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Em 2021, 152 adolescentes cometeram ou tentaram suicídio no DF

Números foram divulgados pelo Corpo de Bombeiros, que é responsável por atender ocorrências do tipo, entre janeiro de 2021, até o momento

atualizado

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1 de 1 UnB em luto - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

O retorno 100% presencial das crianças e adolescentes às salas de aulas da rede pública do Distrito Federal colocou professores e orientadores educacionais em alerta quanto à necessidade de se discutir saúde mental e prevenção ao suicídio com seriedade e urgência.

Durante a pandemia da Covid-19, com a mudança drástica de rotina e o afastamento de amigos, professores e outros familiares, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta sobre a possibilidade de aumento nos índices de adolescentes com problemas psicológicos que levam a tentativas de suicídio e automutilação, algo que já vem sendo constatado por pesquisadores e profissionais da saúde e da educação.

Como a escola pode agir para resguardar a saúde mental dos alunos? E como identificar adolescentes que têm tendências suicidas? Mesmo antes da Covid-19, crianças, adolescentes e jovens carregavam o fardo das condições de saúde mental sem um investimento significativo para resolvê-los.

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Dados sobre suicídio são da Secretaria de Saúde do Distrito Federal
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Para professora da rede pública de ensino do DF, escolas podem identificar ideação suicida, encarar e debater tabu

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Dados sobre suicídio são da Secretaria de Saúde do Distrito Federal

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Segundo as últimas estimativas disponíveis, divulgadas pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em outubro, calcula-se que, globalmente, mais de um em cada sete meninos e meninas com idade entre 10 e 19 anos viva com algum transtorno mental diagnosticado. Quase 46 mil adolescentes morrem por suicídio a cada ano, uma das cinco principais causas de morte nessa faixa etária. Enquanto isso, persistem grandes lacunas entre as necessidades de saúde mental e o financiamento de políticas voltadas a essa área.

O principal relatório da organização que este ano está focado em saúde mental de crianças, adolescentes e cuidadores no século 21, constata que apenas cerca de 2% dos orçamentos governamentais de saúde são alocados para gastos com saúde mental em todo o mundo.

Dados no DF

Os dados em todo o DF são alarmantes. Até o momento, em 2021, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) prestou socorro em 152 suicídios ou tentativas de suicídio de adolescentes de 10 a 17 anos de idade. No ano passado, 149 ocorrências, ou seja, de um ano para o outro houve um aumento de 2% em casos do tipo.

A Secretaria de Saúde não informou recorte específico de casos de autoextermínio de adolescentes no DF. No total, a pasta registrou 85 óbitos, de janeiro a outubro de 2021, provocados por autointoxicações, automutilações e lesões autoprovocadas. Em 2020 foram registrados 197 óbitos pelas mesmas causas. Destes, 63,5% correspondem a óbitos registrados em domicílio e 11,7% correspondem óbitos registrados em vias públicas, locais que são área de atuação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Dados consolidados pelo Samu apontam que, da janeiro a outubro de 2021, o serviço atendeu 6.086 ocorrências de diagnósticos confirmados de saúde mental (psiquiátricos).

Setembro amarelo: jovens são as maiores vítimas de suicídio no DF.

Prevenção, acolhimento e debate

Por trás das tragédias, contudo, há esperança. Apesar das vidas perdidas, a prevenção avança. Na década de 1980, estudos realizados nos Estados Unidos diziam que essas mortes poderiam ocorrer por imitação. Daí, “não podíamos falar sobre o assunto”. Mais de 30 anos depois, a Organização Mundial da Saúde (OMS) vai hoje em direção contrária: é preciso, sim, falar sobre suicídio – a segunda maior causa de mortes em todo o mundo –, a fim de combatê-lo.

Diante do cenário preocupante, a orientadora educacional Adiones Sena Rios, que trabalha em uma escola de ensino médio da rede pública de educação, no Gama, há 12 anos, relata que, atualmente, no colégio, mais de 30% dos adolescentes apresentam transtorno de ansiedade.

Em entrevista ao Metrópoles ela diz que muito pouco investimento está sendo feito pelos governos para atender a essas necessidades críticas.

“Não está sendo dada importância suficiente à relação entre a saúde mental e os resultados futuros na vida. Precisamos chamar atenção para a importância desse trabalho. Pedir que governos e parceiros dos setores público e privado se comprometam, comuniquem e ajam para promover a saúde mental de todas as crianças, todos os adolescentes e profissionais, proteger os que precisam de ajuda e cuidar dos mais vulneráveis”, defende.

