárcere, o religioso almoçou com a mãe, o irmão e alguns amigos mais próximos. Apontado como líder de um esquema que teria desviado mais de R$ 2 milhões de doações da Cúria de Formosa, o bispo e outras sete pessoas detidas no âmbito da Operação Caifás ganharam o direito de responder ao processo em liberdade.
A 2ª Comarca Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) acatou habeas corpus impetrado pela defesa dos réus e entendeu que eles não oferecem risco à sociedade e, por isso, poderiam responder soltos.Os outros beneficiados com a liberdade foram o monsenhor Epitácio Cardozo Pereira, os padres Mário Vieira de Brito, Waldson José de Melo e Moacyr Santana e o juiz eclesiástico Thiago Wenceslau, além dos empresários Antônio Rubens Ferreira e Pedro Henrique Costa, apontados como laranjas do esquema. Enquanto durar o processo, eles não poderão sair da cidade de Formosa.
Na tarde dessa quarta (18), o advogado de dom José Ronaldo, Lucas Rivas, entregou o passaporte do religioso à Justiça. “É para demonstrar as boas intenções do bispo de colaborar com a Justiça”, disse.
Um grupo de fiéis da igreja fez questão de ir até a porta do presídio de Formosa comemorar a decisão. Mais exaltado, o padre Waldon José de Melo afirmou que promotor do caso, Douglas Chegury, “vai arder no quinto dos infernos“.
Nesta quinta (19), dom José Ronaldo e dom Paulo Mendes Peixoto – este designado interventor em Formosa pelo papa – se reúnem na Cúria da cidade a fim de definir qual será o futuro do religioso sob suspeita. A pessoas próximas, o líder alvo da Caifás confidenciou que teme perder o bispado, embora já tenha se conformado de que não existe mais clima para continuar à frente da Diocese de Formosa.
Caifás
As investigações começaram após o Ministério Público ter recebido denúncias de fiéis que desconfiaram dos desvios, supostamente iniciados em 2015. Entre as suspeitas, estava o fato de as despesas da casa episcopal de Formosa, onde o bispo mora, terem passado de R$ 5 mil para R$ 35 mil desde que dom José Ronaldo assumiu o posto.
Os religiosos teriam usado os recursos desviados dos dízimos para comprar fazenda e uma lotérica em Posse (GO), usada, segundo as diligências, para lavar o dinheiro. O MPGO ainda apura por que a Diocese de Formosa tem 160 veículos registrados, sendo que em sua jurisdição estão apenas 33 paróquias.
Como revelou o Metrópoles, a maioria desses carros é de luxo e custa mais de R$ 100 mil. Além dos automóveis, a Caifás descobriu que as autoridades religiosas tinham joias e relógios de marca. Há cinco dias, a Justiça determinou a penhora de R$ 9 milhões de todos os acusados.