Por que o GDF acerta ao fazer a gestão compartilhada em escolas públicas
Pais e alunos aprovam a presença das forças de segurança nas unidades de ensino e projeto iniciado em fevereiro começa a ser ampliado
atualizado
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Os próximos dias serão decisivos para a qualidade do ensino de 5 mil estudantes de escolas públicas do Distrito Federal. No próximo sábado (17/08/2019), as comunidades de cinco instituições vão decidir se adotam ou não modelo de gestão compartilhada com a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e a Secretaria de Segurança Pública.
Por meio de votação realizada por professores, alunos, pais e orientadores, será decidido se a rotina desses jovens passa a ter as mesmas regras das quatro escolas que já adotaram o projeto-piloto. Desde fevereiro deste ano, essas unidades colhem resultados positivos, como a melhoria da segurança, da disciplina e do ambiente de trabalho, segundo pesquisas para aferir a percepção de quem vive essa realidade.
Na noite de sábado (10/08/2019), a primeira das seis novas escolhidas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para dar continuidade ao programa optou pela gestão compartilhada. O Centro de Ensino Fundamental (CED) Condomínio Estância III, em Planaltina, disse sim à mudança, com 59,69% dos votos a favor.
No próximo sábado (17/08/2019), será a vez de docentes, responsáveis e alunos do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 01 do Itapoã, do CEF 19 de Taguatinga, do CEF 407 de Samambaia, do Gisno, na Asa Norte, e do CEF 01 do Núcleo Bandeirante decidirem se vão adotar a iniciativa.
De acordo com o secretário de Educação do DF, Rafael Parente, a ampliação do programa ocorre devido aos resultados positivos e à vontade de melhorar o ensino. “É um programa que nos auxilia, de diversas formas, a oferecer educação de excelência para todos. Ninguém aprende com medo. Não podemos tolerar qualquer tipo de violência dentro das escolas”, ressaltou.
Com a anuência ao projeto, as unidades recebem a ajuda de 20 a 25 militares. Há ainda a necessidade de se adequar aos padrões previstos para uniforme, corte de cabelo e aparência. As forças de segurança não serão responsáveis por todas as aulas, como ocorre no Colégio Militar de Brasília. A parte pedagógica na rede pública de ensino continua sob responsabilidade de professores, diretores e orientadores.
A PM cuida da parte burocrática e da segurança, como o controle da entrada e de saída dos alunos, filas, monitoramento de pátios e corredores. Os militares trabalham ainda conceitos de ética, cidadania e segurança.
Para que as escolas participassem do processo, foram usados critérios estatísticos, como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o Índice de Desenvolvimento Humano (medido com base em indicadores de saúde, educação e renda) e o mapa da violência na região onde fica a escola.
Opinião da comunidade
O primeiro semestre de 2019 foi a prova de fogo para o GDF demonstrar que o programa inédito, bandeira da atual gestão, valeria a pena. O Metrópoles visitou escolas que já adotaram o modelo compartilhado e outras que ainda têm a esperança de serem contempladas.
Os pais acreditam que a melhoria da disciplina, da segurança, da assiduidade e do comportamento se reflete diretamente no desempenho dos estudantes, assim como ocorre no Colégio Militar de Brasília e no Colégio Militar Dom Pedro II — as escolas públicas do DF que mais aprovam calouros na Universidade de Brasília (UnB).
Em Planaltina, por exemplo, a cozinheira Ana Cleide Almeida, 37 anos, foi com seu filho, Carlos Vitor Costa Silva, 12, participar da votação no CED Estância III, no sábado (10/08/2019). Ela é a favor do modelo de gestão compartilhada. A maior motivação é ter mais disciplina e segurança dentro da escola. “Um dia meu filho levou um soco na cara e o diretor não viu. Onde a diretoria não puder atuar, os policiais estarão ali”, acredita.
Pesquisa
Pesquisa realizada pela Secretaria de Segurança Pública para aferir a receptividade da medida aponta que a maioria dos entrevistados aprova a gestão compartilhada. Segundo o balanço, divulgado em junho deste ano, quase 90% dos estudantes avaliaram o ambiente escolar com a presença dos militares como seguro (53,3%) ou muito seguro (36,5%). Nesse mesmo quesito, 88,8% dos professores e 98,8% dos servidores têm a mesma impressão.
De acordo com balanço da Secretaria de Educação, 55,21% dos professores entrevistados acreditam que o novo modelo “tornou as escolas um lugar melhor para se trabalhar”, e 75,6% dos educadores querem que os militares permaneçam.
Por que adotar?