Em parceria com profissionais especializados em relações sociais e sofrimento psíquico, a educadora tem realizado, desde agosto do ano passado, rodas de conversa, cuidado, acolhimento e atendimentos no ambiente escolar. A profissional pontua que há dificuldade – tanto do professor quanto do aluno – de haver um diálogo mais profundo sobre o assunto. Isso ocorre porque, além dos estudantes não se sentirem à vontade com os adultos, de maneira geral, os professores não costumam ter formação qualificada para lidar com essas questões, que são complexas e, muitas vezes, exigem auxílio especializado.

A mudança de comportamento, segundo Adiones, é a principal forma que o adolescente tem de mostrar que algo não está correto. Isso pode incluir um número acima da média em faltas às aulas, queda nas notas ou isolamento repentino dos colegas. Sinais de uso de drogas ou álcool, além de automutilação também devem ser observados.

“Todos os dias, eu atendo alunos com crise de ansiedade. Em média cinco a seis por dia. Isso não acontece apenas na nossa unidade de ensino. Entre os principais fatores detectados pelos profissionais estão problemas familiares, término de relacionamentos e violência doméstica. Os principais sintomas são choro e a automutilação. Há casos de tentativa de suicídio com comprimidos, cortes em órgãos genitais, entre outras maneiras de autolesão.”

Ela reclama que não há médicos na rede para atender os encaminhamentos e nem equipe multidisciplinar nas escolas para apoiar.

“As mães, por falta de conhecimento e condições financeiras, procuram a escola para pedir ajuda, mas o que dispomos é só a boa vontade. Precisamos abrir um debate para encontrar mecanismos capazes de minimizar os processos de sofrimento. Atuar na prevenção com urgência. É necessário políticas públicas nas escolas já”, argumenta Adiones.

“Todos os dias peço a Deus que me fortaleça para que eu possa levar para esses meninos e meninas uma palavra de ânimo”, complementa.

Encaminhamento

Questionada pela reportagem, a Secretaria de Educação do DF (SEEDF) informou não possuir registros formais sobre casos de problemas psicológicos, automutilação ou suicídio nas unidades escolares.

Sobre a existência de ações para a prevenção, a pasta ressaltou que está em funcionamento o “fluxo de encaminhamento de estudantes com demandas de saúde mental e/ou dificuldades no desenvolvimento e aprendizagem”, uma parceria da Secretaria de Educação com a Secretaria de Saúde.

“Esse fluxo tem o objetivo de garantir a padronização dos encaminhamentos entre as secretarias, visando atendimento integrado e resolutivo, além de uniformizar o instrumento de encaminhamento, garantindo a troca de informações entre as unidades escolares e de saúde”, respondeu a pasta por meio de nota.

Segundo a SEEDF, quando a unidade escolar identifica um estudante com demandas de saúde mental e/ou dificuldades no desenvolvimento e aprendizagem, elabora relatório e solicita atendimento à área de saúde, acionando a rede de apoio. Os encaminhamentos são realizados via SEI.

Ainda de acordo com a pasta, para os profissionais das escolas, são realizadas atividades sobre os temas, como oficinas, palestras e formações que potencializem o trabalho preventivo e prepara para o entendimento dos aspectos que envolvem casos de automutilação, bullying e tentativas de suicídio.

Está em fase de conclusão o “Guia de Valorização da Vida – Orientações e prevenção ao bullying, automutilação e suicídio na escola”, que será disponibilizado aos profissionais das escolas públicas do DF, com orientações e propostas de intervenção para o acolhimento das demandas relacionadas a esses temas.

“Outro documento, já disponível na rede pública, é o ‘Caderno Orientador – Convivência Escolar e Cultura de Paz’, que também aborda as temáticas em questão, sendo suporte aos professores, gestores e demais atores escolares”, concluiu.

Busque ajuda

O Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.

Depressão, esquizofrenia e o uso de drogas ilícitas são os principais males identificados pelos médicos em um potencial suicida. Problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.

Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode te ajudar. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Skype 24 horas todos os dias.

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O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender demandas relacionadas a transtornos psicológicos. O Núcleo atua tanto de forma presencial, atendendo em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.

Disque 188

A cada mês, em média, mil pessoas procuram ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV). São 33 casos por dia, ou mais de um por hora. Se não for tratada, a depressão pode levar a atitudes extremas.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada dia, 32 pessoas cometem suicídio no Brasil. Hoje, o CVV é um dos poucos serviços em Brasília em que se pode encontrar ajuda de graça. Cerca de 50 voluntários atendem 24 horas por dia a quem precisa.

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