metropoles.com

No DF, 58 casos de incêndios criminosos não resultaram em prisões

Queimada trágica na Floresta Nacional nesta semana chama atenção para a dificuldade em identificar suspeitos quando o incêndio é criminoso

atualizado

Compartilhar notícia

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
Imagem de bombeiros fardados e usando mangueiras para combater um incêndio na Floresta Nacional de Brasília
1 de 1 Imagem de bombeiros fardados e usando mangueiras para combater um incêndio na Floresta Nacional de Brasília - Foto: <p>Hugo Barreto/Metrópoles<br /> @hugobarretophoto</p><div class="m-banner-wrap m-banner-rectangle m-publicity-content-middle"><div id="div-gpt-ad-geral-quadrado-1"></div></div> </p>

Na última terça-feira (3/9), um incêndio atingiu a Floresta Nacional (Flona) de Brasília. Logo no início dos trabalhos, o Instituto Chico Mendes (ICMBio) apontou a suspeita de que a queimada tenha ocorrido por ação criminosa pelo fato de três homens terem sido vistos momentos antes no local onde o fogo começou. Quatro dias se passaram e os possíveis autores da queimada, que consumiu praticamente 50% de toda a reserva, não foram sequer identificados.

A demora na identificação dos suspeitos chama atenção para um entrave: a dificuldade de se apurar os fatos quando um incêndio é de cunho criminoso. Dados do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) solicitados pelo Metrópoles revelam a complexidade. 

“No período [2020 a 2024], foram constatados 58 relatórios de auditoria e fiscalização relacionados a queimadas que não resultaram em autos de infração devido à dificuldade na identificação de autoria”, revela o Brasília Ambiental.

Neste recorte de mais de quatro anos, o Ibram aplicou apenas 15 autuações. A maioria dos casos é referente à queima de folhas e resíduos em quintais residenciais, que resultaram em advertências e multas que variaram entre R$ 470 e R$ 5 mil.

9 imagens
Bombeiros combateram o incêndio durante três dias
Devido ao incidente, a Flona foi fechada para visitação
O incêndio gerou uma espessa cortina de fumaça que deixou Taguatinga 'invisível'
Há a suspeita de que a queimada tenha sido criminosa
PF vai investigar o caso
1 de 9

A reportagem esteve na Flona de Brasília, na área atingida pelas chamas

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
2 de 9

Bombeiros combateram o incêndio durante três dias

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
3 de 9

Devido ao incidente, a Flona foi fechada para visitação

Igo Estrela/Metrópoles
4 de 9

O incêndio gerou uma espessa cortina de fumaça que deixou Taguatinga 'invisível'

Igo Estrela/Metrópoles
5 de 9

Há a suspeita de que a queimada tenha sido criminosa

Igo Estrela/Metrópoles @igoestrela
6 de 9

PF vai investigar o caso

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
7 de 9

Há outros órgãos mobilizados no combate às chamas e preservação das espécies da Flona

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
8 de 9

Quase 40% da Floresta foi atingida

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
9 de 9

Imagens registradas pelo Metrópoles flagraram fogo alto e grandes colunas de fumaça na área

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto

Já em áreas de proteção ambiental, o Ibram tem dificuldades de identificar autores quando há a suspeita de uma queimada delituosa. O órgão revela que não possui, por exemplo, tecnologias para identificar infratores em incêndios florestais.

“Na maioria dos atendimentos de denúncias, a situação de queimada é constatada pela fiscalização, mas não é possível identificar o autor. Sem flagrante do autor ou provas suficientes da autoria daquele crime, não é possível autuar e aplicar multa a ninguém”, diz o órgão.

Câmeras de vigilância fazem falta em áreas de mata. Mesmo quando há equipamentos, o processo de obter as imagens é lento. “A dificuldade de verificar a autoria de um incêndio se dá porque os incêndios florestais costumam iniciar ou ocorrer em local ermo onde não há câmeras de vigilância; as imagens de satélites não são em tempo real e não há imagens de todo o período das áreas. Assim, não dá pra fazer um rastreio nas imagens buscando o autor”, explica o Ibram.

