metropoles.com

Em 30 anos, efetivo do Batalhão Escolar da PMDF sofreu redução de 81%

Dados preocupam pais e professores, que se sentem a cada ano mais desprotegidos. Na 2ª, um aluno de 15 anos esfaqueou e feriu 3 estudantes

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Hugo Barreto/Metrópoles
Centro Educacional São José
1 de 1 Centro Educacional São José - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

O efetivo do Batalhão Escolar da Polícia Militar do Distrito Federal reduziu 81%, em 30 anos. Quando foi criado, em 1989, a quantidade de policiais voltados para rondas próximas aos colégios da capital do país era de 914 homens e mulheres. No entanto, no levantamento mais recente – feito em 2022 -, o número caiu para 168 policiais, sendo um quinto do início do projeto. Em contrapartida, os estabelecimentos educacionais aumentaram, saindo de 529 instituições públicas e privadas para 1,4 mil, sendo 827 públicas.

Os dados preocupam pais e professores que se sentem a cada ano mais desprotegidos. Na segunda-feira (4/3), um aluno de 15 anos esfaqueou e feriu três estudantes, uma monitora e um professor no Centro Educacional (CED) São José, em São Sebastião (DF). O adolescente foi apreendido e levado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) da Asa Norte, também no Distrito Federal, onde confessou o atentado.

Enquanto familiares se preocupam, a Secretaria de Segurança Pública e da Paz Social (SSP-DF) não tem a mínima ideia do número de ocorrências de agressão, briga, tentativa de homicídio e tráfico de drogas em escolas públicas. Questionada sobre os dados, a pasta pediu apenas que a reportagem tentasse via Lei de Acesso à Informação (LAI).

O histórico do efetivo foi levantado pelo gabinete da ex-deputada distrital Arlete Sampaio (PT) , por meio de informações fornecidas pela Polícia Militar do Distrito Federal. Os dados têm sido acompanhados e atualizados pelo parlamentar Gabriel Magno (PT), presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).

Dos 168 policiais militares, são 10 oficiais, 113 praças ativos e 45 praças designados responsáveis por todo o Distrito Federal. A equipe é dividida em quatro companhias: metropolitana, leste, oeste e sul.

A metropolitana atua no Plano Piloto, Guará, Cruzeiro, Vila Planalto, Estrutural. Lago Norte, Granja do Torto, Sudoeste, Octogonal, Lago Sul, Lago Norte, Park Way, SIA, Vila Telebrasília e Taquari. Já a companhia Leste atende Paranoá, Sobradinho I e II, Planaltina, São Sebastião, Itapoã e Fercal.

A companhia Oeste trabalha em Taguatinga, Brazlândia, Águas Claras, Ceilândia, Samambaia e Vicente Pires. A Sul faz Gama, Núcleo Bandeirante, Santa Maria, Riacho Fundo I e II e Candangolândia.

O Metrópoles questionou a PMDF sobre o número do efetivo, mas a corporação não respondeu, alegando apenas “um grande batalhão”. Informou também que “os batalhões de áreas são prioridade para as ocorrências nas escolas, o que tem surtido efeito para redução dos índices criminais”, mas não deu um só exemplo dessa redução de índice criminal (veja resposta abaixo).

Pais e professores

Com os números cada vez menores, pais e professores apontam um desmonte na estrutura. “O batalhão é importante porque inibe a presença de pessoas mal-intencionadas dentro das escolas”, destacou a diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) Márcia Gilda.

Professora da rede pública desde 1995, ela recorda de como a estrutura funcionava e como tem sido dizimada ao longo dos anos. “Eram policiais em dupla que faziam rondas em cada escola”, comentou. “Devemos destacar que era um policial treinado para atender à comunidade escolar”, disse.

“O batalhão hoje foi desmontado. Era algo que tinha uma força educativa e preventiva, com trabalhos de abordagem aos alunos”, destacou o presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF), advogado Alexandre Veloso.

“Antes o batalhão tinha um trabalho preventivo que dava tranquilidade à família. A escola muitas das vezes era um lugar mais seguro que dentro de casa. Hoje não podemos dizer mais isso”, reforçou Veloso.

“A associação de pais é favorável ao fato de o batalhão voltar a ser o que era antes, mas também não pode ser a única ação é preciso levar em conta a saúde mental dos estudantes”. O presidente da Aspa destacou a importância de psicólogos e orientadores educacionais preparados para dar assistência aos estudantes.

“O bullying é algo gravíssimo, que faz com o estudante se sinta em uma panela de pressão e reaja com violência. Com uma equipe para amparar esse aluno, muitos problemas poderiam ser resolvidos”, destacou.

