“Quero o melhor para meu filho”, diz pai de aluno que desmaiou de fome
O menino de oito anos deve voltar para a residência da mãe, no Paranoá Parque, ainda nesta terça-feira (21/11)
atualizado
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Após desmaiar de fome na sala de aula, o menino de oito anos que estuda na Escola Classe 8 do Cruzeiro tenta retomar a rotina. Na casa do pai desde o episódio, a criança tem recebido atenção especial. “Agora, mesmo que ele não queira comer, está se alimentando melhor. Hoje, teve macarronada com carne e batata e ele comeu tudo”, disse o carregador Francisco Firmino da Silva, 31 anos. A criança deve voltar para a residência da mãe, no Paranoá Parque, ainda nesta terça-feira (21/11). “Quero o melhor para o meu filho”, afirmou ao Metrópoles.
“O susto passou. Meu filho tem se alimentado bem e fizemos vários exames para certificar que está tudo certo”. O homem garantiu que paga pensão à criança, mas explicou que por quatro vezes a mulher foi buscar o dinheiro, porém não o encontrou.
No dia do incidente, o garoto relatou uma forte dor no peito e disse que estava sem comer. A escola acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e chamou o pai. “Ele estava fraco e desfalecido, mas não chegou a desmaiar na nossa presença. A professora o trouxe nos braços, da sala de aula até a direção. Acionamos o Samu”, contou a diretora do colégio, Luciana Araújo.O pai disse que, segundo o menino, as refeições servidas na escola são, na maioria das vezes, biscoito com suco: “Ele me falou que já voltou para casa sentindo fome. E nem sempre tinha o que comer lá”. O carregador lembrou que ficou surpreso ao receber o telefonema da escola sobre o estado do filho: “Nem acreditei”.
Mingau de milho
Três dos cinco irmãos do menino também estudam na unidade. Eles relataram que tinham se alimentado em casa, mas o irmão teria recusado a refeição. À reportagem, o pai disse que naquele dia o menino contou que só comeu mingau de milho no café da manhã.
A mulher e as crianças moram no Paranoá Parque e, todos os dias, as crianças viajam cerca de 30 km para chegar à escola no Cruzeiro, já que não existem instituições de ensino públicas na região em que habitam. De acordo com o GDF, a família da criança está incluída em dois programas sociais: o Bolsa Família e o DF Sem Miséria, que totalizam R$ 920 mensais, conforme a apuração do Conselho Tutelar.
De acordo com o governo, o Centro de Referência em Assistência Social (Cras) acompanha Leidiana de Amorim, mãe do menino, desde março de 2014, quando morava em uma ocupação irregular no Setor Noroeste.
Quando as famílias foram retiradas do local, ela foi cadastrada no antigo programa Morar Bem e, em 23 de janeiro de 2017, contemplada com um apartamento no Residencial Paranoá Park. Segundo o Conselho Tutelar, Leidiana tem sete filhos – quatro estudam na Escola Classe 8 do Cruzeiro, um mora no Ceará e outros dois não estão na escola (6 e 3 anos).
No dia em que o menino passou mal na escola, Lediana tinha comida em casa, segundo o Conselho Tutelar, mas ele não quis comer.
Dossiê
O caso do menino levantou polêmica quanto aos serviços de educação prestados pelo GDF. Os problemas foram reforçados por um levantamento feito pelo Conselho de Direitos Humanos do DF, o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF) e pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, que enumera falhas no espaço físico, no transporte e na alimentação oferecidos aos alunos, bem como no acompanhamento pedagógico dos alunos.
Segundo o relatório, a vistoria encontrou pequena variedade de proteínas na alimentação, sendo ofertadas, na maioria dos casos, refeições com carne vermelha. O levantamento aponta ainda a utilização de comidas enlatadas como um fator preocupante, principalmente em relação a alimentos ricos em ferro.
Ainda de acordo com o levantamento, algumas crianças relataram que não têm se alimentado bem, pois na maioria dos dias o lanche oferecido é biscoito de leite. Por fim, o estudo aponta a falta de um cardápio diferenciado para crianças com restrições alimentares.