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Transformação da escola passa por valorização dos professores

Instituto Península defende a criação de políticas que aproximam docentes da realidade da rede pública e tornem carreira atrativa

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Foto colorida da professora de Português e Redação Mayara Silva com alunos em sala de aula - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida da professora de Português e Redação Mayara Silva com alunos em sala de aula - Metrópoles - Foto: Metrópoles DF

atualizado

Materiais pedagógicos customizados, uso de tecnologia e metodologias ativas chegaram para dar mais significado à escola. Mas como os professores estão sendo preparados para lidar com essas transformações?

De acordo com a pesquisa TALIS (Teachers and school leaders as lifelong learners) 2018, realizada entre os professores que compõem os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), 53% dos educadores receberam formação para a integração de tecnologias digitais da informação e da comunicação (TDIC) no ensino como parte da sua educação formal.

Outro dado é de que apenas 43% desses educadores se sentiram muito bem preparados para lidar com esse assunto quando concluíram a etapa inicial de sua formação docente.

Para Mariana Breim, diretora de políticas educacionais do Instituto Península, a falta de domínio dos professores nas competências digitais pode ser um entrave para a implementação de políticas públicas.

“O professor é o grande implementador de qualquer política pública de educação. Todas as evidências nacionais e internacionais apostam que entre os fatores intraescolares que afetam o desempenho do aluno o mais importante não é o material, a infraestrutura ou a tecnologia, é o professor”, afirma a diretora do Instituto Península, cuja missão é trabalhar para melhorar a carreira docente no Brasil.   

Mariana lembra que a pandemia foi um “acelerador de futuro”, mas que a escola é uma instituição que ainda resiste a mudanças. “O que temos são professores analógicos ensinando alunos digitais”, diz. 

“Se transportarmos um médico do século 17 e colocarmos dentro de um hospital de ponta hoje, ele provavelmente não vai saber operar o paciente, não vai conhecer mais quais são os instrumentos e ferramentas disponíveis. Talvez não identifique doenças e os medicamentos necessários para combatê-las. Mas se fizermos isso com um professor, a sala de aula vai estar igual, com os alunos sentados enfileirados, para que ele fique a frente”, compara a diretora, ao reforçar que hoje os alunos requerem habilidades diferentes.

Professor no papel de mediador

Já que o docente deixa de ser o único responsável pela transmissão de conteúdo – facilmente encontrado na internet, por exemplo – passa a ocupar mais um lugar de mediador do conhecimento. Com a pandemia, mesmo os que tinham receio em adotar a tecnologia entenderam que esse é o recurso indispensável para colaborar na aprendizagem nos dias de hoje. 

“O ensino ativo é para que o aluno ocupe um lugar de autonomia, de protagonismo. Tem coisas que ele vai precisar fazer junto com todo mundo mediado por um professor, em outras vai precisar de atendimento individualizado, e ainda, em outras vai poder continuar aprendendo fora da escola. Mas todas essas realidades estão nas mãos do professor, por isso as faculdades de Pedagogia e os cursos de licenciatura não podem mais ficar só ensinando filosofia e psicologia da educação”.

Mariana Breim

A cultura digital ainda aparece como uma das dez competências da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que devem ser desenvolvidas pelos professores nas escolas. 

Didática e prática

Paralelamente ao domínio das ferramentas digitais, a diretora aponta que a falta de convívio com a realidade da escola pública é outra lacuna da formação docente. Por isso, o Instituto Península defende a criação de um programa nacional em que os estudantes dos cursos superiores de Pedagogia e licenciatura façam atividades práticas e de estágios em escolas públicas, por meio de parcerias com estados e municípios, onde estão matriculadas mais de 85% das crianças e adolescentes brasileiros. 

Um exemplo já ocorre por meio de uma parceria entre o Instituto Singularidades, uma instituição de ensino superior fruto de uma iniciativa do Península, e a Prefeitura de São Paulo, que prevê que os estudantes de Pedagogia e licenciaturas do Singularidades façam seus estágios obrigatórios para a conclusão de seus cursos nas escolas municipais da capital. 

Outra pauta da agenda do Península é para que os processos de seleção para professores incluam provas práticas que consigam mensurar as competências desses docentes possuem para contribuir para o desenvolvimento integral dos alunos, no momento de sua prática profissional. 

“Os professores progridem na carreira por tempo de serviço ou por titulação, não necessariamente pela formação. A rede precisa saber quais as competências esse professor tem e quais ofertas formativas precisa oferecer para que ele desenvolva outras, e  a partir disso progrida na sua carreira. Hoje os professores têm condições de trabalho que não favorecem a formação continuada, como o fato de ter de trabalhar em duas ou três escolas ao mesmo tempo”.

Mariana Breim

‘Lugar de importância que eles merecem’

Mariana diz que os países que têm as melhores posições no Pisa – China, Singapura, Estônia, Canadá e Finlândia -, que é a principal avaliação da educação básica no mundo, investem em professores com boa remuneração, condições de trabalho e formações. 

“É preciso colocar os professores no lugar de importância que eles têm e merecem, porque se a gente não apostar em educação, não há desenvolvimento econômico ou crescimento de produtividade. É a peça chave que precisa ser mexida. Vamos entrar no momento em que o professor vai ganhar esse protagonismo e impulsionar políticas públicas que vão fazer esta ser uma carreira de fato”, finaliza a diretora.

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