Convivência entre banhistas e embarcações no lago requer cuidados
Aumento no número de frequentadores reforça preocupação com afogamentos e colisão de barcos. Nove morreram afogados no primeiro semestre
atualizado
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A seca que assolou o Distrito Federal desde maio terminou na última semana, mas o calor vai perdurar. Mesmo após o início do período de chuvas, o mormaço causado pelas altas temperaturas — as máximas devem permanecer acima de 30ºC — não dará trégua à população. Por conta da sensação de abafamento, o Lago Paranoá tem atraído cada vez mais frequentadores.
Em consequência, o risco de acidentes aumentou no ponto turístico, que concentra a terceira maior frota náutica do país, com 5 mil embarcações, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro.
No último dia 22, um acidente, por pouco, não tirou a vida de um menino de 10 anos. Um adolescente de 16 perdeu o controle de um jet ski, na parte norte do lago, e o veículo atingiu o garoto. A vítima recebeu atendimento no Hospital de Base do DF (HBDF) e teve escoriações leves. O fato acendeu sinal de alerta para os perigos encarados pelos frequentadores do lago.
“O número de frequentadores subiu neste ano, principalmente, por causa da desobstrução da orla, que ampliou os acessos ao lago, criou mais píeres, e também em razão da seca e do calor”, explica o sargento Leal, da Companhia Lacustre do Batalhão de Policiamento Turístico da Polícia Militar do DF, responsável por rondas e orientações no local.
O militar afirma que acidentes como o do último dia 22 são raros no Lago Paranoá, mas admite que o aumento no número de frequentadores pode elevar a incidência, caso não haja prevenção adequada. E ressalta a importância da prudência no convívio entre os usuários.
“O lago tem regras como as do trânsito de automóveis. Os condutores de embarcações são como os motoristas de carros. Já os banhistas e esportistas são como pedestres. Ou seja, no lago, também o maior deve priorizar a segurança do menor.
Sargento Leal, da Companhia Lacustre do Batalhão de Policiamento Turístico da Polícia Militar do DF
Afogamentos
Os afogamentos encabeçam a lista de incidentes mais comuns no lago. Neste ano, entre janeiro e outubro, foram 26, uma média de dois por mês, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Paz Social do DF (SSP-DF). O número é igual ao total registrado em todo o ano passado.
Em relação às mortes por afogamento, a Pasta informa 9 casos de janeiro a junho. Os dados sobre os meses seguintes não foram contabilizadas pela SSP-DF ou pelo Corpo de Bombeiros. A reportagem consultou também a Secretaria de Saúde (SES-DF), que afirma não possuir essas informações.
O comandante da Companhia de Salvamento Aquático do Corpo de Bombeiros, tenente Daniel Salomão, observa que os jovens encabeçam a lista de vítimas. Ele estima que, aproximadamente, 85% dos casos de afogamento poderiam ser evitados caso os cuidados necessários tivessem sido tomados.
“Nossa prioridade, além do socorro, é a orientação. Recomendamos, tanto a banhistas quanto esportistas e condutores, que não façam ingestão de bebidas alcoólicas antes de entrar no lago. E que não façam manobras bruscas e arriscadas com os jet skis”, exemplifica.O estudante Vitor Gabriel Ferreira, 18 anos, conta que frequenta o Lago Paranoá cerca de três vezes por semana, onde nada às margens da Ermida Dom Bosco, no Lago Norte. Ele afirma que prefere ir ao local nos dias úteis, por causa do sossego. “Já nadei em outros lugares, como a Prainha do Lago Norte. Mas lá há muitos jet skis, pessoal que faz manobra. É perigoso. Ainda mais aos sábados e domingos”, avalia. Veja abaixo os principais cuidados que os banhistas devem tomar:
Colisões
As batidas de embarcações surgem como o segundo tipo de acidente mais comum. A Marinha do Brasil afirma que, em 2016, houve quatro ocorrências desta natureza e, neste ano, três. Nenhum com mortes. Por meio da Capitania Fluvial de Brasília (CFB), a força armada aborda cerca de 50 embarcações diariamente e intensifica o rigor nos fins de semana.
A CFB realizou, em 2016, 1,9 mil abordagens no Lago Paranoá, resultando em 78 apreensões — metade desses casos ocorreram por falta da Carteira de Habilitação de Amador (CHA), obrigatória para condutores. Neste ano, até outubro, o número de abordagens subiu 84%, para 3,5 mil. No período, houve 82 apreensões, em que cerca de 40% envolveram a falta da CHA e 10% tiveram relação com consumo de álcool.
Os agentes de inspeção naval portam bafômetros e apreendem embarcações quando constatam que o condutor excedeu o limite de 0,3 miligrama de álcool por litro de ar expelido. Também fica sujeito a ter a CHA suspensa por até 120 dias. Outra infração comum é a passagem de condução a uma pessoa inabilitada, cuja penalidade também prevê 120 dias de suspensão da CHA e apreensão da embarcação. Veja abaixo recomendações para condutores:
Zoneamento
Guilherme Scartezini lidera a organização não-governamental Amigos do Lago Paranoá, criada em 2011 e que defende o uso público e sustentável do espelho d’água. A ONG recebe reivindicações de banhistas, condutores, pescadores, esportistas e moradores que vivem perto das margens do local. Scartezini sugere a definição de zonas específicas para cada tipo de usuário.
“Hoje, os frequentadores ficam misturados. Às vezes, embarcações não ficam tão perto, mas, por serem muito grandes, causam transtornos a quem está próximo das margens”, afirma. “Causam marolas e atrapalham quem pratica stand-up paddle ou remo. Outras deixam os banhistas com medo de nadar”, exemplifica.
Trabalho conjunto
A PM, a Marinha e o Corpo de Bombeiros Militar do DF atuam em parceria no Lago Paranoá, mas não contabilizam os frequentadores nem as embarcações que navegam diariamente. Os policiais orientam usuários e combatem crimes, como pesca predatória e caça. Já os bombeiros, que têm dois postos avançados do Batalhão de Busca e Salvamento Aquático às margens do espelho d’água, agem na prevenção e no resgate de vítimas.
Histórico
Além dos casos de afogamento e colisão, o Lago Paranoá tem retrospecto de naufrágios na última década. O mais grave deles ocorreu em 22 de maio de 2011. Naquele dia, o barco Imagination partiu do clube Ícone Park com dezenas de pessoas a bordo, mas afundou, por causa da entrada de água nas estruturas que garantem a sustentação do barco. Nove pessoas morreram.
No último 30 de julho, a lancha Saint Tropez, furtada na Marina VIP, transportava cinco ocupantes quando naufragou. Ninguém se feriu. O condutor era habilitado. A 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) investiga as circunstâncias do acidente. Em 30 de março de 2015, outra lancha afundou, com seis pessoas. Todas escaparam ilesas. À época, o Corpo de Bombeiros apontou falha humana.