“Será que vou precisar morrer”, diz enfermeiro espancado em UBS no DF
Profissional da enfermagem foi espancado e ameaçado por causa de um atesto médico dentro de uma UBS do Distrito Federal
atualizado
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“Será que vou precisar morrer em meu local de trabalho para que algo mude?”. O desabafo é de um enfermeiro da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. O homem foi brutalmente espancado e ameaçado, dentro da Unidade Básica de Saúde (UBS) 1 de Taguatinga, durante o expediente, por causa de um atestado médico. Um boletim de ocorrência foi registrado na 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro), que investiga o caso.
O enfermeiro agredido terá a identidade preservada, por questão de segurança. O caso aconteceu no dia 18 de setembro, mas só veio à tona nessa terça-feira (7/11). Um casal levou um menino à UBS 1, se queixando de febre e falta de apetite. Eles chegaram ao local por volta do meio-dia.
Durante a triagem, o diagnóstico preliminar apontou um quadro estava estável. Segundo a equipe de saúde, a criança estava sem alterações significativas e apresentava manchas vermelhas pelo corpo. Os sintomas apontavam para suspeita de dengue.
Na ocasião, havia apenas um médico em atendimento. E, como a unidade teria pacientes em situação mais crítica à espera de tratamento, outros pacientes teriam recebido prioridade no atendimento.
Segundo o Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF), o casal com a criança foram encaminhados para fazer exames no Hospital Regional de Taguatinga (HRT), com a orientação de retorno para finalização do atendimento.
Neste momento, o padrasto do menino exigiu um atestado médico ao enfermeiro, a fim de justificar ausência no trabalho. O profissional, porém, respondeu que, naquele momento, só poderia dar o atestado de comparecimento.
O enfermeiro explicou ao homem que o atestado médico seria emitido tão logo eles voltassem do HRT, uma vez que a quantidade de dias descrito no documento dependeria dos exames e do período de recuperação definido pelo médico.
Espancado em UBS
Neste momento, o padrasto teria começado a ficar agressivo. A criança e os responsáveis voltaram à UBS por volta das 18h, mas já havia pacientes com prioridade esperando atendimento desde as 13h30.
Como o garoto continuava estável – e sem febre – o enfermeiro encaminhou o atendimento para o dia seguinte. Não havia justificava internação e não havia como prestar atendimento médico na UBS naquele momento.
Mais uma vez, o padrasto cobrou o atestado, momento em que o servidor explicou novamente o motivo do impedimento: somente o médico poderia dar o documento.
O homem ficou mais agressivo. Diante de uma enxurrada de xingamentos, o enfermeiro decidiu acionar o segurança, e ao se virar de costas, começou a ser espancado. Foi atingido por socos, pontapés e arranhões. Além dos golpes, ouviu ameaças de morte.
“A população precisa entender que a Enfermagem não tem culpa nessas situações. Pelo contrário, nós trabalhamos sobrecarregados e fazemos tudo para resolver os problemas dos pacientes da melhor forma possível”, comentou.
Descaso
Do ponto de vista do presidente do Coren-DF, Elissandro Noronha, é lamentável o descaso das autoridades responsáveis pela segurança da rede pública de saúde do DF. O conselho tem cobrado ações para o reforço da segurança na rede pública. No entanto, a situação permanece a mesma e episódios de agressões e ameaças são recorrentes. “Vamos continuar lutando para garantir a segurança dos nossos profissionais, e espero que o governo não espere alguém morrer para tomar alguma providência realmente efetiva”, alertou.
Segundo levantamento feito pelo Coren-DF, em junho de 2022, 834 enfermeiros disseram que já sofreram violência dentro de unidades de saúde do DF. Destes, 144 disseram que foram agredidos fisicamente e 690 verbalmente.
De acordo com o estudo, 644 enfermeiros sofreram humilhações, 589 foram xingados, 488 ameaçados, 85 empurrados, 40 levaram tapas, 26, socos, 9 tiveram cabelos puxados e 135 vivenciaram outras agressões.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Saúde. Em nota, a pasta repudiou o episódio de violência e afirmou que reforçou a segurança na UBS 1 de Taguatinga.
“Sobre o caso informado, as SES/DF informa que foi solicitado o aumento do policiamento pela PMDF , além de mais um vigilante para apoiar a UBS 01 de Taguatinga”, alegou a pasta.
Leia a nota completa:
A Secretaria de Saúde repudia os casos de agressão física e verbal aos profissionais de saúde do Distrito Federal, que se enquadram como crime no Código Penal. O servidor que sofre qualquer tipo de agressão recebe toda a assistência necessária, tanto psicológica quanto o resguardo de sua integridade física. Sobre o caso informado, as SES/DF informa que foi solicitado o aumento do policiamento pela PMDF , além de mais um vigilante para apoiar a UBS 01 de Taguatinga.
A Pasta reconhece que a dependência do Sistema Único de Saúde vem se apresentando de forma crescente, mas que o trabalho para a recomposição do quadro de servidores é uma prioridade da pasta. Somente neste ano, 1608 profissionais foram nomeados. Outros 530 servidores tiveram sua carga horária ampliada de janeiro a agosto de 2023. Além disso, esse ano foram homologados os concursos para Médicos, Dentistas e Enfermeiros e existe a previsão de homologação ainda em 2023 dos concursos para as Carreiras de Técnico de Enfermagem e Vigilância Ambiental e Atenção Comunitária à Saúde.