Alunos da UnB relatam problemas na Casa do Estudante um ano após reforma milionária
Infiltrações e rachaduras estão entre os transtornos enfrentados pelos universitários. Obras custaram, em média, R$ 100 mil por apartamento
atualizado
Compartilhar notícia
Imagine o que você faria se tivesse R$ 100 mil para reformar um apartamento de 60 metros quadrados. Provavelmente, o acabamento seria de primeira qualidade, as instalações elétricas e hidráulicas estariam impecáveis e, de repente, sobraria dinheiro para comprar eletrodomésticos modernos, certo? Na Universidade de Brasília (UnB), a realidade é diferente.
A instituição gastou R$ 9 milhões em melhorias nos 90 apartamentos dos dois prédios da Casa do Estudante Universitário (CEU), onde, atualmente, moram 280 alunos. As obras, iniciadas em 2011, foram concluídas em setembro de 2014, com inauguração oficial três meses depois. Pouco mais de um ano após a intervenção, sobram problemas.
O Metrópoles visitou 35 apartamentos — dos 75 habitados hoje — e constatou falhas em ao menos 18. A lista de contratempos é grande: rachaduras, vazamentos, infiltrações, mofo, problemas elétricos, piso solto, eletrodomésticos quebrados, armários com defeitos… Até o pilotis de um dos blocos não ficou ileso. Uma infiltração atingiu o teto do Bloco A e parte dele despencou.Banho frio
Na lista de reclamações, uma é frequente: banhos gelados. “Nosso chuveiro está quebrado desde que eu me mudei para cá, em maio. Fizemos vários pedidos para a administração fazer o conserto. Os funcionários chegam, olham, mas nunca resolvem o problema. Tomamos banho frio”, diz Daniel Antônio Leonço, 19 anos, aluno do curso de filosofia. O chuveiro quebrado não é exclusividade do apartamento de Leonço. Outros estudantes também têm dor de cabeça com o equipamento.
Gustavo Peixoto, 21 anos, estuda comunicação organizacional e conta que o chuveiro do apartamento dele simplesmente caiu há alguns meses. Até o dia da visita do Metrópoles, em 27 de outubro, o aparelho não havia sido reparado. “Tomamos banho com a água gelada que cai da estrutura que sobrou”, reclama. Além disso, ele e os outros universitários que dividem a residência salientam que ficaram duas semanas sem água: “Tínhamos que usar um balde para poder dar a descarga”.
Mofo
No rol de queixas, o mofo é um item constante. Sem ventilação, os cômodos que abrigam o chuveiro e o vaso sanitário frequentemente apresentam acúmulo de fungos. Entre os universitários entrevistados, alguns ainda citaram que desenvolveram alergia por causa do problema. “Aqui tinha tanto mofo que a direção teve que pintar o teto do nosso banheiro”, explica a estudante de letras Sanny Mayara Carvalho, 20 anos. O “jeitinho” adotado pela administração da Casa, aliás, tem sido muito empregado para solucionar o transtorno paliativamente.
Piso
As estudantes Karine Dias, 22 anos, e Ingrid Barbosa, 23 — que cursam engenharia elétrica e letras, respectivamente —, relatam que várias partes do piso se soltaram, principalmente nos locais embaixo dos móveis. O material colocado no chão dificulta bastante a limpeza das residências, conforme relato das alunas.
A estrutura é muito frágil. Quando me mudei, me disseram que, se a gente pagasse mensalmente R$ 60 para os funcionários responsáveis pela limpeza do prédio, eles poderiam usar uma máquina que faria o serviço sem causar danos ao piso. Mas isso é inviável
Wellington Moura, 23, do curso de filosofia, também queixou-se das condições do piso
Infiltrações
A assessora do Decanato de Assuntos Comunitários, Carolina Cássia Batista, informou que uma perícia foi feita nos dois blocos da CEU. Segundo ela, foram encontradas infiltrações que serão sanadas ainda este ano. Para isso, a Prefeitura do Campus (PRC) iniciará uma parte do processo de impermeabilização da laje dos edifícios, mas, ainda de acordo com a assessora, não é possível determinar prazo para o fim das obras. “As infiltrações não são problemas pós-moradia. Elas podem ser resultado de algo que ocorreu durante as obras”, justifica Carolina.
Em relação aos chuveiros, o órgão esclareceu que o transtorno está dentro do “previsível”, e que pode ocorrer em qualquer residência. O decanato diz que o mais importante nesses casos é o estudante comunicar o problema imediatamente à administração da CEU.
Elevadores
Além das questões estruturais, os alunos reclamam de quedas constantes da energia e da internet, além da falta d’água. O funcionamento dos elevadores também foi outro ponto de reclamação levantado pelos universitários. Eles contam que os equipamentos só são ligados em caso de emergência.
Nos diferentes dias e horários em que o Metrópoles visitou a CEU, todos estavam desligados. Um dos porteiros informou que, se um estudante quiser utilizar os elevadores, basta contatar um funcionário.
Há quem considere as queixas um exagero. Para a estudante de enfermagem Gabriela Alencar, 22 anos, os problemas relatados são “frescura de gente que não tem o que estudar”.
Previsão equivocada
A Casa do Estudante Universitário foi desocupada em 2011 para o início das reformas. A previsão inicial era de que a atividade fosse concluída em oito meses, ao custo inicial estimado em R$ 2,2 milhões. No entanto, após uma série de adiamentos — e de aumentos exorbitantes no valor do empreendimento —, as unidades voltaram a ser habitadas apenas em setembro do ano passado.
Segundo informações publicadas pela UnB em 2 de dezembro de 2014, todos os apartamentos “ganharam bancadas em granito, e os equipamentos de infraestrutura (banheiros, pias, tanques e esquadrias) foram renovados. As unidades são mobiliadas com camas, sofá, televisão, escrivaninhas, cadeiras, fogão, geladeira, micro-ondas e filtros de parede. Dois apartamentos cumprem requisitos mundiais de acessibilidade para atender pessoas com deficiência”.
Ao todo, a CEU, construída em 1973, tem capacidade para acomodar 360 alunos, e a lotação máxima deve ser atingida ainda neste semestre. O edital para a moradia estudantil já está disponível na página da UnB.
O local atende a alunos em situação de vulnerabilidade socioeconômica, com renda familiar mensal de até um salário mínimo e meio per capita, regularmente matriculados em disciplinas dos cursos presenciais de graduação e cujas famílias não possuam imóveis no DF.