Ex-morador de rua consegue aprovação no IFB, perde prazo e batalha para continuar os estudos
Plínio do Carmo passou no curso de gestão pública no Instituto Federal de Brasília (IFB) , mas perdeu prazo de inscrição. Jovem, agora, tenta curso técnico e é um dos participantes do projeto da revista brasiliense Traços
atualizado
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O entusiasmo é a marca registrada de Plínio do Carmo, 25 anos. Mesmo com muitas dificuldades, o baiano, que saiu das favelas de Salvador, veio a Brasília tentar uma vida melhor. Em 2014, depois de concluir o ensino médio pela Educação de Jovens e Adultos (EJA), ele, encorajado pela diretora da escola, decidiu prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Caseiro, servente, catador de lixo… No mesmo período em que fez a prova, Plínio passou por todos esses ofícios, mas não conseguiu segurar o emprego e o aluguel. A solução foi morar na rua. Sem endereço fixo para receber correspondência ou acesso à internet, ele só descobriu que passou no curso que queria depois do término das inscrições.
Por meio do projeto da Revista Traços, publicação brasiliense comercializada por moradores de rua, Plínio conseguiu ajuda para criar um abaixo-assinado online na plataforma Change.org pedindo que o Instituto Federal de Brasília (IFB), instituição na qual foi aprovado, permitisse o seu ingresso no curso de gestão pública. “Desistir? Jamais. Vim para Brasília com a promessa de garantir algo melhor para os meus pais”, comenta.
Na página da petição, a população do Distrito Federal deixou comentários solidários. “Acho que o Plínio merece a chance de mudar de vida”, postou um internauta. Apesar dos quase 500 apoiadores, o IFB informou que não será possível atender o pedido do abaixo-assinado.
Por ser uma instituição pública, o IFB deve seguir princípios básicos da administração pública como a impessoalidade e legalidade em suas ações. Plínio se inscreveu para o processo seletivo para ingresso no 2º semestre de 2015 e, segundo o edital, é válido apenas para o preenchimento das vagas ofertadas para o semestre a que ele se refere
Nota do IFB
O comunicado do IFB afirma ainda que “não quer que o sonho de Plínio seja interrompido. A instituição está de portas abertas para recebê-lo. Inclusive, o centro educacional está com matrículas abertas, que estão sendo preenchidas por ordem de chegada, em cursos técnicos e de qualificação”. Enquanto o próximo processo seletivo do Enem não chega, o jovem seguirá a recomendação e fará o curso de serviço público. “Também quero tentar uma formação na área de mecânica no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)”, acrescenta.
“O Plínio é muito inteligente e esforçado. O nosso objetivo agora é ajudá-lo a dar um pontapé na carreira”, esclarece a produtora cultural da revista Traços, Chaia Dechen, 32. Ela foi a responsável por orientar o parceiro do projeto a criar a petição na plataforma e, agora, deve ajudá-lo a ingressar em uma agência de modelos.Com brilho nos olhos, o ex-morador de rua comemora as conquistas após começar a vender os exemplares da Traços: “Saí da rua, aluguei uma quitinete em São Sebastião, paguei todas as minhas contas e ainda consegui enviar dinheiro para a minha família, em Salvador, encomendar um bolinho de aniversário para o meu sobrinho”. Plínio mostra a alegria de suas conquistas em fotos do celular. Ele faz questão de mostrar na tela do aparelho imagens da criança e dos parentes, e não se cansa de dizer: “Continuarei lutando pelos meus sonhos”.
Minutos antes de se despedir da reportagem, Plínio se preocupa: “Moça, não se esqueça de mandar o link da reportagem e as fotos. Acho que o meu depoimento pode encorajar muita gente”.
Change.org
A plataforma de abaixo-assinados conta com quase 130 milhões de usuários em 196 países. Mais de 50 milhões de pessoas já assinaram pelo menos uma petição vitoriosa .É uma ferramenta de mobilização aberta e qualquer pessoa ou grupo pode criar um documento e lançar uma campanha.