Em clima de apreensão, alunos retomam aulas após ameaça no Gisno
Com a presença do Batalhão Escolar da Polícia Militar do lado de fora, escola tenta retornar à rotina nesta terça-feira (19/3)
atualizado
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Um dia após a ameaça de ataque feita por cinco alunos nas redes sociais, as aulas do colégio Gisno retornaram na manhã desta terça-feira (19/3) em clima de descontração para alguns alunos e de insegurança para outros. Pela manhã, dois policiais do Batalhão Escolar estiveram presentes na porta do colégio, na 907 Norte.
“Fiquei com medo quando soube e ainda estou assustada”, disse uma aluna do 3º ano do ensino médio. “Um deles era meu colega. Ele sempre pareceu da paz, e nunca imaginei que fosse escrever mensagens daquele porte”, destaca ela. Para outro estudante, o alerta vai ser permanente na escola. “Eles [alunos que fizeram ameças] eram isolados aqui. Não gostavam de se entrosar com outras pessoas. O mesmo pode acontecer em outros colégios”, acredita.
Há entre os estudantes quem não tenha levado a situação a sério. “Quem tem a intenção de fazer algo assim não posta nas redes”, disse um dos alunos, aparentando tranquilidade. Os cinco estudantes – quatro adolescentes e um maior de idade – que divulgaram as ameaças contra a escola nas redes sociais terão “punição exemplar”, segundo informou a Secretaria de Educação na tarde dessa segunda-feira (18). A direção do colégio já solicitou a transferência deles, que poderão responder também por incitação ao crime e “falso alarme”, quando a polícia é acionada.
A secretaria aguarda a conclusão das investigações, conduzidas pela Polícia Civil, para decidir quais outros procedimentos serão adotados com os estudantes, uma vez que eles não podem ser expulsos, por se tratar de estabelecimento de ensino público.
Confira as mensagens postadas pelos estudantes nas redes:
A punição dos responsáveis não deixa os colegas mais tranquilos. “Nem todos ficaram preocupados, mas eu, sim. E se um dia eles voltarem revoltados porque foram expulsos?”, questiona um rapaz que cursa o 1º ano do ensino médio no Gisno. “Nos sentimos inseguros”, completa.
O diretor do colégio, Isley Marth, diz que os cinco alunos responsáveis pelas ameaças estudavam há cerca de quatro anos no colégio. Segundo ele, dois deles aparentavam ter transtornos psiquiátricos. As famílias, no entanto, não chegaram a apresentar nenhum laudo médico para que tivessem acompanhamento especial.
Um dos alunos teria começado a sofrer surtos frequentes desde o mês de outubro do ano passado. Por esse motivo, a direção e a equipe de orientadores se preocuparam em fazer o acolhimento e encaminhá-lo para os acompanhamentos necessários. Isley diz ter sido informado pelo Conselho Tutelar da Asa Norte nessa segunda-feira (18) que o jovem comparecerá a uma consulta psiquiátrica.
“Infelizmente é possível observar a ausência familiar e carência afetiva no caso dos cinco. Todas essas coisas precisam ser levadas em conta”, afirma o diretor. De acordo com a pedagoga Ana Maria Gomes, “a solução para esses comportamentos antissociais está dentro da escola e no universo familiar.” “Temos que fazer um trabalho conjunto“, assinala.
Segundo o diretor, os alunos podem ter sido influenciados por casos como o do massacre de Suzano, em São Paulo. “As providências da escola já foram todas tomadas. Os pais foram tranquilizados e, à tarde, será emitido um comunicado sobre o ocorrido”, destaca Isley.
Ele afirma ainda que solicitou, junto ao Batalhão Escolar da Polícia Militar, um policiamento efetivo dentro da escola.
Varredura
Após as ameaças, equipes da Polícia Militar, Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros fizeram uma varredura no colégio atrás de artefatos explosivos na madrugada dessa segunda (18). Nada foi encontrado, mas as aulas foram suspensas na segunda (18).
Segundo o delegado-chefe da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA-1), Vicente Paranahiba, em vistoria feita na casa de um dos estudantes do Gisno, nada foi encontrado. Ao acessarem o celular do menor, os policiais localizaram a conversa trocada com os outros três colegas, na qual o atentado estaria sendo tramado.
“Ele veio à delegacia acompanhado da irmã, que se apresentou como responsável. No depoimento, disse que a história não passou de uma brincadeira e que não teria ‘coragem de fazer o que estava sendo tramado’. No entanto [durante a oitiva], ele teceu elogios ao atentado ocorrido em Suzano. Ao que parece, esses garotos foram negativamente influenciados pelo ocorrido em Suzano”, disse o delegado.
As mensagens foram trocadas entre a noite de domingo (17) e a madrugada dessa segunda (18). Nelas, os estudantes marcam “uma competiçãozinha de quem mata mais” na escola. Um deles diz aceitar “fazer parte da linha de frente no massacre” e outro detalha como o atentado deveria ser executado.
“Pelas janelas de trás [áreas de escoteiros], lançar bombas de gás lacrimogênio nas três primeiras salas e efetuar disparos com revólver nas últimas a fim de colocar todos para correr. Depois dar a volta… eliminando todos que for possível, que estarão trancados por conta do portão”, recomenda uma das sete mensagens.
Em outra mensagem, um estudante disse já ter posicionado armas, bombas e munição em pontos estratégicos da escola.
Veja o momento em que um funcionário explica aos alunos o que houve:
Rosilene Gouveia, diretora do Sindicato dos professores (Sinpro), afirma que compareceu a uma reunião no Gisno nessa segunda-feira (18). Segundo ela, o clima é de apreensão. “Os alunos em questão não tinham um histórico comprometedor. Pelo contrário: tinham um envolvimento positivo na escola. Os professores ficaram surpresos” , diz. Para a sindicalista, a influência do meio virtual pode ter incentivado as ameaças.
Ricardo Andrade, professor do Gisno, conta que os colegas compareceram ao trabalho vestindo branco nesta manhã, simbolizando um pedido de paz. De acordo com o funcionário, os docentes ainda estão um pouco assustados com a situação.
Em nota, a PM informou que os batalhões escolar e da área reforçam a segurança na região, até que a situação seja normalizada.