Efeito pandemia: polícia registra 11 brigas entre vizinhos por dia no DF
Discussões sobre barulho, uso de máscaras, álcool em gel e até ameaças de morte se tornaram ocorrências comuns durante o isolamento social
atualizado
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É difícil dizer uma única ocupação que não tenha sido afetada negativamente pela pandemia do novo coronavírus, mas algumas ainda apresentam situações, no mínimo, curiosas. É o caso de síndicos de condomínios do Distrito Federal que, além de assembléias virtuais e protocolos de higienização das áreas comuns, têm que solucionar os impasses entre os moradores, que, agora, passam muito mais tempo em suas residências.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP/DF), de janeiro a agosto de 2020, o número de ocorrências por perturbação do trabalho ou sossego alheio em todo o DF superou o total de 2019. Discussões entre vizinhos totalizaram 2.489 em todo o ano passado, enquanto nos primeiros 8 meses deste ano somaram 2.616 casos, um aumento de 5% e média diária de quase 11 por dia.
“A gente sabe que aumentaram os conflitos em razão da permanência por mais tempo das pessoas em casa”, assume Emerson Tormann, presidente da Associação dos Síndicos de Condomínios Comerciais e Residenciais do Distrito Federal (Assosíndico-DF). Com aproximadamente 200 síndicos associados, a dica do mandatário é manter uma boa comunicação com os condôminos e definir claramente as regras de convivência. “Seguir as regras do regimento interno e, quando não há um, que o próprio síndico crie os regulamentos sobre os problemas mais comuns”, orienta.
No caso da síndica Alessandra Beatriz, 47 anos, a comunicação poderia ter livrado o condomínio de pagar uma fortuna. “Nossos elevadores são digitais e, na pandemia, as pessoas colocaram tanto álcool que danificaram o painel, o que gerou um prejuízo de R$ 14 milhões”, lamenta. A solução foi colocar uma proteção plástica nos botões, mas nem isso adiantou, pois os moradores a tiravam. Dessa forma, foi necessário gravar um vídeo bem didático para os moradores dos 48 apartamentos com as instruções para uso do equipamento.
Apesar de descrever a realidade de seu condomínio como tranquila, a síndica Ana Carolina também teve sua dose de dor de cabeça por causa de seus moradores em quarentena, principalmente com os pequenos. “Um dia cheguei da rua e estava cheio de criança andando de skate embaixo do prédio”, conta a administradora dos quase 400 habitantes do Catharina Iansen, em Águas Claras. “Botei todo mundo para correr e disse que ia ligar para a mãe de todos, que ficaram bravos comigo, mas aqui embaixo, ainda mais com pandemia, não pode'”.
Casos de polícia
Infelizmente, nem todos os casos de desentendimentos entre vizinhos podem ser resolvidos com um vídeo. Leonardo Conti, 37, síndico de um condomínio com duas torres e cerca de 1,3 mil moradores em Águas Claras percebeu isso na pele, e tudo por causa de barulho. “Um dos moradores, inconformados e sem paciência, interfonou para outros moradores que ele julgava serem os causadores do barulho”, conta o empresário, revelando que o revoltado condômino disse que “‘ia meter um tiro na cara deles’ se não parassem com ‘aquela palhaçada'”.
Com medo, os residentes ameaçados reportaram o caso à polícia, até porque também não dava para identificar de qual apartamento as ameaças partiam. No fim, até mesmo Conti teve que parar na delegacia.
Emerson Tormann também ressalta outra triste realidade evidenciada pelo maior confinamento nos domicílios: a violência doméstica. Enquanto no primeiro semestre de 2019 foram contabilizados 9.693 acionamentos ao 190 (canal de emergência da Polícia Militar) para crimes do tipo, em 2020, o valor subiu para 12.863, um acréscimo de 32,7%.
Nas cidades do Paranoá, Itapoã, São Sebastião e Jardim Botânico, 562 mulheres já foram atendidas na rede pública após serem vítimas de violência doméstica e sexual, de janeiro a julho de 2020. O levantamento é da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) e também revela que triplicaram os atendimentos a vítimas de violência doméstica e sexual em plena pandemia da Covid-19, em comparação aos dados de 2018, quando houve 429 registros no total.
Mesmo com as restrições impostas pelo atual momento, vale ressaltar que as Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher (DEAM I e II) permanecem abertas, além da existência de outros meios para recebimento de denúncias: o 197 Denúncia On-line, o telefone 197 (opção zero), o e-mail denuncia197@pcdf.df.gov.br e o WhatsApp (61) 98626-1197.