Em mensagem, funcionária diz que dona de creche “odiava” bebê morta
Em mensagens de texto e áudio, mulheres que trabalham no local ainda dizem que uma outra criança teve a cabeça enrolada em coberta
atualizado
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Após a morte da bebê Amariah Noleto, de 6 meses, funcionárias da Creche da Tia Cleidinha, em Planaltina, passaram a trocar mensagens de texto e áudio no WhatsApp contando o que sabiam do caso. Segundo elas, Marina Pereira da Costa, uma das donas do estabelecimento e indiciada por homicídio doloso, falava várias vezes que “odiava” a criança.
Em uma das mensagens obtidas pelo Metrópoles, uma mulher que trabalha no local explica que apenas Marina tinha contato direto com a mãe de Amariah. “Ela conversava só com a Marina, que não deixava nem chegar perto. Confiava muito na Marina e ela nem gostava da bebê, odiava a bebê. Falava com todas as letras: ‘odeio a Amariah e a mãe dela'”.
A mesma funcionária relatou que a neném morta não foi a única a ter o rosto enrolado. Segundo ela, uma outra menina passou pela mesma situação, mas conseguiu sobreviver.
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Entre as mensagens escritas pelas mulheres, elas são enfáticas em dizer que foi Marina a responsável pela morte.
Mulher teve prisão preventiva decretada
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) converteu, nesta sexta-feira (22/10), em prisão preventiva o flagrante de Marina Pereira da Costa, indiciada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) pelo homicídio doloso da bebê.
Na sentença, o juiz que analisou o caso disse que “os fatos apresentam gravidade concreta” e que a prisão provisória encontra amparo “na necessidade de se acautelar a ordem pública, prevenindo-se a reiteração delitiva e buscando também assegurar o meio social e a própria credibilidade dada pela população ao Poder Judiciário”.
Dessa forma, a acusada não tem data definida para sair da prisão. A única obrigação do juiz é rever o caso daqui a 90 dias.
“A gente imagina que ela ficou com raiva do choro da bebê e virou a criança. Isso ela conta para a gente. Nesse momento, a bebê talvez tenha ficado contra o colchão e acontecido uma asfixia”, explicou o delegado da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), Veluziano de Castro, responsável pelas investigações.
Os investigadores chegaram até Marina, que é sobrinha da outra dona da creche, com o auxílio de testemunhas. Segundo a polícia, ao perceber que havia um problema com Amariah, ela deixou o local com a desculpa de levar uma criança. No trajeto, a menina ouviu Marina clamando para que Amariah não morresse.
“Chama a atenção o fato de uma das crianças, que ela foi levar em casa, ter escutado: ‘Não deixa essa criança morrer’. Ou seja, ela tinha conhecimento”, detalhou o investigador.
“Concluímos com base em várias outras declarações que ela se omitiu dolosamente. Ela se omitiu, deixando a creche para criar um álibi de que não estava ali e não teria nada com a morte. Tivemos a segurança, com base nesses elementos e com imagens, de que ela se omitiu dolosamente”, reforçou Veluziano.
A PCDF indiciou Marina, e as investigações prosseguem para apurar as condições de funcionamento e a conduta da outra proprietária. “Ela [tia de Marina] se mostra muito distante da situação. Temos de apurar se ela também foi omissiva”, adiantou o delegado.
Maus-tratos
A 31ª DP também abriu investigação contra a Creche da Tia Cleidinha por maus-tratos. Segundo o delegado Veluziano, após a repercussão do caso, uma família procurou a unidade policial para denunciar o estabelecimento, que funcionava irregularmente.
“Uma mãe registrou ocorrência sobre uma possível situação de maus-tratos com o filho dela”, resumiu.
Segundo testemunhas, a Creche da Tia Cleidinha, localizada na Vila Buritis, abrigava cerca de 40 crianças, mas tinha apenas um berço para todas elas. O leito dos pequenos era dividido por lençóis, para que mais de uma criança conseguisse dormir ao mesmo tempo.
Os bebês eram colocados em sacos de dormir sem aberturas, que impediam a movimentação dos braços, e o quarto era trancado. “Uma sala de 13 metros com mais de 30 crianças, vários dormindo no chão, em bebê-conforto, tudo muito insalubre”, descreveu um dos investigadores do caso ao Metrópoles. O estabelecimento cobrava R$ 300 por mês para que os pequenos ficassem lá em tempo integral.
Ainda segundo as testemunhas, Amariah foi encontrada de bruços dentro do berço. “Tudo indica que a criança virou de bruços e o pano caiu sobre o rosto dela. Ela ficou no saco sem poder se mexer, passou mal e não recebeu nenhum atendimento”, destacou o investigador. Os pais só descobriram que a filha estava morta quando chegaram para buscá-la.
Ainda de acordo com os agentes, os médicos que atenderam a bebê no Hospital Regional de Planaltina (HRP) contaram que a criança chegou ao local com palidez acentuada. Como o hospital da região não fica distante de onde funciona a creche, os investigadores acreditam que as cuidadoras demoraram a ver que Amariah passava mal.
O Governo do Distrito Federal (GDF) informou que a instituição não é cadastrada na Secretaria de Educação.
Reação das funcionárias
Horas após a morte da bebê, funcionárias trocaram mensagens em tom de preocupação. Marina chegou a escrever para uma funcionária da creche que ela e Cleide, outra dona do local, estariam “fudidas”.
As conversas por meio do WhatsApp estão em poder da polícia. O diálogo começa com Marina – que é sobrinha da dona de Cleide – dispensando a funcionária de trabalhar no dia seguinte, porque o local ficaria de luto após o óbito de Amariah.
Veja os diálogos: