Pais se queixam da separação de alunos após interdição de escola
GDF havia prometido alugar espaço para reunir estudantes e construir nova unidade em julho. Mas turmas da Escola Classe 52 seguem separadas
atualizado
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Os portões da Escola Classe 52 de Taguatinga foram fechados em julho, após a Justiça determinar a interdição e a reconstrução da unidade. Na ocasião, a Secretaria de Educação transferiu, emergencialmente, alunos e professores para dois centros educacionais na mesma cidade. O Governo do Distrito Federal (GDF) assumiu o compromisso de providenciar outro espaço para reunir novamente a comunidade escolar. Entretanto, até outubro, nenhuma obra havia sido feita.
O Metrópoles noticiou o drama dos estudantes na reportagem “Escolas públicas no DF fecham as portas por falta de investimentos“, em 28 de julho. Segundo o diretor do colégio, Manoel de Sousa Rocha, a separação de estudantes e docentes compromete a educação e a segurança dos 343 alunos.
“O governo prometeu soluções e não tomou providências até agora. Nossas turmas são de crianças de 8, 12 anos. No CED 7 [para onde parte deles foi transferido], estudam adolescentes de 16, 17, 18 anos. São idades muito diferentes. As crianças não podem ir sozinhas ao banheiro com os jovens. Um adulto precisa acompanhá-las sempre”, desabafou o diretor.
O desenvolvimento pedagógico também está em xeque. A Escola Classe 52 sempre promoveu atividades para melhorar o ensino, além de reuniões com os pais. Mas, agora, não há espaço físico. A direção suspendeu a amostra cultural deste ano, por exemplo.
A unidade conseguiu boas avaliações no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Enquanto a nota média é de 5,5, o colégio alcançava até 5,8. Nesse contexto, professores temem a queda de rendimento e lamentam atrapalhar o desempenho das outras escolas.
“A princípio, o governo e a secretaria deveriam alugar um espaço para unificar a escola. A obra demora, não dá para fugir disso. Mas, nessa situação, não é possível esperar por dois anos”, assinalou Manoel Rocha. De acordo com ele, pais e mães pensam em deixar a escola, enquanto professores avaliam pedidos de transferência.
Restos de merenda
O Metrópoles conversou com a família de dois estudantes que foram transferidos da Escola Classe 52. Para preservar a imagem das crianças, nomes não serão divulgados. Segundo um dos alunos, as turmas só conseguem ir ao banheiro no intervalo do lanche e no final da aula, com as professoras.
“O problema é que, se você estiver apertado mesmo, mesmo, você não pode ir para o banheiro. Você tem que esperar o horário”, criticou. E os problemas chegam até a merenda.
“Quando chega a hora do recreio, os meninos grandes vão para o refeitório e a gente acaba não podendo comer. Come o restinho que deixam para nós. Não sobra melancia”, afirmou. “Não estou gostando porque eu tenho que comer restos de melão”, acrescentou. No caso de galinhadas e sucos, as turmas do 52 também precisam saciar fome e sede com sobras e os últimos copos.
“Eu não estou gostando muito disso porque a gente tem que comer o resto. E o que sobra nem está tão bom assim. Uma vez, eu fui comer um melão e estava com um cabelo dentro”, lamentou. O irmão do estudante viveu outro drama. Recentemente, foi agredido pelos colegas da escola provisória.
Revolta
A mãe dos meninos está revoltada. “É absurdo colocarem crianças pequenas com o ensino médio. Essa convivência não é saudável”, cravou. A revolta aumenta por outro fato. Durante a mudança de julho, o material pedagógico dos estudantes foi perdido, sem que o GDF se manifestasse.
A separação física também afetou as amizades dos estudantes. A falta de obras no terreno da Escola 52 também preocupa, pois existe a chance de o espaço ser tomado pelo crime e o consumo de drogas.
“Essa situação é uma loucura. A culpa não é das escolas: é do governo, da secretaria. E a Escola 52 era ótima. Apesar dos problemas, era intimista, uma família. Dormi na fila para matricular um de meus filhos”, comentou a mãe. Caso a situação não seja resolvida, os responsáveis consideram fazer manifestações e até mesmo ocupar o antigo terreno do colégio agora com portões fechados.
Veja imagens da Escola Classe 52 de Taguatinga registradas na quarta-feira (23/10/2019):
Grave
Do ponto vista do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), a situação da Escola Classe 52 é grave. “O governo vem deixando de investir recursos existentes na Educação e quem sofre são alunos e professores que, diariamente, estudam e trabalham em locais insalubres, sem ventilação adequada e salas de aulas superlotadas”, disparou o diretor, Samuel Fernandes.
Segundo o sindicalista, o governo, além de não investir, descumpre ordem judicial de início imediato da reconstrução do colégio. A sentença determina multa para o governador e o secretário de Educação.
Erguida provisoriamente há 28 anos, a Escola Classe 52 deveria ter passado por reforma em governos passados. A unidade apresentava fragilidades na acessibilidade e nos itens de prevenção e combate a incêndios. Porém, desde a criação, nada foi feito. Para Samuel Fernandes, inicialmente, a prioridade é o aluguel de um espaço provisório para reunificar as turmas e frear os prejuízos pedagógicos sofridos pelas crianças. Na sequência, vem o início das obras.
Confira o andamento da ordem judicial:
Outro lado
Segundo a Secretaria de Educação, foi publicado no Diário Oficial do DF (DODF) dessa quarta-feira (23/10/2019) chamamento público para locação de imóvel de 700 metros quadrados em Taguatinga. “O local deverá atender estudantes oriundos da Escola Classe 52 de Taguatinga. As propostas deverão ser entregues até o dia 8 de novembro de 2019 e a SEEDF escolherá a proposta que melhor atender às necessidades operacionais”, afirmou a pasta, por nota.
De acordo com a secretaria, a reconstrução da escola é objeto da Concorrência nº 01/2019, no valor de R$ 9.357.214,69, de agosto deste ano. “No entanto, o Tribunal de Contas do Distrito Federal paralisou a licitação para que fossem realizadas adequações no Projeto Básico”, justificou. As adequações foram finalizadas. O processo tramita internamente para readequações de orçamento.
“Todos os estudantes foram realocados nas unidades da melhor forma possível. A situação é transitória”, prometeu a pasta. Neste contexto, a secretaria também destacou que oferece transporte gratuito para os alunos.
A direção da Escola Classe 52 nega que os alunos estejam comendo restos da merenda. Segundo o diretor, os horários de alimentação são separados entre os colégios. Os estudantes mais velhos fazem a refeição no primeiro momento e depois os menores. No entanto, de acordo com a diretoria, os alimentos são separados e não são servidos restos para as crianças. De qualquer forma, a divisão de horários para alimentação é outro problema no drama da escola separada.