“Existem, por exemplo, as queimas de lixo, onde as pessoas jogam o resíduo e ateiam fogo. Quando isso acontece no quintal ou em área particular, o dono é autuado. Porém, quando acontece em área pública, temos a dificuldade citada acima.”

A superintendente de fiscalização e monitoramento ambiental do Ibram, Simone Moura, explica que as queimadas podem estar relacionadas com “infrações administrativas maiores”, como parcelamento irregular de terra, desmatamento e intervenção em área de proteção ambiental ou unidade de conservação. “Neste caso, as multas precisam ser graduadas de acordo com o conjunto de danos causados na área”.

Simone lamenta a dificuldade de saber quem ateia o fogo quando há uma queima criminosa. “Isso [a identificação do autor] tem sido uma das maiores dificuldades. Sendo em área pública, nós temos dificuldade [de identificar], porque esses incêndios costumam acontecer em um lugar ermo, onde não há câmeras de vigilância, e a gente não tem imagem de toda essa área para poder fazer um rastreamento buscando o autor em alguns casos”, afirma a servidora.

Tecnologia faz falta

Como dito anteriormente, o Brasília Ambiental não dispõe de equipamentos tecnológicos diversos para identificar infratores em casos de incêndios florestais. O órgão possui uma tecnologia de alerta de queimadas, mas os avisos não ocorrem em tempo real. “A informação leva um tempo até ir para o sistema”, justifica.

Nesse cenário, a superintendente Simone Moura ressalta que as denúncias são fundamentais para o trabalho de combate ao fogo e lamenta o baixo número de registros nos últimos anos. “Precisamos muito das informações e denúncias. Nós temos servidores que trabalham em todas as unidades de conservação, e sempre que tem um foco de incêndio eles nos informam, mas ainda precisamos das denúncias das pessoas.”

3 imagens
Órgãos têm dificuldade em autuar culpados em incêndios criminosos
CBMDF faz perícia em caso de queimadas, mas também não dispõe de tecnologia avançada
1 de 3

Simone Moura, superintendente de fiscalização e monitoramento ambiental do Ibram

Brasília Ambiental/Divulgação
2 de 3

Órgãos têm dificuldade em autuar culpados em incêndios criminosos

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
3 de 3

CBMDF faz perícia em caso de queimadas, mas também não dispõe de tecnologia avançada

Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto

O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) realiza perícias em casos de incêndios em áreas de proteção ambiental. Quando os trabalhos apontam suspeitos, a corporação repassa informações às polícias competentes. “Sempre trabalhamos em parceria com a Polícia Civil (PCDF) e Polícia Federal (PF) e, nos casos de suspeitas, as ocorrências são conduzidas por estes órgãos”.

Quanto a instrumentos tecnológicos para identificação de autores, o CBMDF afirma que dispõe de aeronaves e drones. “No caso de alguma amostra recolhida, podemos direcionar ao nosso laboratório de perícias. As aeronaves da corporação – assim como drones – também podem ser utilizadas.”

A Polícia Civil do DF (PCDF) registrou média de 389 ocorrências relacionadas a queimadas de 2019 até o momento. Destes, 6% são referentes a incêndios em vegetação, e 1% é de incêndio em mata ou floresta. O sistema de busca utilizado pela corporação não faz distinção se os incêndios são culposos ou dolosos.

“No Instituto de Criminalística da PCDF, há a Seção de Incêndio e Explosão (Sinex), responsável pela elaboração de laudos técnico-científico de locais de incêndios de natureza criminosa. Esse documento auxilia o trabalho investigativo no que diz respeito à materialidade do crime”, informa a corporação.

A Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF) disse não ter dados referentes a incêndios criminosos na capital federal.

Como denunciar

A Central 162 é o caminho mais simples para quem quer denunciar uma queimada supostamente criminosa. O canal funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 21h; sábados, domingos e feriados, de 8h às 18h. O cidadão que preferir informar um caso presencialmente pode ir à sede do Brasília Ambiental, localizada na 511 Norte, no Setor de Edifícios de Utilidade Pública Norte (SEPN) bloco C, térreo. O portal ParticipaDF também está disponível.

O órgão tem 20 dias corridos para responder o denunciante. São dez dias para informar ao cidadão as primeiras providências adotadas e mais dez para apurar e revelar o resultado final.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?