Especialistas, pais e alunos ouvidos pelo Metrópoles apontaram ao menos cinco pontos que tornam a adoção do modelo de gestão compartilhada vantajoso.
Confira:
Aumento da aprendizagem: com mais disciplina, o tempo efetivo de aula aumenta. Os professores deixam de gastar tempo chamando a atenção ou “controlando” a turma para ministrarem conteúdo. Com maior tempo efetivo de aula, é possível debater os temas e testar os conhecimentos dos estudantes.
Mais segurança: pais, alunos e professores passam a sentir mais segurança no ambiente com policiais. A parceria com o Batalhão Escolar já existia, mas a gestão compartilhada aumentou a sensação de paz para aprender. De acordo com pesquisa da Secretaria de Segurança Pública, 90% de professores e alunos acreditam que a mudança no modelo tornou as instituições mais seguras. Sem brigas nas escolas e com a redução do tráfico de drogas dentro e nas imediações, os esforços são voltados para o aprendizado.
Melhoria da disciplina: a exigência de uniforme e horários rígidos para entrar e sair muda a rotina dos estudantes. Eles obtêm resultados melhores devido à otimização na qualidade do tempo de aprendizado. Os resultados das quatro escolas-piloto mostram que 75% dos professores querem que o programa continue.
Respeito à democracia: só adotam o novo modelo as escolas que passam por votação. É uma escolha da comunidade, não de um grupo específico. Assim, fica garantido o lugar de fala dos mais diversos entes participativos. A integração da escola com os pais é essencial para que seja um ambiente de continuidade do aprendizado.
Mudança no ambiente escolar: a limpeza e a reforma das escolas levam aos estudantes a sensação de organização e de qualidade, aumentando a autoestima dos alunos das escolas públicas. A vontade de assistir às aulas é um dos fatores de redução da distorção idade/série, quando um estudante está com idade acima da do ano que deveria cursar.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de alunos com idade acima da recomendada para a série de ensino na rede pública é quatro vezes maior em relação às escolas privadas no Brasil.
Cartilhas explicativas
A ampliação da gestão compartilhada, primeiramente aplicada no CED 1 da Estrutural; no CED 308 do Recanto das Emas; no CED 7 de Ceilândia; e no CED 3 de Sobradinho, tem sido motivo de discussão nas novas seis escolas escolhidas para adotar o modelo.
Antes das votações, são feitas discussões dentro das escolas e, posteriormente, realizadas assembleias para debater o assunto. Uma das ocasiões mais polêmicas até o momento foi a que ocorreu no Colégio Gisno, localizado na 907 Norte. Na voltas às aulas deste segundo semestre, em 29 de julho, o diretor da unidade autorizou reunião de integrantes do Sindicato dos Professores (Sinpro) com alunos durante o horário letivo.
Os estudantes teriam perdido tempo de aula para participar das discussões, que visavam desconstruir o modelo. A medida não agradou à Secretaria de Educação. Foi percebido ainda um movimento de informações desencontradas sobre o projeto. Por isso, a pasta elaborou uma cartilha com o título: Verdades e Mentiras Sobre a Gestão Compartilhadas nas Escolas. O documento começou a ser distribuído nesse sábado (10/08/2019).
Na parte das “verdades”, é apresentado aos leitores que a individualidade dos alunos é mantida, mesmo com a mudança nas regras disciplinares. Na exposição do título “mentiras”, é desconstruída a visão de que a Polícia Militar age com truculência. “Pelo contrário, nas quatro escolas onde o projeto foi implementado, pais, estudantes e professores convivem em total harmonia”, diz o fôlder.
Veja:
PM na escola
Desde 11 de fevereiro, quando começou o ano letivo, a PM passou a atuar diariamente em quatro unidades de ensino. Conforme noticiado pelo Metrópoles pouco menos de um mês após a implementação da novidade, a comunidade escolar já sentia os efeitos e elogiava as mudanças.
Em fevereiro, a Promotoria de Educação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) manifestou-se pela legalidade do projeto-piloto de gestão compartilhada entre a Polícia Militar e a Secretaria de Educação.
Expansão do projeto
Desde que o início da gestão compartilhada foi anunciado, o governo recebeu várias solicitações de unidades públicas para que fossem beneficiadas com a medida.
Contudo, o pedido das instituições de ensino para conhecer o modelo e debater com a comunidade escolar não é uma garantia de que elas serão escolhidas para participar do projeto. Segundo a Secretaria de Educação, um estudo identificou 175 colégios com os piores desempenhos da rede. As novas seis beneficiadas, portanto, estão entre as chamadas escolas prioritárias.