Em golpe, vidente diz que “entidade de luxo” só aceitava uísque importado
Falsária disse que espírito era “caro” e oferenda custeada pela vítima deveria ter bebida do exterior, vinho e champanhe para agradar
atualizado
Compartilhar notícia
O desejo de reatar o relacionamento com uma ex-noiva custou caro para mais uma vítima da falsa vidente investigada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Desiludido, o homem procurou Vera Lúcia Nicolitch, 52 anos, conhecida como Dona Lúcia ou Dona Vera, para realizar um trabalho espiritual e trazer a amada de volta.
Como era de se esperar, o homem amargou um prejuízo de aproximadamente R$ 5,5 mil e permaneceu solteiro.
De acordo com as investigações conduzidas pela 4ª Delegacia de Polícia (Guará), a vítima chegou até a sensitiva por meio de pesquisas na internet. Ambos moravam perto um do outro, na região do Guará II. Com isso, marcou uma consulta e foi até a casa da falsária. No local, pagou R$ 50 pela sessão e ouviu da golpista que haviam feito um “trabalho” de macumba contra ele.
Para desfazer a maldição, seria preciso uma limpeza espiritual. Para isso, ele teria que fazer duas oferendas, no valor de R$ 800 cada. Deveria usar, ainda, uísque importado, vinho e champanhe. Os materiais utilizados deveriam ser nobres porque, segundo a vidente, o espírito era caro (7 Encruzilhadas) e que o trabalho contra ele foi realizado para a pior entidade, de uma linha negra de umbanda.
Mais oferendas
A vítima contou na delegacia que pagou R$ 1,6 mil em espécie. “Ele chegou a pedir para acompanhar o trabalho. Entretanto, a vidente negou a participação alegando que ele estava com a energia negativa. Por isso, não poderia participar, mas veria o resultado em um período de três a sete dias”, disse o delegado adjunto da 4ª DP, João de Ataliba.
Cerca de 10 dias depois, a vidente entrou em contato com o homem e afirmou que seria necessário fazer três novas oferendas no valor de R$ 700 cada. A quantia total, de R$ 2,1 mil, deveria ser entregue em espécie. O valor foi quitado mais uma vez pelo cliente.
Logo depois a sensitiva marcou um atendimento com o noivo, que deveria levar rosas brancas, pano branco, velas e se vestir totalmente de branco.
Durante a sessão, a golpista pegou os objetos e os colocou em uma toalha branca, entregou tudo ao cliente e disse que ele deveria ficar na posse dos materiais por 12 horas sem que ninguém os tocasse. O homem precisava levar os objetos no dia seguinte, às 7h, para ser realizado o ”banho de Iemanjá”.
Na hora combinada, a vidente pegou os objetos, os colocou em uma bacia e jogou água. Usando um truque com corante, Dona Vera deixou a água rosa e afirmou que deveria ser realizado um novo trabalho de R$ 2,5 mil. Caso o valor não fosse pago em 72 horas, ele sofreria um acidente e não escaparia com vida.
Desconfiado, o homem viu reportagens na internet sobre os golpes praticados pela vidente e resolveu procurar a delegacia para relatar o ocorrido. O caso resultou na abertura de mais um inquérito que apura os crimes de estelionato e extorsão.
Os golpes
Entre os golpes mais famosos aplicados pela vidente, está um episódio que ocorreu em abril deste ano, quando mãe e filha tiveram um prejuízo de R$ 3,6 mil ao contratar os serviços espirituais da sensitiva. A falsária usou de artifícios como vomitar pedaços de carne crua e usar corante em uma bacia de água para simular sangue.
A cartomante deixou um rastro de desespero e prejuízo após explorar a fé das vítimas que cruzaram seu caminho. Entre as ocorrências investigadas, também está a da família de um servidor público aposentado do Itamaraty que teve quase R$ 200 mil de prejuízo após ele, a mulher e a filha se consultarem com a falsária.
O caso ocorreu em 2010 e só foi registrado neste ano, após a filha do servidor saber da prisão da golpista e de comparsas. Segundo o delegado João de Ataliba, a mulher pode responder também por esse crime, mesmo já tendo se passado uma década.