Entenda por que candidatos de esquerda são minoria na disputa da CLDF
Para cientistas políticos, esse menor número pode ser reflexo da reforma eleitoral e da formação de federações nestas eleições. Entenda
atualizado
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Nas eleições deste ano no Distrito Federal, a maioria dos aspirantes a deputado distrital é de partidos centro-direita, totalizando 168 pessoas. Em minoria estão os candidatos de esquerda, sendo 40 no total. Para cientistas políticos, esse menor número de candidatos de esquerda pode ser reflexo da reforma eleitoral e da formação de federações, inovação legislativa inaugurada nas eleições de 2022 e que terá impacto na próxima composição da Câmara.
A federação é a união de dois ou mais partidos, que atuam em conjunto pelo mínimo de quatro anos. Para estas eleições uniram-se os partidos de esquerda e centro-esquerda PT, PCdoB e PV (Federação Brasil da Esperança); as siglas de centro PSDB e Cidadania (Federação PSDB-Cidadania); e os partidos de esquerda e centro-esquerda PSol e Rede (Federação PSol-Rede).
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Para Nauê Azevedo, cientista político, advogado e professor de direito constitucional, “é possível dizer que as federações podem ter contribuído para concentrar candidaturas proporcionais”. “O que esse quadro revela é que, num primeiro momento, pode ter havido dificuldade na formação das nominatas completas de partidos individuais. No fim, as federações servem como uma forma de unir siglas com afinidades ideológicas, que embora mantenham suas identidades, atuam como um só partido”, diz.
Em razão da reforma eleitoral, cada legenda ou federação possui um número limitado de candidaturas para cada cargo. O limite é o número de cargos em disputa mais um. No caso da CLDF, 24+1=25.
É o que explica Noemi Araújo, cientista política da Universidade de Brasília (UnB). “No caso do DF temos os partidos formando a federação. Seria difícil que eles construíssem uma nominata para alcançar o quociente partidário sozinhos, por isso optaram pela federação. Principalmente os partidos mais à esquerda: PV, PT, PCdoB; e Rede e PSol”, pontua.
Noemi destaca, no entanto, que não é porque há mais candidatos de direita e centro-direita concorrendo a distrital que tais candidaturas são mais consistentes ou competitivas. “Para quem formou federação, possivelmente ampliarão a perspectiva de alcançar o quociente eleitoral e, portanto, assegurar algumas cadeiras.”
Concentração de votos
Ainda de acordo com a cientista política, a menor quantidade de candidatos por partido devido a formação de federação pode acabar gerando uma concentração de votos em candidatos com maior destaque. “Somado ao fim do financiamento privado das campanhas, já tem sido uma tendência desde 2016 os partidos escolherem candidatos com mais probabilidade de se elegerem: aqueles que têm maior apoio político, apoio financeiro, destaque na mídia e de influenciadores”
“Isso é um ponto negativo quando a gente olha para as candidaturas novas, para aqueles que estão sendo estreantes na política, para mulheres, pessoas negras, que têm dificuldade de ter maior visibilidade. Se somado à ausência de financiamento por parte dos partidos e da sociedade como um todo por falta de cultura política em doar e apoiar, naturalmente temos esses candidatos em menor número recebendo mais apoio. E temos essa expectativa de que serão aqueles velhos conhecidos da arena política, principalmente pelo sentimento da população em retomar a algo mais seguro, algo conhecido, independentemente de ser considerado bom ou ruim”, assinala Noemi Araújo.
Números
No Distrito Federal, 599 pessoas solicitaram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registro de candidatura para concorrer a vagas de deputado distrital na Câmara Legislativa (CLDF) nas eleições deste ano. Deste total, até essa segunda-feira (28/8), 11 renunciaram, 137 tiveram a candidatura deferida e outros 451 estavam aguardando julgamento.
O Metrópoles fez uma lista das candidaturas por partido e separou por candidatos que estão aguardando julgamento ou já aptos a concorrer. Quando a situação de um candidato consta como “aguardando julgamento” significa que o pedido ainda não foi apreciado pela Justiça Eleitoral. Já aquele em que o nome aparece “deferido” está com candidatura regular, com dados e documentação completos, atendeu aos requisitos para concorrer e teve o pedido já julgado.
A maioria dos aspirantes a deputado distrital é de partidos centro-direita, totalizando 168 pessoas. Na sequência estão os partidos de direita, com 142 candidatos. Os de centro somam 125. Os de centro-esquerda, 113. E em minoria estão os candidatos de esquerda, sendo 40 ao todo.
Confira, abaixo, o número de candidatos a distrital por partido:
Direita
- Novo: 18 candidatos
- Patriota: 25 candidatos
- PL: 25 candidatos
- PRTB: 24 candidatos
- PSC: 25 candidatos
- PTB: 25 candidatos
Total: 142 nomes
Centro-direita
- Agir: 25 candidatos
- Democracia Cristã: 20 candidatos
- Partido da Mulher Brasileira: 24 candidatos
- Podemos: 24 candidatos
- PP: 25 candidatos
- Republicanos: 25 candidatos
- União Brasil: 25 candidatos
Total: 168 nomes
Centro
- Avante: 25 candidatos
- Cidadania: 16 candidatos
- MDB: 25 candidatos
- PROS: 25 candidatos
- PSD: 25 candidatos
- PSDB: 9 candidatos
Total: 125 nomes
Centro-esquerda
- PDT: 25 candidatos
- Partido da Mobilização Nacional: 25 candidatos
- PSB: 24 candidatos
- PV: 7 candidatos
- Rede: 8 candidatos
- Solidariedade: 24 candidatos
Total: 113 nomes
Esquerda
- PCdoB: 2 candidatos
- PCO: 4 candidatos
- PSol: 17 candidatos
- PSTU: 1 candidato
- PT: 15 candidatos
- Unidade Popular: 1 candidato
Total: 40 nomes
O primeiro turno das eleições será realizado em 2 de outubro, quando os eleitores irão às urnas para eleger o presidente da República, governadores, senadores, deputados federais, estaduais e distritais. Caso haja segundo turno para a disputa presidencial e para governos estaduais, a votação será em 30 de outubro.