Em depoimento à PCDF, dono de clínica diz que não quis promover “cura gay”
Gabriel Henrique de Azevedo Veloso negou a intenção de “promover a ‘cura gay”. Delegacia também apura possível prática ilegal da psicologia
atualizado
Compartilhar notícia
O responsável pela clínica de hipnose de Brasília que oferece “tratamento” para homossexualidade prestou depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) nessa segunda-feira (9/11). O hipnoterapeuta Gabriel Henrique de Azevedo Veloso dizia aos pacientes que o serviço, que custa R$ 29.990, gerava resultados em seis meses.
O caso é investigado pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual (Decrin). Segundo a delegada Ângela Maria dos Santos, o dono da clínica Hipnoticus disse que “em nenhum momento quis promover ‘cura gay”.
“Ele fala que teria atendido pessoas que estavam sofrendo por serem homossexuais. Que teve um caso de um homem que teria deixado de ter interesse em outro homem depois de ser atendido, mas praticamente repetiu o que disse à imprensa. Agora, vamos investigar se isso caracteriza a homotransfobia, pelo fato dele colocar o homossexualismo com o sufixo ‘ismo’ e colocar no rol de doenças”, pontua a delegada.
De acordo com Ângela, a polícia também investiga se Henrique vem atuando ilegalmente como psicólogo, uma vez que oferece serviços para a “cura” de doenças psíquicas mesmo não tendo formação na área. “Vamos conversar com o Conselho de Psicologia para verificar essa questão. Ele diz que teria feito alguns cursos, se intitula autodidata. Então também vamos conferir se ele fez mesmo”, afirmou.
Ainda conforme a delegada, “a investigação está muito precoce para já falarmos se há crime ou não”. No entanto, ela pede para que pacientes que eventualmente possam ter se sentido vítimas do hipnoterapeuta procurem a Decrin para registrar a denúncia.
Entenda o caso
O caso foi revelado pelo Metrópoles no último sábado (7/11). Nessa segunda, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) informou que o Núcleo de Direitos Humanos (NDH) vai instaurar um procedimento para investigar a clínica.
A empresa Hipnoticus, localizada na Asa Sul, diz que o serviço para “tratar” a homossexualidade, que custa R$ 29.990, gera resultados em seis meses. Segundo consta no site do estabelecimento, a hipnose é feita através do método “Psicoterapia Sem Falhas”, usado pelo hipnoterapeuta Gabriel Henrique de Azevêdo Veloso. São oferecidas três opções de serviços: sessões com duração de quatro meses, seis meses e oito meses.
O dono da empresa diz ser cadastrado no Conselho de Auto Regulamentação da Terapia Holística (CRT), uma sociedade civil sem vínculos com o governo Federal. Ele oferece a cura de doenças como depressão e ansiedade em até seis meses, mesmo não tendo formação em psicologia, medicina ou terapia ocupacional.
No entanto, o CRT nega que Veloso esteja filiado à entidade. Em nota enviada ao Metrópoles, o conselho informou que o hipnoterapeuta teve o cadastro suspenso em agosto de 2018 por “pendências estatutárias e falta ética e profissional”. “Justamente por não cumprir as normas previstas no código de ética profissional, ele foi alertado a cessar a utilização do número da CRT de forma indevida”, destacou.
“Solução para mudar orientação sexual”
Ao Metrópoles, Gabriel Henrique de Azevêdo Veloso confirmou que a clínica existe desde 2010. Sobre o “tratamento” para homossexualidade, ele afirmou que “há pessoas que não ficam satisfeitas com esse tipo de vida. Então, o tratamento é oferecido nessa perspectiva”.
Em uma parte do endereço eletrônico, sobre “como funciona a hipnose”, a empresa dizia que “a hipnose também é a única solução para mudar sua orientação sexual e te livrar da atração indesejada pelo mesmo sexo”. Após a publicação da primeira reportagem do Metrópoles sobre o caso, o empreendimento retirou a palavra “homossexualismo” da parte de serviços oferecidos no site, bem como a frase citada. Veja:
A clínica Hipnoticus se manifestou sobre o caso novamente nesta segunda-feira (9/11), por meio de uma segunda nota. A empresa já havia enviado posicionamento ao Metrópoles, no último sábado, mas hoje divulgou um novo texto em seu endereço eletrônico, dizendo que “nunca foi intenção ofender minoria qualquer que seja”. Confira aqui a íntegra.