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Vítima sobre mulher que xingou “negrada do inferno”: “Racista de carteirinha”

Mulher foi presa, pagou a fiança, acabou liberada, mas responderá criminalmente. Família da vítima vai processá-la

atualizado

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mulher em viatura
1 de 1 mulher em viatura - Foto: Material cedido ao Metrópoles

O sentimento de revolta tomou conta da família Santos após o pintor aposentado José Barbosa dos Santos, um homem negro, ter sido alvo de racismo em frente ao Taguatinga Shopping na tarde de quarta-feira (28/7). Na ocasião, uma mulher passou e gritou: “Essa negrada do inferno, vai tudo pro inferno” e o empurrou.

Ao Metrópoles, José revela ter sido a primeira vez que foi alvo de discriminação pela cor da pele. “Nós todos [família] ficamos constrangidos demais e muito nervosos. Esse fato nunca aconteceu com a gente. Eu convivo com várias pessoas no trabalho, e eles nunca me trataram assim”, lamenta.

José conta que é conhecido no Distrito Federal pelo profissionalismo e pelos trabalhados desempenhados como pintor na Asa Norte, Asa Sul, no Guará e em Águas Claras. “Ninguém nunca me tratou dessa maneira. Essa mulher deixou a gente muito chateado. Temos de resolver isso, tem que acabar. Ela é racista de carteirinha”, critica.

Veja as imagens:

Depois de minutos de bate-boca, uma policial militar à paisana e um bombeiro militar pararam para ver o que estava acontecendo. Quando os dois militares foram detê-la, a mulher desferiu chutes. Ela não teve o nome revelado pela delegacia que investiga o caso. Segundo a vítima, durante a abordagem, a policial mandou a mulher pedir desculpas e reconhecer que estava errada. “Para eles, eu não peço desculpas”, teria dito a acusada.

A mulher acabou presa e conduzida à 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul), onde foi indiciada por injúria racial, mas pagou a fiança e conseguiu a liberdade. Agora, a família pretende abrir um processo contra ela.

“Isso não é injúria racial, não, é racismo, mesmo. Vão pagar a fiança e ficar por isso mesmo? Eu quero que a Justiça seja mais severa sobre esses assuntos. Pois, se não, ela e outras pessoas vão continuar fazendo a mesma coisa ou até pior”, reclama José.

Memória

Após trabalhar como pintor por 45 anos, José comentava com os filhos sobre a pintura que o shopping fazia na fachada do prédio. As pessoas que estavam na calçada viram o que houve e passaram a questionar a mulher que fez os comentários racistas.

Depois do ocorrido, os filhos de José e testemunhas foram à delegacia para registrar ocorrência. No depoimento prestado à polícia, Alcides dos Santos argumentou que o pai fez cirurgia há 20 dias e que um empurrão da mulher o fez cair, o que poderia prejudicar o processo de cicatrização.

Segundo conta a neta de José, a influencer e estudante de radiologia Lorrane da Silva, o avô retirou um rim, e a consulta era para verificar a recuperação. “Eu estou tão indignada que a minha carne está tremendo por dentro”, desabafou a jovem nas redes sociais. Em conversa com o Metrópoles, ela explicou que, aos policiais, a mulher negou ter sido racista.

“Os policiais consideraram que foi injúria racial, mas não foi o que aconteceu. Depois, o marido dela chegou e alegou que ela tem problemas mentais, pediu para a minha família retirar a queixa, mas decidimos não retirar. Ela pagou a fiança e foi embora”, explicou Lorrane.

Segundo o Código Penal, injúria racial é crime, com pena de 1 a 6 meses ou multa. Em caso de “vias de fato”, a pena passa a ser de 3 meses a 1 ano. O crime de racismo está na Carta Magna brasileira como “inafiançável e imprescritível”. No caso praticado contra José Barbosa dos Santos, a delegacia tipificou como injúria, e a acusada pagou R$ 1 mil de fiança.

“Ela ficou literalmente minutos na delegacia. Sai barato ser racista no Brasil. Sinto-me incapaz, a Justiça não adianta de nada”, protestou a jovem. “Se fosse o contrário, não seria isso que teria acontecido. Ele (avô) estaria preso ou morto nessa hora, mas não vamos deixar isso assim e vamos dar continuidade no processo”, finalizou Lorrane.

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