Reforma em escola deixa crianças de até 3 anos sem aula no Paranoá

Devido à greve no segundo semestre de 2015, as aulas na rede pública de ensino do Distrito Federal este ano começaram apenas em 29 de fevereiro. Mas os períodos de paralisação e de férias não foram suficientes para a Secretaria de Educação se organizar, e o governo decidiu começar a reforma do Centro de Educação Infantil 1 do Paranoá dois dias após o início do ano letivo. Desde 2 de março, 110 crianças de até 3 anos estão sem aulas. Esta semana, outros 471 estudantes do ensino regular foram prejudicados, e ficarão os próximos dias em casa.

Os pais reclamam da demora das obras, alegam que não têm onde deixar os filhos e que as crianças perderão espaço de lazer, uma vez que a brinquedoteca, por exemplo, dará espaço a duas salas de aula.

A reportagem visitou a unidade de ensino na manhã desta segunda-feira (21). As quatro turmas de educação precoce — que totalizam 110 alunos de até 3 anos — foram as mais afetadas pela reforma, uma vez que as salas usadas para as aulas foram desocupadas, e paredes, demolidas. Essas meninas e meninos só devem voltar à escola a partir da última semana de abril. No caso dos 471 alunos do ensino regular, a previsão é de que as atividades sejam normalizadas após o feriado de Páscoa.

Segundo a vice-diretora da instituição, Luciene Simplício, a decisão pela suspensão das atividades do ensino regular partiu de um conselho formado por pais e responsáveis. “Eles viram que tem muito barulho e poeira. Inclusive estão trocando o encanamento. Acreditamos que, mesmo a secretaria dando o prazo de até 40 dias para a conclusão das obras internas, a partir de segunda (28), a escola esteja pronta para receber todos os alunos”, disse.

No entanto, na visita à instituição, a reportagem constatou que há muito a ser feito. E terminar as obras até a próxima segunda-feira será tarefa difícil, especialmente em uma semana que terá feriado. Os próprios pais de alunos duvidam que a tarefa seja concluída no tempo informado pela vice-diretora.

 

 

Reclamações
Enquanto paredes são demolidas e erguidas, pais de alunos sofrem sem ter onde deixar os filhos para irem trabalhar. A diarista Tatiane Borges, 35, tem uma filha de 3 anos matriculada na escola. A mãe conta que teve que largar o emprego porque não tinha quem cuidar da filha. “Deveriam ter feito essa obra durante as férias para não atrapalhar o ano letivo. Minha filha nasceu prematura e recebe o acompanhamento das professoras desde os 3 meses. Essa interrupção atrapalha demais, tanto do desenvolvimento dela quanto na rotina da família.”

Eliana Queiroz, 38 anos, está desemprega e também lamenta o período em que as obras foram iniciadas. “Fizemos uma reunião, pedimos para que a reforma fosse suspensa. O medo é que elas durem além do previsto. Não tem outra escola de educação infantil aqui. Como vamos fazer?”, questiona.

“Durante a reforma, houve um vazamento. Chegou a cair água no momento da reunião com os pais. Teve que abrir um buraco no teto em uma das salas de aula para resolver o problema. Nem mesmo os professores podem ficar naquele local. Com a reforma, também perdemos a sala de guardar materiais de educação física”, conta a professora Débora Ferreira.

Projeto
Por meio de nota, a Secretaria de Educação respondeu que as ações de reforma não foram feitas anteriormente porque “o projeto de arquitetura foi efetivado durante as férias escolares, e o recurso ainda não estava liberado”.

 

A secretaria também explicou que, para que a obra fosse iniciada, a pasta encaminhou uma arquiteta até a escola com o objetivo de coletar informações sobre o espaço físico e sua estrutura. Após a vistoria, as ações de reparo foram propostas.

Além da criação de mais duas salas, a direção da escola aguarda uma reforma de ampliação dos banheiros infantis e a construção de portas nos banheiros que, atualmente são divididos por meninos e meninas. As portas de aceso aos sanitários foram improvisadas com cortinas feitas pelos professores.

“A planta não permite a instalação de portas. Esse é um problema levantado constantemente pelos pais e que estamos tentando resolver”, pontuou a vice-diretora Luciene Simplício.

Estrutura
A estrutura da escola conta com dois andares, 11 salas, dois parques e um pátio coberto. A direção afirmou que, em 2015, foi avisada pela Regional de Ensino sobre a necessidade de abrigar mais crianças. A diretoria, então, sugeriu que fosse feita uma reforma. Engenheiros foram ao local e fizeram o projeto, aprovado pela Secretaria de Educação.

Duas salas, nas quais hoje funcionam a educação precoce e a brinquedoteca, foram divididas e transformadas em quatro salas, com 22,27 m² cada. O espaço para brinquedos será construído na parte externa, onde, atualmente, funciona um campinho de futebol. “A obra vai nos permitir acolher mais 150 crianças. As turmas que ocuparão essas salas são de 15 pessoas. O local acomoda confortavelmente esses alunos e professores”, afirmou Luciene.