Em julgamento do 8/1, PM compara extremistas: “É torcida organizada”
PM que viu bolsonaristas romperem linha de revista no 8/1 cita organização e violência. “Prendemos facas e escudos feitos de madeira”
atualizado
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Um dos policiais militares que viu extremistas rompendo a linha de segurança antes da invasão aos prédios da Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, afastou a tese de que o movimento foi espontâneo.
Durante depoimento em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (21/5), o major Flávio Silvestre de Alencar disse ter se surpreendido com a organização e a sincronização dos manifestantes, e comparou: “Isso é torcida organizada”.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou Flávio por suposta omissão frente aos atos antidemocráticos. Nesta manhã, ele se defendeu em um depoimento de mais de 2 horas, de forma virtual, no STF.
Dizendo que nunca teve “tanto medo” quanto naquele 8 de janeiro, o major detalhou o que viu momentos antes das invasões.
“Os manifestantes estavam se deslocando em linha e de forma sincronizada, isso me chamou atenção. Eu até falei: ‘Vai dar ruim, isso é torcida organizada’. Chamei atenção da tropa dizendo que eles não iriam querer ser revistados, que a gente teria que segurar eles. Dito e feito. Na primeira linha da frente, eles estavam lá cantando: ‘Eu sou brasileiro com muito orgulho’, que nem torcida organizada, começaram a gritar que ‘não existe barreira para o povo’, forçaram e furaram a linha de revista.”
O major Flávio Silvestre relatou, então, ter começado a fazer “buscas aleatórias”, “porque já tinha perdido o controle”. Nessas revistas, a PM encontrou muitas armas brancas. “Prendemos muita coisa. Prendemos estilingue, faca, escudo feito de pau e madeira”, exemplificou.
Preocupação com comandante
Em outro trecho da audiência, o policial disse ter temido que o comandante-geral da PMDF na ocasião, Fábio Augusto Vieira, tivesse sido tomado de refém. “Ele podia ser usado como moeda de barganha para os manifestantes ficarem ali muito tempo. A crise seria muito mais escalada. Então, eu tomo a decisão de procurar ele. Com meus 18 anos de PM, eu nunca tive tanto medo quanto naquele dia”, desabafou.
O major comentou ter feito buscas por Fábio dentro do Congresso Nacional, com mais dois policiais. “A gente foi andando no meio de uma turba extremamente agressiva. Fui agredido, tentaram me derrubar, tentaram pegar minha arma, mas eu tinha que achar o comandante.” No depoimento, ele cita que outro PM conseguiu fazer contato por telefone com Fábio, que disse estar bem, no STF.
Mensagens interceptadas
A PGR também questionou Flávio Silvestre sobre mensagens que ele enviou após a vitória de Lula (PT) nas eleições presidenciais. O major chegou a dizer, 20 dias antes da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023: “Na primeira manifestação, é só deixar invadir o Congresso”. Já seis dias antes das invasões, no dia da posse, ele afirmou: “Ilusão acreditar em eleições limpas”.
O militar, no entanto se defendeu. Sobre a mensagem citando “deixar invadir”, ele alegou ter feito uma “brincadeira infeliz”, mas que se referia ao cenário de possível limitação do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF), que traz recursos para a segurança de Brasília, e chegou a ser ameaçado por uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de Randolfe no fim de 2022.
Já sobre ter dito que seria ilusão acreditar em eleições limpas, o major chegou a argumentar que se referia às desinformações das campanhas eleitorais. “Em todas as mensagens, você pode ver que não questiono resultado das eleições, não menciono candidatos. O que quis dizer não foi ao sistema [eleitoral]. Mas, infelizmente, acontece de pessoas mandarem fake news, desinformação, pessoas não são éticas, atacam as outras. Então, todo esse sistema faz com que não seja limpo.”
Veja quem são os réus denunciados:
- Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF);
- Klepter Rosa Gonçalves, também ex-comandante;
- Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações;
- Paulo José Ferreira, chefe interino do Departamento de Operações (DOP) no 8 de Janeiro;
- Marcelo Casimiro, então titular do 1º Comando de Policiamento Regional (CPR);
- Rafael Pereira Martins, chefe de um dos destacamentos do Batalhão de Polícia de Choque da PMDF na data;
- Flávio Silvestre de Alencar, major que chegou a ser preso duas vezes pela Polícia Federal (PF) no âmbito das investigações sobre supostas omissões;