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Empresário do Lago Sul é acusado de espancar e manter mulher presa

O caso é investigado pela Delegacia Especial de Atendimento à Mulher e corre em segredo de Justiça. A vítima está sob medida protetiva

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1 de 1 - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Espancada, humilhada e mantida por dias em cárcere privado dentro da própria residência, em um condomínio fechado no Lago Sul, uma mulher de 37 anos reuniu forças e criou coragem para denunciar o marido à polícia. A acusação de violência física e psicológica é investigada pela Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) desde o dia 3 de dezembro deste ano e corre em segredo de Justiça. A vítima está sob medida protetiva até que o processo seja julgado.

A mansão de dois pavimentos esconde o sofrimento vivido por Lúcia (nome fictício) e suas duas filhas, de 16 e 8 anos. Nos depoimentos prestados por ela à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), aos quais o Metrópoles teve acesso, a vítima narra os momentos de terror. Por três dias consecutivos, a mulher teria chegado a se alimentar apenas de água e bolachas. Com o dinheiro cortado pelo agora ex-marido, ela diz se manter apenas com a ajuda de amigos. A identidade dela e a do agressor foram mantidas em sigilo para preservar as filhas do casal.

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O denunciado é empresário e advogado no Lago Sul. Ele foi indiciado por lesão corporal e já responde a um processo, no Juizado Especial de Violência Doméstica, por supostas agressões à esposa em 2016. Os fatos apresentados neste mês geraram um novo inquérito.

A história de subjugação, ciúme doentio e agressões teria começado quando Lúcia tentou criar independência e começou a trabalhar em uma central de teleatendimento. “Passei a ser espancada, ameaçada e humilhada das formas mais degradantes. Eu me tornei refém dentro da minha própria casa. Ele me tirou a liberdade, a dignidade e até necessidades básicas para viver”, desabafou a mulher ao Metrópoles.

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As surras ocorriam sempre que a mulher tentava trabalhar fora ou manter redes sociais ativas
A vítima passou três dias comendo apenas bolachas e tomando água
A Polícia investiga o caso enquanto a mulher está sob medida protetiva
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A vítima foi espancada pelo ex-marido diversas vezes

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As surras ocorriam sempre que a mulher tentava trabalhar fora ou manter redes sociais ativas

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A vítima passou três dias comendo apenas bolachas e tomando água

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A Polícia investiga o caso enquanto a mulher está sob medida protetiva

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Patrimônio
Lúcia contou que conheceu o agora ex-marido em 2000, na Universidade de Brasília (UnB), quando cursava direito. Eles começaram a namorar e, logo depois, o homem abriu um pequeno curso preparatório para vestibular. “Aos poucos, o negócio foi crescendo, ele pegou aquela explosão de concursos e acabou surfando nessa onda. Com o passar dos anos, chegou a possuir 25 locais onde as aulas eram ministradas”, explicou.

Não demorou e vieram as duas filhas, hoje com 8 e 16 anos. Em 2015, conta Lúcia, começaram as crises de ciúme. A mulher teria sido espancada pela primeira vez em agosto de 2017, quando se recusou a excluir suas redes sociais.

Fiquei com o corpo cheio de manchas roxas. As coisas pioraram quando resolvi destrancar minha faculdade, suspensa por ordem dele. Quando arrumei um emprego, ficaram ainda piores

Lúcia (nome fictício)

Segundo a vítima, o homem destruiu vários telefones celulares dela por suspeitar de infidelidade. Após se dedicar e conseguir ser promovida em uma empresa de tecnologia, a mulher teria sido obrigada a abandonar o emprego, pois ele ameaçava se separar e tirar tudo dela. “Ele sempre usava as minhas filhas como forma de me ameaçar, dizendo que elas acabariam sendo privadas de uma série de necessidades, como moradia, escola e alimentação”, conta.

Sem comida
Lúcia relata que teve o carro tomado pelo ex-marido e foi proibida de sair de casa, ficando em cárcere privado. O advogado teria deixado que a despensa e a geladeira ficassem vazias, para torturá-la. Segundo a denúncia, as filhas eram levadas pelo pai para comerem fora, em restaurantes, e à noite se alimentavam com lanches trazidos por ele, enquanto a mãe das meninas ficava à míngua. “Quando deixava algum dinheiro, era cerca de R$ 10 ou R$ 20, para comprarem uma marmita apenas para elas”, disse.

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A mulher foi mantida em cárcere privado pelo ex-marido. Ela passou dias se alimentado apenas com bolachas e água

Nos últimos anos, o empresário aumentou sua frota de carros importados. Existem pelo menos dois modelos Mercedes-Benz e uma SUV da Land Rover na garagem. “Houve uma época em que ele faturava R$ 500 mil a cada dois anos, e nos últimos tempos eu precisei ser socorrida pelo jardineiro para conseguir sair de casa e procurar ajuda”, desabafou a mulher.

Após conseguir uma advogada, Lúcia começou a se desfazer dos poucos bens que lhe restavam, como roupas e algumas joias acumuladas ao longo dos anos. “Estou vendendo o que posso para poder comprar comida e tocar esse processo de divórcio. Só quero o direito de reconstruir a minha vida”, afirmou.

Casa trancada
Mesmo com a medida protetiva estabelecida pela Justiça, o homem teria retornado à residência, recolhido bens de valor no imóvel, entre eles obras de arte, e os trancado no quarto que pertencia ao casal. Todas as roupas de Lúcia ficaram no chão do cômodo e ela perdeu acesso ao local, pois o advogado teria levado as chaves.

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O ex-marido de Lúcia trancou o quarto onde ela dormia, jogou as roupas em outro cômodo e foi embora. Mulher perdeu o direito de transitar pela casa

A entrada do ex-marido no condomínio foi proibida, segundo a advogada Anna Carolina Regatieri, que defende Lúcia. “É triste ver uma família que tinha todos os recursos para ser feliz acabando dessa forma. Uma mulher passando fome, sendo agredida física e verbalmente, dentro da própria casa, pelo marido, é algo inaceitável. Minha cliente está muito fragilizada com essa situação, mas confiamos acima de tudo em Deus e na Justiça”, ressaltou.

O outro lado
O Metrópoles entrou em contato com o advogado. Ele negou todas as acusações feitas pela ex-mulher, inclusive sobre as agressões – que, segundo ele, teriam sido forjadas. “Tenho provas materiais e de testemunhas, como um dos irmãos dela, de que nunca houve agressões da minha parte. Ela provocou lesões que foram constatadas por exames de corpo de delito feitos no Instituto Médico Legal”, disse.

O advogado destaca que chegou a pedir à Justiça medidas protetivas em seu favor, por causa da agressividade da esposa. “Ela me ameaçava dizendo que tentaria me incriminar em um suposto caso de [Lei] Maria da Penha, caso eu não fizesse o que ela queria. Minhas filhas estão absorvendo todo esse trauma”, garantiu.

O ex-marido da mulher afirmou que irá participar de uma audiência sobre o caso na próxima segunda-feira (10/12), no Juizado Especial de Violência Doméstica, e irá apresentar provas, inclusive testemunhais, para desmentir a ex-companheira. “O próprio irmão dela irá depor por meio de carta precatória, já que ele estava na casa quando viu ela avançar contra mim. Tenho provas de que nunca a agredi”, finalizou.

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