UnB inicia ano letivo com o fantasma da falta de dinheiro
Reitor e representantes da universidade admitem que 2016 terá diversos obstáculos para a instituição. Alunos já reclamam de falta de estrutura
atualizado
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Cerca de 45 mil alunos da Universidade de Brasília (UnB), entre graduação e pós-graduação, voltaram às aulas nesta segunda-feira (7/3). Apesar da euforia dos recém-chegados calouros, o tom dos discursos durante as apresentações foi de atenção a questões políticas, sociais e de saúde. Mas o tema que se sobressaiu foram os problemas financeiros.
Na aula aula inaugural, realizada no Centro Comunitário da universidade o decano de Planejamento e Orçamento, César Tibúrcio, foi enfático: “O grande desafio do ano será manter a UnB funcionando normalmente diante de um quadro de crise nas finanças públicas. Isto implica em corte orçamentário — que ainda não sabemos de quanto será — assim como dificuldade de recebimento do financeiro. A prova disso é a Portaria n° 67, do Ministério Público, de 1º de março de 2016, que restringiu uma série de despesas para a Universidade”, explica.O reitor Ivan Camargo concorda. O docente ressaltou a importância de haver outras fontes de receita para que a UnB consiga se manter. “A qualidade do ensino passa muito pelo empenho e a dedicação dos alunos. Quanto à parte financeira, sabemos que, com menor arrecadação do governo, a tendência é que haja menos aporte”, relatou. Ainda segundo Camargo, a verba para pagamentos de professores e funcionários está garantida, mas será preciso buscar outras fontes para auxiliar outras áreas, como a de pesquisas.
No ano passado, alunos e servidores sofreram com atrasos nos pagamentos de bolsas estudantis e reajustes de salários, que culminou em uma greve de mais de 130 dias de funcionários da UnB. Este ano, o problema mais recente foi a falta de pagamento dos professores da UnB Idiomas, o que pode comprometer o semestre na escola de línguas estrangeiras.
Para o Diretório Central dos Estudantes (DCE), as dificuldades orçamentárias não podem afetar o bem estar dos alunos. “Buscamos parcerias e debates de forma que projetos e benefícios estudantis não sejam impactados. Acredito que será um dos grandes desafios de 2016”, conta a coordenadora de projetos da organização e graduanda de Ciências Políticas Helena Esteves.
Diversidade e saúde
O respeito à diversidade no ambiente universitário também foi tratado com destaque. “A universidade é um espaço para expressões múltiplas e livres. Vale lembrar para os calouros que, nenhum trote é permitido, nem que seja justificado como uma simples brincadeira”, afirmou a vice-reitora Sônia Nair Báo. Para incentivar a cultura do bom convívio, palestras e ações de conscientização serão promovidas pela Diretoria de Diversidade, vinculada ao Decanato de Assuntos Comunitários (DAC). Vale lembrar que a universidade passou por um caso recente de suspeita de assédio sexual.
A saúde pública foi outro tema de enfoque. O epidemiologista Pedro Tauil, referência no controle de doenças, participou da apresentação e tirou dúvidas quanto a prevenção e tratamento da dengue, zika virose e da febre chikungunya. Uma parceria com o Ministério da Saúde também foi firmada para esclarecimento da comunidade e ajuda no combate ao mosquito Aedes Aegypti.
Reclamações
Mesmo com a boa intenção da reitoria e do diretório, no campus do Gama, alunos reclamaram da falta de estrutura. Desde que foi inaugurado, em 2011, o local está sem estacionamento definitivo.
O estudante do oitavo semestre de engenharia eletrônica Tales Maurício, de 23 anos, conta que já teve que trocar a suspensão do veículo duas vezes por conta da irregularidade do estacionamento improvisado do campus. “O espaço não é suficiente para todos os alunos. Na estação chuvosa, os carros atolam e sobram ainda menos vagas. Na seca, o pessoal sofre com problemas respiratórios por conta da poeira que entra nas salas de aula”, relatou ao Metrópoles.
Procurada, a UnB informou que a construção de um estacionamento apropriado depende do Instituto Brasília Ambiental (Ibram). O Ibram, por sua vez, alegou que foram expedidas a Autorização Ambiental, que venceu em 2009, e a Licença de Instalação, que expirou em 2012.
“No momento estão em curso tratativas entre o Ibram e a UnB Gama para a regularização da situação. O Ibram aguarda protocolo, por parte da universidade, de toda a documentação comprobatória de cumprimento das condicionantes da Licença de Instalação e também do Termo de Compromisso para que seja dado prosseguimento à análise do processo. Sem tal documentação, não é possível a emissão de Licença Ambiental que subsidie a construção de novos prédios e/ou estacionamentos”, acrescentou, em nota, o instituto.
A reportagem procurou o diretor do campus do Gama para maiores esclarecimentos sobre a situação, mas não obteve resposta até a última atualização desta matéria.