Engenheira de obra em Vicente Pires assinou projeto de circo que caiu e matou jovem
Prédio de 6 andares desabou na sexta (20), matando uma pessoa. É a segunda fatalidade em trabalhos sob responsabilidade de Daliane Cardoso
atualizado
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A obra do prédio que desabou na Colônia Agrícola Samambaia, em Vicente Pires, na sexta-feira (20/10), é assinada por Daliane Cardoso Mendonça, engenheira civil responsável pela tenda do Circo Khronos, que caiu na Asa Norte em 27 março. Nas duas ocorrências houve fatalidades: na semana passada, um homem de 55 anos morreu sob o entulho. Há sete meses, um jovem de 17 perdeu a vida ao ser atingido pela estrutura de ferro que segurava a lona da atração.
Daliane Cardoso é a única integrante da empresa que projetou o prédio de Vicente Pires com registro identificado pelo Crea. Os outros profissionais da equipe Agmar e Lissandra Arquitetura e Construção não tiveram documentação encontrada pelo conselho – o que pode apontar falta de qualificação exigida pela lei.De acordo com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Distrito Federal (Crea-DF), Daliane Cardoso Mendonça corre o risco de perder seu registro. Os casos contra ela estão na Comissão de Ética do Crea-DF. A profissional ainda pode apresentar defesa antes da análise da câmara específica.
Agmar Silva, 55 anos, um dos donos da empresa em que Daliane trabalha, morreu soterrado nos escombros do prédio. Segundo informações preliminares de fontes ouvidas pela reportagem, a vítima seria técnico em edificações. Lissandra Latorraca, a outra proprietária do escritório, não teve o Crea encontrado.
No entanto, ao Metrópoles Lissandra afirmou que tem registro na entidade. “Sou arquiteta, mas estou em um momento complicado e não consigo comentar o assunto agora”, contou. A proprietária da empresa confirmou que Agmar era seu sócio e disse estar muito abalada com a tragédia. Daliane não foi localizada para comentar as denúncias.
Empresa sem registro
Segundo o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Distrito Federal (CAU-DF), a empresa “Agmar e Lissandra” não tem registro. De acordo com a entidade, a edificação de seis pavimentos que era construída na Colônia Agrícola Samambaia não tinha sequer o Registro de Responsabilidade Técnica (RRT). “Por esse motivo, a profissional Lissandra será notificada”, informou a assessoria do conselho, por meio de nota.
O caso será levado também à Comissão de Exercício Profissional e, posteriormente, à Comissão de Ética e Disciplina para apreciação e julgamento. Se condenada, a arquiteta e urbanista poderá receber multa, advertência reservada e até mesmo ter o registro cancelado.
Devido a uma série de irregularidades, o empreendimento não poderia ter sido construído. A Agência de Fiscalização do DF (Agefis) aguarda o laudo final da Defesa Civil para definir quais providências tomar.
Circo Khronos
Lissandra será investigada, assim como Daliane Cardoso Mendonça. O nome da engenheira civil não estava na placa da obra em Vicente Pires, mas aparece nos registros do Crea como responsável pelo projeto. Além da investigação dentro da entidade representativa, ela foi intimada a prestar depoimento na 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires) sobre o edifício que desabou.
Esse é ao menos o segundo registro no conselho contra a engenheira. De acordo com a entidade, no início do ano, quando um forte temporal derrubou a tenda do circo Khronos e matou Weyne Bispo da Costa, 17, a profissional entrou na mira do Crea. Na ocasião, verificou-se que Daliane assinava autorizações para diversos circos que atuavam no DF ao mesmo tempo, prática condenada pelo órgão.
“O Crea sempre tenta impedir profissionais que assinem as obras e não acompanham. Isso pode provocar punições. Ela terá todo o direito de se defender nos dois casos. Pode apresentar documentos, dizer o que aconteceu. O processo administrativo está aberto”, informou a assessoria do Crea.
Veja fotos do acidente no Circo Khronos
No caso do circo, a engenheira não finalizou o cadastro de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). O registro define o responsável legal pela montagem da tenda e seria obrigatório para liberar o funcionamento do circo. A Lei nº 6.496, de 1977, define a exigência do documento para obras.