É nessa linha que a comissão de Educação, Saúde e Cultura da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) tem cobrado o Governo do Distrito Federal.

“Queremos que o GDF restabeleça o número de policiais do batalhão, mas principalmente contrate uma equipe de saúde e de profissionais que possam dar suporte ao aluno”, declarou o presidente da comissão, deputado distrital Gabriel Magno (PT).

Vigilantes armados

Como o Metrópoles mostrou, o deputado federal Rafael Prudente (MDB-DF) apresentou um projeto de lei  que pretende obrigar a presença de segurança armada em escolas públicas e privadas da educação básica do país.

A ação é criticada pelos especialistas dos setores. “Acham toda vez respostas mágicas e rápidas de soluções que não são simples”, apontou o presidente da Aspa, advogado Alexandre Veloso.

“O batalhão tinha um preparo. Não é pegar qualquer policial e colocar ali, era um específico que saiba tratar o aluno como estudante e não simplesmente suspeito”, afirmou o deputado Gabriel Magno.

Ataque

Segundo testemunhas do ataque nas escolas, o adolescente teria ido ao banheiro. Ao sair da sala de aula, começou o ataque nos corredores da unidade de ensino. Após ferir de raspão uma aluna, derrubou e esfaqueou um outro colega. Ao chegar a uma sala, onde tinha estudantes com deficiência (PCDs), o jovem esfaqueou a monitora.

Na sequência, feriu duas alunas. Uma delas está grávida de 2 meses. O ataque só foi interrompido após um professor conter o estudante. Nesse momento, o educador também acabou ferido, na mão.

O Corpo de Bombeiros (CBMDF) atendeu as vítimas no local, e a Polícia Militar (PMDF) apreendeu o adolescente. Após o episódio, a equipe gestora do colégio dispensou a comunidade escolar das aulas dos três turnos, nessa segunda-feira (4/3).

Por meio de nota, a Secretaria de Educação do  DF (SEEDF) reiterou que repudia qualquer forma de violência, dentro ou fora da escola e reforçou o “compromisso e o empenho na busca por elementos que permitam o esclarecimento dos fatos, bem como [o de prestar] suporte aos envolvidos, para garantir a segurança e integridade da comunidade escolar”.

Bullying

A família do estudante autor das facadas pediu perdão às vítimas, ainda na segunda-feira (4/3). “A família ligou para cada um dos familiares das vítimas atingidas e pediu perdão. A palavra foi essa: perdão. A gente sabe que não vai retratar o que foi feito. É uma família estruturada, não foi falta de amor, de carinho. O adolescente sofria bullying e nós tivemos esse fatídico dia”, afirmou o advogado de defesa, Marcos Akaoni.

Segundo a defesa do adolescente, o jovem seria introspectivo e calado e aguentou, calado, bullying por mais de um ano. De acordo com o advogado, o jovem não tem histórico de violência, participava das atividades curriculares e extracurriculares na escola, fazia cursos e jogava futebol.

De acordo com a defesa, o menor confessou o atentado, mas, segundo o advogado, está muito confuso e precisou receber medicação.

O que a PMDF diz

Em nota, a polícia miliar destacou que o Batalhão Escolar possui em sua responsabilidade, oito colégios cívico-militares, que foram selecionados por um processo de índices de vulnerabilidade e que o  Batalhão Escolar atua nessas escolas exercendo trabalho de gestão compartilhada com a Secretaria de Educação. Leia nota na íntegra:

A Polícia Militar informa que no DF tem um grande Batalhão de Policiamento Escolar que é dividido em quatro Companhias descentralizadas e cada uma é responsável por 1/4 (um quarto do DF. Além disso, os Batalhões de áreas são prioridade para as ocorrências nas escolas, o que tem surtido efeito para redução dos índices criminais.

O Batalhão Escolar possui em sua responsabilidade, oito colégios Cívico-militares, que foram selecionados por um processo de índices de vulnerabilidade. Esses índices foram construídos através dos baixos indicadores IDEB,IDAH e altos índices de ocorrências policiais. O Batalhão Escolar atua nessas escolas exercendo trabalho de gestão compartilhada com a Secretaria de Educação. Dessa gestão, são construídos o civismo, o respeito e a cidadania para apoiar toda a atividade pedagógica. Além disso, já tem como bons resultados alunos ingressando nas universidades, inclusive em Medicina.

O Batalhão também possui o Programa Educacional de Resistência às Drogas – PROERD.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?