Empresário preso no lugar do irmão é levado para Papuda: “Lugar em que não merece estar”, diz esposa
Milton teve alvará de soltura expedido pela Justiça, mas ainda está no complexo penitenciário de Brasília
atualizado
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O empresário Milton Baldez de Castro (foto em destaque), 48 anos, foi transferido na manhã desta terça-feira (2/2) para o Pavilhão 5 do Centro de Detenção Provisória II (CDP II), do Complexo Penitenciário da Papuda. Ele está preso desde o último sábado (30/1), quando foi detido no condomínio onde mora com a família, em Águas Claras. Apesar de o mandado judicial ser direcionado a Milton, ele é acusado de um roubo cometido por seu irmão, Gledilson Tonni Baldez Castro, no Maranhão.
O alvará de soltura de Milton foi expedido no início da noite desta terça-feira, pela 2ª Vara Criminal de São José de Ribamar (MA). O documento reconhece que Gledilson usava o nome do irmão de forma fraudulenta e determina o relaxamento da prisão cautelar, “podendo o requerente aguardar em liberdade o desfecho da questão sub judice”.
Segundo Felipe da Silva, advogado do empresário, a família aguarda a liberação de Milton a qualquer momento, mas é possível que ele ainda passe a noite encarcerado.
Pesadelo
O autor do roubo do qual Milton é acusado morava em São Luís (MA) e foi preso em 2018. Aos policiais maranhenses, o criminoso forneceu o nome do próprio irmão, que reside em Brasília. O processo, então, foi instaurado com base na identidade falsa.
Dias após a prisão em flagrante de Gledilson, o empresário soube da fraude com seu nome e registrou ocorrência na 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro). Segundo a defesa de Milton, ele também requereu a correção das informações à Justiça do Maranhão, mas o pedido ainda não foi atendido.
“O que a gente está vivendo é um filme de terror. Desde sábado à tarde estamos em um pesadelo sem conseguir acordar”, desabafa a esposa de Milton, Fátima Baldez, 47 anos. “O que queremos é o Milton livre. Queremos tirar ele de um lugar em que ele não merece estar. As provas estão aqui. Ele é trabalhador. Foi preso de uma maneira humilhante, e as humilhações não param. Ainda por cima, ele é do grupo de risco. A sensação é de dor, revolta, de que a Justiça não está sendo feita”, completa.
Milton e Fátima são casados há 25 anos. “Temos um filho de 19 anos sofrendo, perdendo a fé na Justiça. Milton é pai exemplar, dedicado à família dele. Um ser humano ímpar”, afirma.
Humberto Martins Custódio, 41 anos, reforça as afirmações. Amigo de Milton de longa data, o coordenador de marketing destaca o caráter bondoso do homem, que afirma ter sido preso injustamente. “Ele chorou na morte do irmão e achou que esse pesadelo acabaria, mas não foi o caso”, completa.
Morto em tiroteio
Durante depoimento à 3ª DP, Milton detalhou que, em 13 de fevereiro de 2018, recebeu a ligação de uma prima informando que Gledilson Tonni, após ter sido detido por policiais do 6º Batalhão de Polícia Militar da Cidade de São Luís (MA), forneceu o nome de Milton aos PMs.
A prisão foi alvo de reportagens locais. Os jornais estampavam a foto de Gledilson (veja abaixo), mas divulgaram o nome de Milton. O próprio site oficial da Secretaria de Segurança do Maranhão publicou a foto com a identificação errada. Uma postagem afirmava que Milton Castro seria membro da facção Comando Vermelho, de acordo com informações da polícia local.
Gledilson Tonni foi solto dias após a prisão em flagrante, com uso de tornozeleira eletrônica. No entanto, o dispositivo não foi suficiente para que o homem parasse de cometer crimes. Ele se envolveu, no dia 20 de fevereiro do mesmo ano, em outro assalto, e acabou morrendo baleado em uma troca de tiros com a polícia local (veja registro abaixo).
Entretanto, os processos referentes aos supostos crimes cometidos por Milton no Maranhão continuaram tramitando, o que culminou na prisão do empresário, em Brasília.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão e com o Tribunal de Justiça do Maranhão e aguarda retorno. O espaço segue aberto para manifestações.
Em nota, a PMDF afirmou que, “durante a abordagem, os policiais consultaram o Banco Nacional de Mandados de Prisão do Conselho Nacional de Justiça e, com os dados repassados pelo próprio detido, verificaram que havia um mandado de prisão expedido em São Luís do Maranhão. Diante disso, o homem foi apresentado na 21ª Delegacia”.
Segundo a defesa de Milton, a empresa na qual ele trabalhava à época da denúncia vai enviar à Justiça uma declaração de que ele estava em serviço, atendendo clientes no DF, na data do crime.