Ex-morador de rua, jovem se formará em direito. E precisa da sua ajuda
Wallisson viveu na Rodoviária por quatro anos. Voltou a estudar e hoje cursa direito. O sonho agora é conseguir pagar o baile de formatura
atualizado
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Quem vê Walisson dos Reis Pereira de terno e camisa social no ponto de ônibus lendo um livro de direito logo percebe mais um entre os universitários à espera da condução na W3, perto da Faculdade Upis, na 712/912 Sul. A diferença é que, para o rapaz de 30 anos, a vida sempre foi muito mais complicada. Se hoje o paletó incomoda sob o calor de Brasília, teve épocas em que o dia a dia do futuro advogado era marcado pela falta de um cobertor e pelas noites ao relento, sobre o chão frio da Rodoviária do Plano Piloto.
“Eu cresci com meus avós em uma fazenda no interior de Minas Gerais. Quando fiz 18 anos, me mudei para Brasília, pois queria estudar e trabalhar. Vim morar com o meu pai, mas ele me batia muito, me agredia sem motivo. Acabei fugindo de casa em 2008 e indo morar na Rodoviária do Plano Piloto. Passei muito frio e comi restos de comida que as pessoas deixavam para trás. Foi assim durante uns quatro anos”, lembra.
Naquele tempo, o que o ajudou a não se envolver com o crime ou as drogas foi o antigo sonho de infância: a vontade de cursar direito. Certo dia, quando Walisson ainda vivia nas ruas, um senhor resolveu pagar um lanche para ele, e os dois engataram uma conversa. O jovem contou que sonhava em voltar a estudar e havia procurado uma escola para terminar o ensino médio, mas como não tinha residência fixa, não conseguia ser matriculado.Sensibilizado pelo relato, o homem tirou uma conta de luz do bolso e entregou para Walisson, que, no mesmo dia, se matriculou com o comprovante de endereço do desconhecido em um Centro de Educação de Jovens e Adultos na Asa Sul.
De volta aos estudos em 2012, o rapaz ia para a escola pela manhã. Depois, passava a tarde na biblioteca. À noite, voltava para a Rodoviária, onde dormia e pedia dinheiro. No mesmo ano, concluiu o ensino médio, continuou estudando na biblioteca da escola e conseguiu um bico de entregador de panfleto. Passou a ganhar R$ 20 por dia e, assim, alugou um quartinho na casa de uma senhora em Samambaia.
Das ruas ao curso de direito
Apesar da enorme superação, o rapaz ainda não tinha alcançado outro objetivo: faltava entrar na faculdade. Em 2013, Walisson passou a estudar mais e prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com a boa nota, conseguiu vaga em uma universidade particular e o financiamento do curso por meio do programa do governo federal, o Fies. Atualmente, ele está no oitavo semestre e, além de cursar direito, é estagiário da Casa Civil, no Governo do Distrito Federal (GDF).
Hoje, o universitário ganha R$ 760 no estágio. Desse valor, R$ 500 são usados para pagar o aluguel da quitinete onde vive, em Samambaia. O que sobra vai para a alimentação, o transporte e o material da faculdade. Para se manter sempre bem vestido, conta com a ajuda de amigos e colegas, que sempre doam algum terno, gravata e pares de sapato.
Mesmo após superar tantos obstáculos, Walisson não se esquece do tempo em que vivia de esmolas na Rodoviária do Plano Piloto. “Depois que comecei a ganhar algum dinheiro, sempre vou lá na Rodoviária e deixo uns cobertores e alimentos para quem ainda está lá.”
Eu quero me formar em direito para ajudar outras crianças que são vítimas de injustiças. Quem sabe ser um defensor público? Quero que minha história seja exemplo para as outras pessoas. Não quero que ninguém me veja como o coitadinho, pelo contrário. Quero mostrar que, se você deseja algo, precisa ir à luta
Walisson dos Reis Pereira, estudante de direito
Sonho da formatura
Entre tantos desafios, Walisson tem mais um pela frente — juntar dinheiro para realizar o sonho de participar da festa de formatura. O jovem concluirá a faculdade no fim do ano que vem, mas a turma já está contratando os serviços para a cerimônia. Segundo ele, entre baile, colação, aula da saudade, fotos, roupas e demais despesas, a fatura fica em torno de R$ 6 mil.