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Empresa pagará R$ 109,58 por dia para administrar Kartódromo do Guará

Concessionário vencedor da concorrência pública poderá gerir o espaço por 30 anos. Usuários do local questionam valores da parceria

atualizado

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André Borges/Agência Brasília
Guaras
1 de 1 Guaras - Foto: André Borges/Agência Brasília

Referência na formação de pilotos, o Kartódromo Ayrton Senna, no Guará, está a um passo de ser entregue à inciativa privada. No próximo dia 12, o Governo do Distrito Federal divulgará quem será a empresa vencedora da licitação que gozará do direito de administrar o espaço por 30 anos. Alegando falta de recursos para gerir o local, o Executivo considera esta a única maneira de manter o centro de corridas em pleno funcionamento.

Apesar de concordarem que o kartódromo necessita de melhorias, mecânicos, pilotos e trabalhadores do lugar estranham os valores da concessão. Conforme descrito no Edital nº 4, de 2018, o futuro concessionário pagará, a título de outorga, R$ 40 mil anualmente e poderá explorar comercialmente uma área de 69 mil metros quadrados.

Por mês, o parceiro privado desembolsará R$ 3,33 mil, ou R$ 109,58 por dia. No maior classificados de imóveis do Brasil, o aluguel de um apartamento de três quartos na Asa Sul custa, em média, R$ 4 mil.

Caso decida fazer do lugar um kart indoor — onde alugam-se carros de corrida para competições entre pilotos amadores — e cobrar R$ 85 por bateria de 20 minutos, a empresa quitaria a mensalidade da outorga em apenas dois dias, considerando uma média de 25 pessoas pagando diariamente pela diversão.

Para justificar o valor da outorga anual tão baixo, a empresa vencedora terá de se comprometer a investir R$ 13,9 milhões na modernização do kartódromo e torná-lo apto a sediar competições nacionais e internacionais. Para atender às exigências da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), a pista será aumentada de 864 metros para 1,2 mil metros de extensão. Já a largura passará dos atuais 6,8 metros para, no mínimo, 8 metros.

De acordo com um engenheiro que auxiliou em projetos de construção de kartódromos país afora, é possível fazer as intervenções na pista com cerca de R$ 1,5 milhão. “O Kartódromo de Birigui, em São Paulo [o Speed Park], é um dos mais modernos do Brasil. Ele foi construído do zero, tem pista de padrão internacional, arquibancada, restaurantes e custou pouco mais de R$ 4 milhões. O Kartódromo do Guará já tem uma estrutura erguida perfeitamente aproveitável”, compara.

Falta de diálogo 
Não é preciso ir muito longe para encontrar outro exemplo. O recém-inaugurado Brasília Kart — com padrão internacional — no Paranoá, custou R$ 5 milhões. Em Santa Catarina, o Kartódromo Internacional Beto Carrero consumiu R$ 7 milhões. Ele é equipado com lanchonetes, vestiários, gavetas para kart, lojas de produtos oficiais, mezanino para descanso com visualização para a pista e um amplo estacionamento.

O atual concessionário do Kartódromo Ayrton Sena, José Argenta, diz defender a modernização do espaço, mas reclama da falta de diálogo com o governo.

Não ouviram os pilotos nem os mecânicos que vivem do Kartódromo. Fizeram uma audiência pública no dia de um jogo da Seleção Brasileira nas Eliminatórias para a Copa do Mundo e, mesmo com a esmagadora maioria contra a atual proposta, o GDF deu prosseguimento a essa parceria

José Argenta, atual concessionário do Kartódromo do Guará

Ainda conforme pontuou Argenta, ele é a favor de melhorias no kartódromo, “contanto que o processo seja feito com clareza e ouçam quem está ali todos os dias”.

Outra reclamação de quem utiliza o Kartódromo do Guará é o preço a ser cobrado pelo parceiro privado para aluguel dos boxes. Atualmente, desembolsa-se uma taxa de R$ 150 para a utilização dos espaços. Pelo edital da parceria, o preço subirá para R$ 600.

O outro lado
Procurada pela reportagem para comentar o assunto, a Secretaria de Fazenda informou que o valor da concessão de R$ 40 mil por ano foi definido com base em estudos econômico-financeiros, submetidos aos órgãos de controle, e representa o mínimo a ser ofertado pelos interessados, pois a licitação será realizada a fim de alcançar a maior oferta. Ainda de acordo com a pasta, atualmente o Estado nada recebe, pois a ocupação é irregular.

O valor tem como base os custos de reforma, manutenção e operação do equipamento, todos orçados com base em índices amplamente utilizados, a exemplo do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi)

Trecho de nota da Secretaria de Fazenda

Segundo a pasta, “com a concessão, o Kartódromo será gerido pela iniciativa privada, que cobrará dos potenciais ocupantes os valores praticados pelo mercado. Por outro lado, os profissionais instalados no local atualmente passarão a ter segurança jurídica, ao contrário da situação que vivem hoje”.

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