Em protesto, mães pressionam governo por cirurgia cardíaca de crianças do DF
Ações judiciais não têm garantido a realização dos procedimentos e famílias estão desesperadas
atualizado
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Mães de crianças que aguardam por cirurgias cardíacas na rede pública de saúde realizam protesto nesta quinta-feira (29/10), em frente ao Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF). O ato está marcado para as 14h. O grupo reivindica que os procedimentos sejam realizados com mais rapidez, pois nem cirurgias determinadas pela Justiça foram feitas.
Um dos bebês que sofre com a demora é Maria Joana Dias dos Santos (foto em destaque), de 8 meses. Necessitando realizar a correção do canal atrio-ventricular, ela está internada desde o mês de junho. Após mais de 90 dias no Hospital da Criança de Brasília (HCB), a paciente conseguiu uma vaga no ICDF, mas está há um mês aguardando a cirurgia.
“Ela já teve três paradas cardíacas nesse tempo. A situação é complicada, pois minha filha não pode passar dos nove meses sem fazer o procedimento”, lamenta Gisele Dias, 40 anos, mãe da menina.
“Conseguimos uma decisão judicial dando 24 horas para que fosse realizada a cirurgia, mas nada. Já implorei aos médicos, mas eles dizem que não é possível, pois falta material e medicação”, explica Gisele.
O prazo foi estabelecido nessa terça-feira (27/10) pelo juiz Henaldo Silva Moreira, da 5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF, que intimou o secretário de Saúde, a Central de Regulação de Internação Hospitalar, a Central de Cirurgias Eletivas da Secretaria de Saúde e o Núcleo de Judicialização a comprovarem o cumprimento da decisão, sob pena de serem multados em R$ 4 mil por dia de descumprimento.
Com a situação se arrastando, os problemas da família se acumulam. Sem poder deixar Maria Joana sozinha, tanto Gisele quanto o pai da criança tiveram que pedir demissão dos empregos para acompanhar o tratamento da bebê. “Todo dia é um agradecimento a Deus pela vida dela, mas peço também para que se resolva, já estamos desesperados”, diz a mulher.
Ana Vitória continua no HCB
Também noticiado na última semana pelo Metrópoles e inserido na mais recente decisão do juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública e Saúde Pública do DF, o caso de Ana Vitória Souza Santos, de 6 meses, continua sem solução.
Diagnosticada com Defeito de Septo Atrioventricular Total (DSAVT), uma cardiopatia que impede o desenvolvimento das válvulas do coração, a criança deveria ter passado por cirurgia de correção assim que nasceu. No entanto, a menina aguarda há mais de um mês transferência para o ICDF. Mesmo com uma decisão judicial favorável, nada foi feito.
Zilene Souza Lopes, 38, mãe de Ana, participa do grupo que organiza a manifestação desta quinta-feira (29/10), mas não poderá se ausentar do hospital para participar do ato. “Não tenho como deixar minha filha aqui sozinha. Se eu pudesse, iria com certeza, para cobrar explicações”, destaca.
Ela ressalta que esta não é uma luta exclusiva de famílias que sofrem com o problema: toda a população do DF é afetada de alguma maneira. “É algo que não sabemos com quem vai acontecer. Eu mesma nunca ia imaginar que ia passar por isso”, aponta.
Acordo entre Defensoria e Secretaria de Saúde
O problema ocorre duas semanas após o Metrópoles denunciar que, para acabar com a fila de crianças à espera de cirurgias cardíacas pediátricas, a Defensoria Pública do Distrito Federal e a Secretaria de Saúde fizeram um acordo no qual os atendimentos seriam normalizados a partir de um cronograma montado pelo governo.
Em busca de uma solução para o drama das crianças, a Defensoria ajuizou ação civil pública contra a pasta do Governo do Distrito Federal.
Confira o calendário das cirurgias cardíacas neonatais e pediátricas, entre críticas e eletivas:
- Entre 19 e 31 de outubro de 2020, serão feitos 11 procedimentos;
- Em novembro de 2020, 17;
- A partir dezembro de 2020, serão feitas 25 cirurgias;
- A partir de março de 2021, haverá 29 operações;
- A partir de março de 2021, a Secretaria de Saúde se comprometeu a manter o atendimento mínimo mensal de 29 cirurgias cardíacas neonatais e pediátricas, sendo 21, entre críticas e eletivas, e oito eletivas.
Veja o acordo na íntegra:
Conforme o acordo, a pasta avalia a possibilidade de ampliar o número de cirurgias de novembro para 21. A Secretaria de Saúde também adotará medidas para aprimorar o atendimento, a exemplo da medição periódica da fila.
O que diz a Saúde
Procurada por e-mail e telefone, a assessoria do ICDF não respondeu à reportagem sobre a reclamação das mães e o caso de Maria Joana.
Já a Saúde informou que “o caso da paciente A.V.S.S. trata-se de um tipo de agendamento que é feito por um check-list”. O procedimento estava autorizado pela pasta e deveria ter sido executado em 9 de outubro, no Instituto Cardiológico do Distrito Federal (ICDF). “No momento, a paciente está na enfermaria e sem necessidade de UTI. Após o ICDF inserir A.V.S.S na fila, a Central de Regulação poderá regular a paciente e autorizar uma nova data para a execução”, completou a Saúde.